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Mesquita: meta de inflação está acima de pares no exterior e eleva riscos

Altamiro Silva Júnior e Vinicius Neder

Rio

25/05/2018 17h12

O economista-chefe do Itaú Unibanco e ex-diretor de política econômica do Banco Central, Mario Mesquita, defendeu a autonomia da autoridade monetária, a redução das taxas de compulsórios e da meta de inflação para níveis mais próximos de outros países, que têm referenciais entre 2% e 3%, enquanto o Brasil está em 4% para 2020. "A manutenção da meta em patamar elevado só tem gerado inflação também elevada", disse ele durante o XX Seminário de Metas para a Inflação, promovido pelo BC no Rio nesta sexta-feira.

"Metas elevadas têm contribuído para aumentar a incerteza inflacionária e o risco macroeconômico, deprimindo, ao invés de animar, a intenção de investir", disse ele. Mesquita ressaltou que o Brasil tem problemas fiscais, mas estes precisam ser resolvidos pelo Congresso e pelas autoridades fiscais e não com a aceitação de inflação mais alta.

"Mesmo com as reduções das metas anunciadas desde 2016, a meta de 4% para 2020 segue mais elevada que a perseguida pelas economias maduras e mesmo emergentes", disse Mesquita, citando que no Chile e México o referencial é de 3% e no Peru, de 2%. "É melhor ficar com inflação acima de uma meta ambiciosa do que de uma meta pouco ambiciosa, o que infelizmente tem sido nosso histórico."

Mesquita ressaltou que, desde 2016, a relação do BC com o governo e a equipe econômica tem sido "harmoniosa", o que, pelo lado negativo, coloca o tema da independência da autoridade monetária para segundo plano. Para ele, seria importante usar essa "janela de oportunidade" para justamente tentar aprovar essa medida. "O Brasil segue destoando da maioria dos países que possuem meta de inflação por não ter autonomia 'de jure'. Já passou a hora de avançar nessa área".

O ex-diretor do BC disse que o BC tem repelido pressões e mantido a política monetária voltada para manter a inflação dentro da meta. O corte de juros desde 2016, disse ele, ocorreu de forma "sustentável" e vem contribuindo para a retomada da atividade sem ocasionar desancoragem das expectativas de inflação.

Mesquita ficou no cargo de diretor do BC entre 2007 e 2010 e disse que o período foi marcado por várias crises, principalmente a financeira mundial de 2008. Depois da quebra do banco Lehman Brothers, Mesquita ressaltou que houve forte redução da liquidez internacional, aumento da aversão ao risco e depreciação do real.

"Cabia ao BC prover liquidez em dólar e real ao mercado", contou ao falar de sua experiência no BC. Vender reservas internacionais e buscar outras soluções, como o acordo de US$ 30 bilhões em swap de moedas com o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos).

O resultado das política adotadas pelo governo foi a retomada da economia em ritmo forte, com expansão acelerada do crédito, sobretudo para pessoa física, observou Mesquita. Para ele, um fator positivo importante foi que a economia da China, compradora de commodities do Brasil, estava ganhando fôlego naquele momento.

Mesquita participou de um painel do seminário do BC que reuniu seis ex-diretores de política econômica para falar dos 20 anos do regime de metas de inflação no Brasil.