Executivos nos EUA temem que conflitos comerciais possam arranhar o crescimento
A aprovação de cortes de impostos nos Estados Unidos eliminou incertezas significantes e fortaleceu o lucro de muitas companhias. Dados econômicos de Washington a Pequim têm sido fortes, enquanto se estima que o crescimento global escale 3,9% este ano, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Gastos de capital por empresas listadas no índice acionário S&P 500 avançaram cerca de 24%, para US$ 166 bilhões, durante os primeiros três meses do ano em relação a 2017, de acordo com dados do Credit Suisse.
"Esse é um ambiente de negócios muito amigável em que se está operando, melhor que no passado recente", disse o chefe financeiro do Wells Fargo, John Shrewsberry.
Projeções de prazo mais longo são menos otimistas. O FMI alerta sobre como o estímulo dos cortes de impostos nos EUA tende a se esvair a partir de 2019. Economistas ouvidos pelo Wall Street Journal se preocupam que uma recessão possa se iniciar em 2020 à medida que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) eleva as taxas de juros nos EUA.
Alguns executivos-chefes de finanças (CFOs, na sigla em inglês) comentam que uma reviravolta negativa poderia até já ter ocorrido, em meio a sinais de aperto no crédito e nos mercados de trabalho. E os espectros de tensões comerciais e turbulência política do México a Londres a Washington estão assombrando até as perspectivas corporativas mais róseas.
O amplamente citado Índice Global de Incerteza de Política Econômica disparou 64% entre janeiro e maio, alcançando o nível mais alto em um ano ainda enquanto o boom de gastos de capital estava em curso.
O professor de Economia na Universidade Stanford e um dos criadores do índice Nick Bloom atribui a sua disparada à postura mais dura do presidente americano, Donald Trump, na frente comercial, dizendo que o líder "fala sério ao introduzir tarifas e se afastar" do G-7, grupo das sete maiores economias do mundo.
Washington está aplicando tarifas sobre dezenas de bilhões de dólares em produtos chineses a partir de julho, às quais a China já anunciou responderá com barreiras retaliatórias. O governo Trump está também buscando reformular o Tratado norte-americano de Livre Comércio (Nafta, na sigla em inglês).
Os conflitos comerciais provocaram hesitação em empresas, avalia o economista-chefe da Moody's Analytics, Mark Zandi. Para ele, companhias estão claramente expandindo saídas de capital, mas o analista acredita que o crescimento do investimento poderi aser maior sem as tensões comerciais.
"Acho que (as disputas comerciais) estão causando um impacto sobre decisões de investimento e contratação", opina Zandi. "Negócios não estão recuando. Mas eles não estão se engajando com toda força. Crescimento de gastos com investimento é bom. Mas acho que essa expansão seria ainda mais forte se não fosse essa nuvem criada por essas tensões no comércio."
A incerteza cercando tarifas e comércio tanto nos EUA quanto globalmente forçou o CFO da fabricante de ferramentas Stanley Black & Decker, Donald Allan, a dobrar a quantidade de tempo gasto em planejamento de contingências.
"Estou gastando pelo menos 40% do meu tempo com esse tipo de coisa, senão mais", reclama Allan, acrescentando que ele frequentemente consulta uma variedade de especialistas externos, de bancos de investimento a lobistas a associações da indústria, para obter um leque de perspectivas.
O objetivo é assegurar que a empresa está "gerenciando todos os riscos efetivamente mas, também, que não estamos exagerando", explica o CFO.
Para a Verizon, a preocupação ligada a fricções no comércio foi em relação a qualquer impacto possível que ela pudesse ter na cadeia de produção da companhia, segundo o CFO Matthew Ellis. O escopo de qualquer de qualquer perturbação da produção provavelmente será limitada, já que a gigante de telecomunicações está focada nos EUA, ainda que a empresa importe alguns equipamentos do exterior.
"Você faz o melhor para garantir que tenha planos de contingência", diz Ellis. "Você reflete: 'Estou dependendo de um fornecedor em particular, de um desenlace?'"
Outras companhias também estão se preparando para um potencial declínio no sentimento econômico. A empresa de TV e mídia Discovery planeja ter dinheiro em caixa agora que completou a aquisição da Scripps Networks Interactive em março. "A nova Discovery é uma máquina de fluxo de caixa livre", afirmou o CFO da empresa, Gunnar Wiedenfels, na quarta-feira. Ele projeta que o caixa que restante de operações, incluindo gastos de capital, alcançará US$ 2,3 bilhões este ano.
"Ter fluxo de caixa livre nesses tempos de incerteza nos dá muita flexibilidade", disse Wiedenfels.
As conversas de alto escalão de Trump com a Coreia do Norte, o impacto ainda em desdobramento do Brexit e turbulências no Oriente Médio e na Venezuela estão entre os estresses geopolíticos adicionais demandando atenção de chefes financeiros.
Em meio a esse pano de fundo, de acordo com o economista-chefe para os EUA na Oxford Economics, Gregory Daco, companhias têm ainda a preocupação mais previsível de uma economia que está "razoavelmente avançada em um ciclo econômico".
CFOs estão cada vez mais receosos com custos ascendentes associados ao lançamento e à distribuição de um produto ou serviço - como com gastos trabalhistas, de transporte e energia, afirma Daco.
"Até que a poeira baixe, temos que definitivamente dar um passo atrás e esperar que isso aconteça", conclui Shrewsberry, do Wells Fargo. (Dow Jones Newswires)
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