Freada global quebra ritmo de exportação
Em 2017 e 2018, o País aumentou 17,6% e 10,2%, respectivamente, os embarques. Nesses anos, além de vir de um período de vendas externas fracas, o que favoreceu a base de comparação, o Brasil se beneficiou da desvalorização do real, do crescimento da economia mundial e, no ano passado, da guerra comercial. O embate entre as duas maiores economias do mundo fez com que o Brasil registrasse recorde na venda de soja para a China, que preteriu a produção americana.
Agora, com o cenário se invertendo quase completamente, as estimativas não são animadoras. O Itaú projeta estabilidade nas exportações na comparação com 2018 e o Santander, alta de 3,4%. Ambos consideram o valor dos embarques em dólares, e não o volume. A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), mais pessimista, prevê uma retração de 9% e a consultoria Tendências, que chegou a projetar um incremento de 4,6%, revisou a alta para 1,7%. "Os números do primeiro bimestre decepcionaram um pouco e o risco (de rever a projeção novamente) é para o lado negativo. O quadro é menos benigno do que se esperava", disse Silvio Campos Neto, economista da Tendências. Em janeiro e fevereiro, a alta das exportações foi de 1,4%, mas os economistas ressaltam que o comércio de plataformas de petróleo no período distorce os dados e dificulta uma análise.
O Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV, também reduziu as projeções. Em janeiro, a estimativa era de US$ 240 bilhões - mesmo valor do ano passado. Agora, prevê entre US$ 5 bilhões e US$ 6 bilhões menos. O economista Livio Ribeiro, do instituto, afirma, porém, que, com a desaceleração global, os preços das commodities cairão, o que poderá resultar em um aumento da demanda e, consequentemente, das exportações brasileiras em volume.
Também do Ibre, a economista Lia Pereira afirma que o maior risco para as vendas internacionais brasileiras está no apaziguamento da guerra entre EUA e China. "A agropecuária e a soja sustentaram as exportações em 2018. Não necessariamente isso vai continuar. A China está oferecendo tirar barreiras dos EUA."
Lia explica que, com a suspensão da compra de soja dos americanos, os chineses elevaram as importações brasileiras do produto em 35% em 2018, absorvendo 82% das nossas exportações. Nas negociações atuais entre os dois países, explica a economista, Pequim poderá conceder preferência à produção americana, não apenas na soja, mas também no frango. Hoje, o frango americano é proibido na China.
Parceiros
Economista do Santander, Jankiel Santos destaca que, além da China, os principais parceiros comerciais do Brasil estão "sofrendo", o que deverá resultar em um freio no ritmo de expansão das importações brasileiras. "A atividade nos Estados Unidos está se acomodando, e a Argentina não deve melhorar tão rápido."
O Itaú projeta que a economia global cresça 3,4% neste ano, ante uma estimativa de 3,8% em 2018. A expansão na China deve passar de 6,6%, no ano passado, para 6,1% em 2019, causando impacto negativo no preço das commodities. O presidente da AEB, José Augusto de Castro, lembra que a queda nas commodities, além de prejudicar o Brasil, afeta toda a América do Sul, que também é produtora desses itens. "Esses países compram 40% das exportações manufaturadas brasileiras. Se eles são prejudicados, importam menos do Brasil, que acaba sendo duplamente atingido (nas commodities e nas manufaturas)."
Castro conta que, desde 2014, as vendas de manufaturados brasileiros estão estagnadas entre 36% e 38% do total das exportações. A dependência das commodities deixa o País sem controle sobre seu comércio internacional, explica ele. "O panorama depende mais do mundo e menos do Brasil." No ano passado, por exemplo, uma seca sem precedentes dizimou a produção de soja argentina, deixando o Brasil sem concorrentes no primeiro semestre do ano, época da safra na região, e impulsionando os embarques.
Segundo Castro, se as reformas da Previdência e tributária forem aprovadas, esse cenário de dependência completa do cenário internacional pode começar a mudar a partir de 2020, com um aumento da produtividade e, consequentemente, da comercialização de manufaturados. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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