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'Racha' entre lojas de shopping cria grupo dissidente

Márcia De Chiara

São Paulo

01/04/2019 12h55

A fraca recuperação das vendas do varejo e os custos crescentes de ocupação das lojas trouxeram à tona uma antiga divisão entre pequenos e grandes varejistas de shopping centers, na negociação com os donos dos empreendimentos. O racha foi formalizado 20 dias atrás, com a criação da Associação Brasileira de Lojas Satélites (Ablos). A entidade reúne lojas menores, com cerca de 180 metros quadrados de área de vendas.

Elas são conhecidas como lojas satélites, em contraposição aos grandes magazines, ou âncoras. Por terem potencial para atrair grande quantidade de pessoas aos shoppings, as âncoras sempre desembolsaram proporcionalmente menos pela locação dos espaços, em relação às lojas menores.

"Até então existia uma associação que se chama Alshop (Associação Brasileira de Lojistas de Shopping) que diz representar os lojistas. Mas, na verdade, mais representa os shoppings", afirma Tito Bessa Júnior, presidente da Ablos e da rede TNG, de vestuário.

A nova associação nasce reunindo 70 marcas, como Jogê Meias (moda íntima), Side Walk (calçados), Gregory. MOB, Khelf (moda), Óticas Carol e Vivara (joias). A expectativa é que a adesão dos lojista à nova entidade cresça e atinja cerca de 300 marcas, o equivalente a 20 mil pontos de venda espalhados pelo país.

Nabil Sahyoun, presidente da Alshop, nega a falta de representatividade. Ele diz ter interlocução com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e que esteve três vezes como presidente da República, Jair Bolsonaro.

Sua principal credencial, segundo ele, são os 40 mil pontos de vendas filiados à entidade, que existe há 24 anos. Quanto às negociações com os empreendedores de shoppings, Sahyoun diz que a postura é de parceria. Na crise, ele afirma que os shoppings foram flexíveis, prorrogaram prazos e deram descontos na locação.

Diferenças

A nova associação pensa diferente. Uma das demandas da Ablos é buscar uma relação mais equilibrada nas negociações entre as satélites e os donos de shoppings, normalmente grandes companhias. Pelo fato de serem empresas menores, elas não têm o mesmo poder de fogo das âncoras.

Hoje, diz Bessa, enquanto as âncoras pagam de 3% e 5% sobre o faturamento aos shoppings, as satélites desembolsam o equivalente entre 10% e 12%, podendo chegar a 20%. Ele afirma que o custo de ocupação das lojas satélites envolve aluguel, condomínio e fundo de promoção. Mas, no caso das âncoras, elas pagam apenas o aluguel.

Para o consultor especializado em shoppings, Luiz Alberto Marinho, sócio-diretor da GS&Malls, se o custo de ocupação de uma loja for maior do que 10% do que a sua receita de vendas, a operação tende a não ser lucrativa. "Se passar de 15% é proibitiva. Nenhum lojista satélite deveria pagar mais do que 15% do que vende com custo total de ocupação."

Bessa compara a relação desigual entre as lojas âncoras e satélites nos shoppings a um prédio de apartamentos no qual quem mora na cobertura (loja âncora) não paga condomínio e o restante do prédio (satélites) arca com essa despesa. "Essa fórmula penaliza o pequeno varejista para subsidiar o grande", diz. "É concorrência desleal."

Procurada a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), que reúne os empreendedores de shoppings, informou, por meio de nota, que "as condições de locações são definidas por cada empreendimento e não pelo setor, como previsto no artigo 54 da Lei de Locações (Lei nº 8.245, de 1991)".

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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