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'O Brasil é a história de que mais gostamos', diz executivo do Bank of America

Luciana Dyniewicz

São Paulo

22/12/2019 09h46

O Brasil é a "história" preferida na América Latina do Bank of America para 2020. Ainda que o País não seja o que vai crescer mais, ele será um dos poucos que apresentarão uma aceleração na comparação com 2019, o que torna essa "história" mais interessante, segundo o chefe de economia para a América Latina do Bank of America, Claudio Irigoyen.

Com formação na Universidade de Chicago - a mesma do ministro da Economia, Paulo Guedes -, Irigoyen diz se preocupar com a possibilidade de choques atingirem o Brasil em 2020, inviabilizando um crescimento robusto. "Se não houver crescimento, vai ser difícil explicar que se está fazendo as coisas direito." Ele também afirma que a recuperação da economia neste primeiro momento virá do consumo, já que as empresas ainda mantêm grande capacidade ociosa, o que inibe novos investimentos. A seguir, trechos da entrevista.

Há dois anos, o sr. afirmou que o Brasil não podia continuar tendo o consumo como único motor de crescimento. Isso não mudou até agora. É por isso que não aceleramos?

O Brasil passou por uma recessão forte, então a capacidade ociosa ainda é grande. A recuperação virá do consumo, porque, com capacidade ociosa, não haverá muito investimento. Isso pode durar até 2021. Depois, será preciso mais investimento para crescer de forma sustentável.

O que fazer para acelerar?

Tem de fazer reformas microeconômicas para diminuir o custo de se fazer negócios. Por exemplo: há vários custos intermediários para exportar. Nessa área, há muito para melhorar e isso não é algo muito pomposo, como a reforma da Previdência. Nosso cenário base, por enquanto, é um crescimento do PIB em 2020 de 2,5%, mas pode haver choques.

É possível o País manter essa taxa de 2,5% depois de 2020? Vários economistas dizem que o potencial do Brasil hoje fica pouco acima de 1%.

Pode haver três anos de crescimento a 3% por ser uma recuperação cíclica. Se quiser continuar nessa taxa, tem de aumentar o investimento em três ou quatro pontos do PIB e a produtividade em 30%. Hoje, o produto potencial do Brasil pode estar entre 1% e 1,5%. Mas o produto potencial de todos os países caiu, porque a China está desacelerando. Do lado doméstico, as regras do jogo são instáveis e a percepção é de que ninguém consegue estabilizar a economia no médio prazo. Todos os consertos são temporários e não é feita uma poupança fiscal nos tempos de prosperidade para poder viver os tempos difíceis.

Como aumentar a produtividade e o investimento?

Ao estabilizar a economia, diminui o prêmio de risco que os investidores pedem para colocar dinheiro no Brasil. Já começamos a ver isso. Depois, tem de diminuir a incerteza, porque a pergunta que você poderia fazer é: as taxas de juros vão continuar baixas por 15 anos ou por um ano? Uma coisa é investir em ativos brasileiros como ações, que, se me engano, amanhã os vendo. Outra coisa é fazer investimento físico. Se tenho um investimento de cinco anos, não tenho de pensar apenas se o governo está fazendo as coisas bem, mas também no governo que vai vir depois deste. Mas a sensação de incerteza hoje é global, muito por causa da guerra entre China e Estados Unidos.

Qual o cenário do banco para o Brasil e para o mundo em 2020?

Nosso cenário base é que o mundo vai manter a taxa de crescimento, mas vai mudar um pouco a composição. Os EUA vão desacelerar, crescer 1,7%. A Europa vai continuar com 1% e a China vai passar de 6,1% para 5,6%. A América Latina vai crescer 1,5%, tendo como motor o Brasil. O Peru continuará crescendo 3%, mas lá haverá eleição presidencial e não está muito claro o que acontecerá. Para o Chile, esperamos 1,2%. O Brasil é a história de que mais gostamos para 2020 na América Latina.

A instabilidade na América Latina, como a do Chile, pode contaminar o Brasil e reduzir ainda mais o investimento?

É por isso que será necessário haver crescimento no Brasil no ano que vem. Porque, se não houver, vai ser difícil defender o modelo Bolsonaro. As pessoas vão dizer: 'faz dois anos que temos o modelo Bolsonaro e não crescemos'. Aí vai ser difícil explicar que se está fazendo as coisas direito, mas que acontecem coisas que estão fora de controle e que, por isso, o País não cresce, principalmente quando todos os anos se tem uma desculpa diferente. Apesar de que, agora, já temos alguns números que indicam que a economia vai começar a crescer. Há um ano, porém, tínhamos a projeção de crescimento para 2019 de 3,5% e o País avançou 1%.

Para o sr., o que aconteceu neste ano que não se teve 3,5%?

Teve a desaceleração global por causa da incerteza da guerra comercial, o choque da Argentina, o da Vale e o fato de o governo ter decidido, corretamente a meu ver, reduzir o tamanho do Estado. Isso faz com que a economia tenha menos impulso fiscal no curto prazo.

Isso já não era esperado?

Acho que não se havia considerado o impacto de curto prazo.

Como o investidor estrangeiro vê o governo de Bolsonaro e as polêmicas em que ele se envolve, como a questão ambiental?

Talvez essas polêmicas não ajudem muito, mas também não são algo de primeira ordem enquanto a estrutura econômica for comandada por alguém como o ministro Paulo Guedes. O que o mercado vê de Bolsonaro? Vê que colocou Guedes no poder e lhe deu liberdade para implementar o plano atual. Eu também estudei em Chicago, então não vou dizer nada contra Guedes. Mas ele conseguiu liberdade para implementar seu plano. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.