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Recessão reforça ciclo de desigualdade

Douglas Gavras

São Paulo

26/12/2019 12h03

O Brasil tem um longo histórico de desigualdade de renda, mas havia entre a maior parte dos economistas, até 2014, um entendimento de que esse cenário iria melhorar e a desigualdade cairia continuamente, diz o superintendente do Instituto Unibanco, Ricardo Henriques. "O sinal de alerta veio quando essa tendência foi revertida."

Desde a crise, a parte mais rica dos brasileiros se distancia cada vez mais da parcela mais pobre. No começo deste ano, a renda da metade mais pobre caiu cerca de 18%, enquanto o 1% mais rico teve quase 10% de alta no poder de compra, de acordo com dados do IBGE.

Para mudar isso, Henriques afirma que é preciso ter uma agenda que enfrente de forma eficiente a questão do desemprego. "O Brasil precisa retomar a tendência de construir políticas sociais mais articuladas, pegar os instrumentos que existem e podem ser repensados. E um ícone disso é o Bolsa Família."

A maioria dos economistas ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo citou o programa para famílias de baixa renda como exemplo de política social bem-sucedida voltada para a extrema pobreza. Apesar de o programa, por si só, não combater a concentração de renda, uma das ideias é que ele seja revisto e ampliado.

Apesar de a desigualdade ter piorado justamente nas regiões mais pobres do País, os economistas lembram que pobreza e desigualdade não são o mesmo conceito.

Um país pobre pode ser mais igualitário do que um rico. Um relatório do Banco Mundial aponta, contudo, que a pobreza também aumentou no Brasil de 2014 a 2017, atingindo 21% da população, ou 43,5 milhões de pessoas.

O pesquisador Pedro Herculano de Souza, do Ipea e ganhador do Prêmio Jabuti com o livro Uma História da Desigualdade, afirma que o desemprego e a informalidade atingiram em cheio os grupos mais vulneráveis, o que contribuiu para o aumento tanto da pobreza quanto da desigualdade da renda.

Ele completa que uma saída para a redução desses problemas seria transpor os obstáculos que ainda estão travando a recuperação da economia, fazendo reformas para criar mais espaço fiscal que estimule investimentos em programas sociais e geração de empregos.

"E, no longo prazo, não há como substituir o investimento em educação, que deve ser maior e mais eficiente, com o objetivo de formar no País uma força de trabalho mais preparada", diz ele. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.