'Estamos criando as bases de uma indústria saudável', diz secretário
Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, o secretário diz que o governo está criando as bases de uma indústria mais saudável e eficiente. "Se nós queremos voltar a crescer acima de 2,5% ao ano de maneira sustentável, nós precisamos da consolidação fiscal e do combate rigoroso à má alocação de recursos", diz.
Críticos dizem governo está vendo a indústria perder espaço sem fazer nada?
Não, não está correto. A política industrial de campeões nacionais acabou. Não existe mais. O que existe agora é uma política muito geral e mais eficiente de combate a má alocação de recursos. Quando isso acontece, o dinheiro vai para o setor onde é mais eficiente. Não é mais o governo que decide onde ele deve ir. A indústria que está sendo construída nessas bases é muito mais sólida que vai estar pronta para a competição. Estamos criando as bases de uma indústria saudável e pronta para competir.
Quais seriam essas bases?
A indústria que está recebendo investimento é aquela mais eficiente. No passado, notadamente até 2016, o governo escolhia setores que iriam ter desoneração. Havia setores que iam receber incentivos, acesso ao crédito subsidiado do BNDES. O investimento que estava sendo feito era aquele que não estava seguindo princípios, a rigor, de mercado, eles estavam sendo direcionados. É natural que algumas indústrias que receberam muitos incentivos tributários no passado, e esses benefícios estão se reduzindo, elas acabam tendo dificuldades. Será que essa não é política industrial mais eficiente? Ela promove as indústrias mais competitivas.
Como a indústria vai se reerguer?
Passo a passo. O dinheiro vai migrar para os setores mais eficientes e sair daqueles menos ineficientes. Alguns setores foram desenvolvidos com incentivos, creditícios, subsídios e de juros propiciados pelo governo. Ou seja, a sociedade inteira pagou para um segmento ter estímulo. Eu pergunto: até quando o povo vai aceitar pagar R$ 1,00 para ter R$ 0,50 de volta. Isso tira o dinheiro de toda a população e devolve para um grupo específico de determinada indústria. Está errado. Acabou.
Muitas indústrias falam que elas não teriam competitividade para brigar por esse recurso que vai buscar alocação mais eficaz?
Claro que tem. Algumas vão receber mais e outras um pouco menos. Agora, as indústrias, o setor de serviço, de comércio, estão competindo pelos recursos. Não só investimento, capital, trabalho. O próprio ministro Paulo Guedes já alertou. Veja a taxa de juros hoje. Ela só foi possível pela nossa política de combate à inflação e ajuste fiscal. Ela ajuda o setor industrial. A questão da taxa de câmbio, que vários empresários por muitos anos, pediram uma taxa com um patamar que é parecido hoje. Isso é resultado de todo o trabalho que foi feito.
O governo vê espaço para fazer uma política, mesmo que horizontal, para dar oportunidades para os setores menos competitivos de ganhar competitividade.
Nós temos que entender que quando o governo ajuda um setor vai ter que tomar de alguém. É claro que existem alguns setores que têm uma curva de aprendizado. Investe um pouquinho nele e no futuro vai dar o retorno. Isso pode acontecer, Temos que fazer uma pergunta honesta: Quais são esses setores? Quanto vai custar?
O Brasil vive um processo de desindustrialização?
O que está acontecendo na minha leitura é que algumas indústrias estão tendo dificuldades e outras surgindo. Quando se olha a participação da indústria no PIB, é comum em qualquer país do mundo. O problema mais importante é o misallocation (má alocação). Esse combate não é só uma pauta econômica. É social. A longo prazo estamos criando as bases de uma economia mais industrializada.
Como o governo vai cortar os incentivos?
A função da secretaria é deixar sempre os custos e benefícios das escolhas claros para a sociedade. Se nós queremos voltar a crescer acima de 2,5% ao ano de maneira sustentável, nós precisamos da consolidação fiscal e do combate rigoroso à má alocação de recursos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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