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Apesar de crescer durante pandemia, Mercado Livre cortará investimentos

Luciana Dyniewicz

30/04/2020 12h01

Nem mesmo uma das empresas mais resilientes para atravessar a crise causada pela pandemia da covid-19 deve concretizar seu plano de investimentos neste ano. Apesar de continuar crescendo nas últimas semanas, quando a economia em geral praticamente parou, o Mercado Livre não deve aportar os R$ 4 bilhões que havia anunciado para o País em 2020, segundo o vice-presidente executivo da companhia, Stelleo Tolda.

Ainda não há definição de quanto desse orçamento deixará de ser executado, diz o executivo. Estão ameaçados principalmente recursos que seriam usados para promover a carteira digital do grupo, ferramenta que permite o consumidor pagar compras feitas tanto no Mercado Livre como em outros sites ou estabelecimentos.

"Temos mantido o plano de investimento na parte de logística, mas é provável que não invistamos os R$ 4 bilhões que tínhamos anunciado. Incentivos para o uso da carteira digital em restaurantes, a gente suspendeu. Incentivos para pessoas irem a farmácias, a gente manteve. Estamos sendo seletivos", diz Tolda.

A carteira digital da empresa faz parte dos negócios do Mercado Pago, braço financeiro do grupo que tem também maquininhas de cartão de crédito e débito e que vinha acelerando o ritmo de crescimento do grupo como um todo. No último trimestre do ano passado, por exemplo, enquanto a receita com as vendas do site cresceu 80% na comparação com o mesmo período de 2018, a receita que exclui essas vendas avançou 90%, em um movimento puxado pelos negócios de pagamentos.

Tolda destaca que a carteira digital e a área de maquininha da empresa continuam crescendo, mas em ritmo menor do que em meses anteriores. Segundo ele, porém, os pagamentos com QR Code, tecnologia lançada em setembro de 2018 e uma das grandes apostas do Mercado Pago, está sofrendo mais - a ferramenta só pode ser usada em compras feitas fisicamente.

As dificuldades que o braço financeiro do grupo enfrentarão foram, inclusive, mencionadas em relatório do Itaú Unibanco que colocava o Mercado Livre como uma das empresas do varejo brasileiro mais bem posicionadas para enfrentar a crise devido a sua base diversificada de vendedores.

"As perspectivas de crescimento do Mercado Pago sofrerão significativamente com a redução de fluxos nas principais cidades onde o Mercado Livre opera. As maiores cidades de Argentina, Brasil e México estão adotando medidas de distanciamento social e, na maioria dos casos, já fecharam lojas não essenciais, o que obrigou o Mercado Pago a suspender seu plano de expansão para 2020", diz o documento.

O Credit Suisse, no entanto, afirmou, também em relatório, que a queda nas transações com QR Code devem ser compensadas pelo aumento nas vendas no site do Mercado Livre. O banco suíço apontou ainda que a pandemia deve mudar o modo de comportamento do consumidor, acelerando o crescimento do e-commerce em áreas em que ele ainda é tímido, como consumo de luxo e de alimentos - uma transformação que beneficia o Mercado Livre.

Apesar de o grupo não ter, por ora, planos de explorar o segmento de luxo, já está se movendo em direção a outras áreas que estão avançando na pandemia. Entre 24 de fevereiro e 24 de março, o número de pedidos de produtos alimentício e de limpeza feitos no site cresceu 14% e o ticket médio dessas compras, 22%, segundo relatório do Itaú feito com base em dados do Mercado Livre.

O crescimento do comércio online durante a pandemia tem feito a empresa acelerar a contratação de funcionários na área de logística. A companhia não divulga o total de novos empregados, mas já atingiu o número previsto para ser alcançado em novembro de 2020.

A força das vendas online, porém, parece não ter sido suficiente para convencer o mercado financeiro. Enquanto o índice Nasdaq recuou 8,6% desde 20 de fevereiro, um dia antes de as bolsas começarem a derreter no mundo todo por causa da pandemia, as ações do Mercado Livre negociadas na Nasdaq caíram 18,9%.

Tolda, no entanto, destaca que a covid-19 vai transformar profundamente os hábitos do consumidor, e as empresas digitais deverão se recuperar mais rapidamente. "Não estamos totalmente imunes aos impactos dessa pandemia. (...) Mas uma tendência que virá é a maior digitalização do e-commerce e dos serviços financeiros, isso beneficia as empresa mais digitalizadas e preparadas."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.