Ipea revisa projeção de queda do PIB de 2020 de 1,8% para 6,0%
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revisou sua projeção para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020 para uma retração de 6,0%, ante a estimativa anterior de queda de 1,8%, feita no fim de março, segundo artigo publicado na "Carta de Conjuntura" do segundo trimestre, publicada nesta terça-feira, 9, no site do órgão.
A retração será concentrada no segundo trimestre, com tombos de 10,5% ante o PIB do primeiro trimestre e de 11,0% sobre o segundo trimestre de 2019, mas haverá retomada no segundo semestre, contribuindo para um crescimento de 3,6% em 2021.
A projeção anterior considerava o pior cenário dos efeitos da pandemia de covid-19 sobre a atividade, mas os pesquisadores do Ipea destacam no artigo que, "desde então, a natureza e a magnitude dos choques causados pela pandemia vêm sendo reavaliadas continuamente, e têm apontado na direção de uma queda ainda mais substancial do PIB em 2020". No fim de março, quando o pior cenário do Ipea apontava para retração de 1,8%, a média das projeções de mercado estava numa queda de 0,5%, destaca o artigo.
Mesmo agora, "é importante destacar que essas projeções estão sujeitas a grande incerteza, tanto no que se refere à estimativa do impacto da pandemia sobre a atividade econômica corrente, como no que tange às hipóteses subjacentes ao ritmo esperado de recuperação no restante do ano", escreveram os pesquisadores do Ipea.
A projeção de tombo de 10,5% no PIB do segundo trimestre ante os três primeiros meses do ano leva em conta um conjunto de indicadores coincidentes da atividade econômica de abril, considerado, no cenário do Ipea, o "fundo do poço". "O conjunto de medidas de preservação de renda, empregos e produção implementado como resposta à crise, aliado ao início da flexibilização das medidas de isolamento, permite esperar uma melhora no desempenho da atividade econômica nos próximos meses", diz o artigo.
Os pesquisadores do Ipea citam indicadores de confiança empresarial, nível de utilização da capacidade instalada (Nuci) e o consumo de eletricidade na indústria para sustentar que já há "sinais de reação" da economia em maio. A produção e venda de veículos e a confiança do comércio, em maio, também sinalizam no mesmo sentido, assim como o auxílio emergencial pago pelo governo às famílias mais vulneráveis "deve ter produzido um efeito importante sobre a demanda, especialmente de produtos de primeira necessidade".
Assim, no cenário do Ipea, o fato de a queda da atividade econômica ter sido profunda em abril, mas seguida de algum crescimento em maio e junho, "garante um carry-over importante para o terceiro trimestre". A recuperação da atividade no segundo semestre, esperada pelos pesquisadores do Ipea, ajudará a impulsionar um crescimento de 3,6% em 2021. "A queda projetada para o ano é de 6%, mas a trajetória de recuperação no segundo semestre deixará um carry-over de quase 2% para 2021, cujo crescimento projetado é de 3,6%", diz o artigo.
O cenário de retomada em 2021 considera que haverá o controle da pandemia de covid-19 nos próximos meses, sem a imposição de novas restrições às atividades. Também considera o "relaxamento gradual" das "medidas excepcionais de políticas voltadas para a preservação de empregos, renda e produção", o que permitiria à política econômica voltar à estratégia anterior à pandemia, "calcada em medidas voltadas para a recuperação e a consolidação do equilíbrio fiscal e para o aumento da produtividade".
"Essa estratégia vinha contribuindo para a recuperação da confiança na estabilidade macroeconômica, lançando as bases para a atração de investimentos e a aceleração do crescimento. Espera-se, assim, que a taxa de crescimento do PIB convirja gradualmente de volta para a trajetória projetada antes da crise da covid-19", diz o artigo do Ipea.
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