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Por ideologia, empresários como Wizard podem afetar negócio, diz analista

Davi Ribeiro/Folhapress
Imagem: Davi Ribeiro/Folhapress

Renato Pezzotti

Colaboração para o UOL, em São Paulo

09/06/2020 04h00

Após seguidas declarações controversas sobre o combate ao coronavírus no Brasil, o empresário Carlos Wizard anunciou no domingo (7) que não vai mais colaborar com o Ministério da Saúde. Até então, ele era conselheiro do atual ministro, general Eduardo Pazuello, e seria nomeado para a secretaria da Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, onde auxiliaria na análise dos contratos da pasta.

Para o antropólogo Fred Lúcio, professor da ESPM/SP, participações polêmicas de empresários na vida pública podem afetar os negócios. "Líderes que são, alguns empresários acabam extrapolando suas áreas de conhecimento. Muitas vezes isso acontece por vaidade. Outras vezes por causa de um alinhamento político e ideológico", afirma.

Wizard, defensor da hidroxicloroquina para o tratamento da covid-19, chegou a afirmar que o Brasil está vivendo "quatro guerras simultâneas" (contra o coronavírus e as lutas econômica, midiática e política) e acusou gestores públicos de aproveitarem a pandemia para atrair mais recursos para os seus estados e municípios, ao inflacionarem o número de mortos.

"Os empresários precisam saber qual é o lugar deles. Não é falar sobre política: é garantir que as estruturas sejam favoráveis aos seus negócios. Neste cenário, há a imbricação dos interesses econômicos com os de mercado. Eles precisam saber separar a visão deles e das empresas", diz Fred.

Para o professor, os empresários precisam ter uma visão mais estratégica. "Estamos vendo o isolamento do Brasil e a história do coronavírus só veio escancarar isso. Precisam mostrar que possuem uma visão mais ampla do que a passada pelo governo. É só acompanhar os empresários que estão saindo da base governista", afirma.

Nova dona da Wizard quer distância

Empresário bem-sucedido, Carlos Martins se define como professor e palestrante em suas redes sociais. Fundador da rede de idiomas Wizard, que carrega em seu "sobrenome artístico", ele vendeu sua participação na escola para a rede britânica Pearson por R$ 2 bilhões em 2013 —-na época, o maior acordo da história do setor de educação já realizado no País.

A Pearson fez questão de salientar que "não há qualquer vínculo da Wizard com o empresário Carlos Martins, com nenhum governo nem com partidos políticos", além de "reforçar que não há nenhum vínculo entre a marca e o empresário".

Carlos Wizard participa de mais de 20 empresas

Wizard, fundador do Grupo Sforza Holding, é proprietário de mais de 20 empresas. Os destaques são a rede de lojas de produtos naturais Mundo Verde, as franquias das marcas KFC, Pizza Hut e Taco Bell no Brasil, a empresa BR Sports, dona das marcas esportivas Rainha e Topper e a rede de idiomas Wise Up.

A Mundo Verde afirmou, em suas redes sociais, que Wizard é acionista do Mundo Verde, mas que desde 2018 não atua na gestão da empresa. Além disso, a empresa salientou que "não tem qualquer relação com governos e partidos, posicionamento que será mantido pela marca".

Procuradas, as outras marcas do empresário afirmaram que não iriam se posicionar sobre o tema. Elas têm sofrido seguidos ataques em suas redes sociais, com pedidos de boicote e acusações de "defenderem um governo genocida".Wizard já afirmou que "não tem pretensão política" e que negou um convite do governador João Doria para se candidatar a prefeito de Campinas. A pretensão do empresário era permanecer auxiliando o Ministério da Saúde até o final do ano.

Outros executivos se envolveram em polêmicas

Desde o avanço da pandemia do coronavírus no Brasil, outros empresários se envolveram em polêmicas. Na maior dela, em março, o empresário Junior Durski, dono da rede de restaurantes Madero e Jeronimo Burger, publicou um vídeo em seu Instagram criticando as medidas recentes de governadores e prefeitos que limitaram o comércio por causa da doença.

Para Durski, o fechamento parcial do comércio teria "consequências muito maiores do que as pessoas que vão morrer por conta do coronavírus". Para ele, o Brasil não poderia parar por conta de "5.000 pessoas ou 7.000 pessoas que vão morrer" —até ontem, o Ministério da Saúde havia confirmado mais de 36 mil mortes causadas pela doença.

Alexandre Guerra, sócio dos restaurantes Giraffas, também criticou as medidas de combate à pandemia. O empresário afirmou que quem está com medo da covid-19 "deveria ter medo de perder o emprego".

Depois da polêmica, Alexandre chegou a ser "demitido" pelo pai e fundador da empresa, Carlos Guerra. Carlos que ainda explicou que o filho "não trabalha na empresa há quatro anos" e que "não concorda" com as gravações, reforçando que a "empresa não apoia esse ou nenhum outro governo".