Katia Abreu: agricultura alcançou boa imagem lá fora, hoje tudo caiu por terra
"Antes de Bolsonaro, caminhávamos numa direção razoável de conscientização das pessoas sobre o desmatamento. Havia recurso bem superior para a fiscalização e para todas as ações de órgãos de meio ambiente", comentou a senadora.
"Mas isso por questão ideológica foi sendo reduzido. Muito do trabalho dos últimos anos foi menosprezado", acrescentou a ex-ministra da Agricultura em participação no painel do Brazil Forum UK, seminário organizado por estudantes no Reino Unido e transmitido pelo Estadão.
Lembrando dos trabalhos conduzidos na época em que foi presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Kátia Abreu assinalou que a conscientização sobre a necessidade de preservação da Floresta Amazônica vinha sendo trabalhada com afinco, mas o setor, com a chegada do governo atual, se deparou com a displicência no tratamento dessa questão e ordens implícitas de estímulo ao desmatamento.
A senadora disse que o desmatamento não é inteligente do ponto de vista econômico, por ser prejudicial à evaporação de água e formação de rios flutuantes que levam água para as lavouras do Centro-Sul do Brasil.
Mais do que isso, complementou a ex-ministra, o desmatamento atinge a imagem da agricultura brasileira depois de o setor construir o que chamou de "imagem extraordinária" no exterior.
"Tudo isso caiu por terra. Hoje, o Brasil não tem voz em lugar nenhum." Segundo Kátia Abreu, uma minoria dos produtores agrícolas está fazendo um estrago grande na Amazônia por receber do governo federal o que parece ser, na avaliação dela, uma permissão para descumprir a lei.
"Mas esse não é o pensamento majoritário dos produtores rurais do País. Temos terras suficientes, que fertilizadas podem produzir muito mais sem desmatar a Floresta Amazônica", salientou a senadora. De acordo com ela, o agronegócio já pressente prejuízos causados por essa atitude. "Precisamos superar isso porque estamos tendo prejuízos por toda parte."
Durante participação no mesmo seminário, o ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy observou que é preciso atenção para que ações sem relação com a grande produção, como o desmatamento, não venham a prejudicar o trabalho da maioria, com a perda de investimentos e restrições comerciais. "Tem que diferenciar essas ações na Amazônia de uma indústria que é muito limpa", comentou Levy.
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