IPCA
0,83 Mar.2024
Topo

Pilares das reformas ainda sustentam time de Guedes, diz ex-integrante da equipe

5.dez.2018 - O economista Caio Megale - Adeleke Anthony Fote/Futura Press/Estadão Conteúdo
5.dez.2018 - O economista Caio Megale Imagem: Adeleke Anthony Fote/Futura Press/Estadão Conteúdo

Aline Bronzati e Thaís Barcelos

22/09/2020 12h00

Uma das baixas do desfalcado Ministério da Economia, Caio Megale acredita que os pilares das reformas ainda sustentam o time do ministro Paulo Guedes mesmo que o movimento de debandada não tenha cessado, ao contrário. Na sua opinião, mudam as peças, em alguns casos com substitutos até mesmo melhores que os anteriores, mas não a direção.

"O ministro Paulo Guedes continua com uma relação bastante próxima e de confiança com o presidente, que continua acreditando e apostando na linha de reformas do ministro", afirma, em entrevista exclusiva Estadão Broadcast, a primeira desde que assumiu o cargo de economista-chefe da XP Investimentos. "Eu não vejo mudança desse cenário em que pese algumas peças, que por razões diferentes, tenham sido substituídas."

Abaixo, os principais trechos da entrevista:

Por que o senhor deixou a equipe econômica?

Minha saída foi uma questão muito pessoal. Somados os tempos de governo federal e prefeitura já eram quase quatro anos. Desde o começo do ano, eu vinha amadurecendo essa ideia, de que estava chegando o ponto em que eu dei minha contribuição. Parecia uma fase da minha vida, pelo meu momento profissional, uma boa hora para voltar e retomar a carreira no setor privado. Afinal, eu não sou um servidor de carreira.

O senhor não estava satisfeito com o andar da carruagem?

Tiveram alguns integrantes que verbalizaram isso, como o Salim Mattar, que estavam descontentes com o avanço das políticas e as dificuldades que eles encontraram. Eu não faço parte desse grupo. De fato, senti que o ciclo estava completo. Na volta, comecei conversas no setor privado. A XP me pareceu o desafio mais interessante e que mais casa com o meu perfil e as coisas com as quais eu acredito.

A equipe econômica está sofrendo consecutivas baixas. Você é um. Hoje, quem mais pode ampliar a chamada debandada?

Uma coisa que eu achei interessante foram as substituições que o ministro [da Economia, Paulo Guedes] fez. Os sucessores do Mattar e do Paulo Uebel, Diogo Mac Cord e Caio tinham perfis muito parecidos, capacidade técnica, em alguns casos até melhor. É natural, especialmente em uma equipe grande, que alguns saiam e outros entrem por uma razão ou outra, mas novos integrantes têm sido sempre em um nível bastante forte e em linha com o direcionamento de política econômica que o ministro Paulo Guedes tem colocado. Ainda que aconteçam novas substituições, a tendência é que o ministério continue focado naquelas linhas mestras de reformas.

Mas o Mattar e o Uebel saíram atirando na dificuldade que se tem de trabalhar no governo. Novas baixas podem ser um golpe próximo a um nocaute de Guedes?

Os pilares das reformas vão continuar a despeito das mudanças que tiveram na equipe e das próprias discussões no Congresso e no governo. Isso me sugere que o ministro Paulo Guedes continua com uma relação bastante próxima e de confiança com o presidente [Jair Bolsonaro], que continua acreditando e apostando na linha de reformas do ministro. Eu não vejo uma mudança desse cenário em que pese algumas peças, que por razões diferentes, tenham sido substituídas.

O mercado teme que as reformas tenham ido para o espaço. Como o senhor vê o futuro dessa agenda?

A agenda está posta. A reformas estão no Congresso. A chave vai ser a capacidade do governo de mostrar ao Parlamento que essa agenda é importante da maneira como está posta e que seja aprovada.

Com o Renda Brasil na geladeira, o governo pretende fazer cortes bilionários nos ministérios para turbinar o Pró-Brasil, inclusive com risco de inviabilizar ações sociais. Só importa a popularidade para o presidente?

Um novo programa como o Renda Brasil ou um Bolsa Família mais incrementado parece bastante necessário, dada a desigualdade de renda muito significativa no Brasil. O que não está maduro é como o programa será financiado. Tem de caber no teto de gastos. Nós já estamos no vermelho. Se incluirmos mais gastos, esse déficit tende a ser maior e deve haver desconfiança sobre a capacidade de pagar essa dívida. As taxas de câmbio, o risco país, e a expectativa de inflação tendem a subir. Inflação mais alta e economia desorganizada acabam corroendo este ganho de renda dado pelo programa.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.