'Caso George Floyd' desencadeia pressão por maior diversidade
"Depois de George Floyd (americano negro que foi sufocado por um policial branco em maio), o dinheiro apareceu", diz a fundadora do ID_BR, Luana Génot, em referência ao número de companhias que passaram a contratar seus serviços. Segundo ela, o total de empresas que procuraram a ONG em busca de treinamentos e de um "selo" que atesta que a companhia está comprometida e trabalhando para aumentar a inclusão aumentou 400% depois do assassinato de Floyd.
"A sociedade começou a pressionar e a questionar mais as empresas. A gente percebe que (trabalhar pela inclusão) é sobre ter um senso de urgência", acrescenta Luana.
Na EmpregueAfro, a demanda cresceu 250%, também na esteira do caso Floyd, e dois funcionários foram contratados, ampliando a equipe para oito pessoas. "É triste que isso só aconteça após um episódio como esse, mas a comoção global e a indignação contra o racismo motivaram as empresas a fazerem algo", afirma a fundadora da companhia de RH, Patrícia Santos.
'Dívida histórica'
De acordo com Patrícia, a iniciativa da Magazine Luiza de aceitar apenas negros para seu próximo programa de trainee também aumentou a preocupação das empresas por questões de inclusão racial. Com 20 anos de atuação na área de RH, ela criou a EmpregueAfro há 15 anos, mas passou a se dedicar integralmente há sete anos. "No começo, achavam que eu era louca, que a empresa não teria sustentabilidade. Hoje, o número de empresas querendo implantar programa de diversidade está absurdo."
A empresária, no entanto, conta que 90% das companhias que buscam seu serviço são multinacionais, que são pressionadas pelas matrizes. "O direcionamento vem de fora. As multinacionais entendem melhor que existe uma dívida histórica (com os negros). Muitas empresas brasileiras negam a existência de racismo."
Para a empresária, o mercado de trabalho é a origem de toda a desigualdade racial da sociedade. "O mercado reflete o racismo estrutural da nossa sociedade, que tem origem na escravidão", diz ela, que acredita que a maior parte dos negros, quando consegue um emprego, acaba conseguindo pagar uma universidade e estudar.
A própria Patrícia é um exemplo prático de sua teoria. Crescida na comunidade de Heliópolis, em São Paulo, ela começou a trabalhar aos 13 anos como recepcionista. Três anos depois, quis estudar medicina, quando ouviu de seu pai, hoje um metalúrgico aposentado, que essa não era uma profissão para negros. "Levei um choque quando ele disse isso. Falei: 'a cor da nossa pele e o lugar que a gente mora determina o que é para gente ou não?'"
Patrícia pensou, então, em fazer psicologia, mas optou por pedagogia porque era mais barato. Trabalhava como vendedora para pagar a faculdade até conseguir estágio em uma empresa de RH, onde começou a carreira. "A minha primeira chefe, sem saber, me deu uma oportunidade de inclusão em um mundo que não tinha tantas pessoas como eu."
Campanha nacional
Ao contrário de Patrícia, Luana, do IB_BR, vê as empresas brasileiras também se movimentando para aumentar a inclusão, ainda que muitas vezes as nacionais sejam motivadas pelas internacionais. "Hoje, as empresas estão conectadas de alguma forma. As brasileiras estão em um mesmo ecossistema (das estrangeiras), muitas vezes são fornecedoras delas. Mas a gente percebe que a ação vem mesmo por causa da pressão da sociedade."
Nessa agência, cujo trabalho é focado no público afro-americano, Luana viu aonde queria chegar ao conhecer a presidente da empresa, McGhee Williams. "Eu nunca tinha visto uma mulher negra, de pele preta como a minha, chefiando tanta gente. Falei: 'quero ser igual'. Representatividade é isso. Você ver algo e poder traçar seu plano."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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