Analistas mudam previsões e veem alta de juros a partir de junho de 2021
Diante do aumento da inflação, em meio ao ambiente de incerteza fiscal e à recuperação econômica mais rápida que o esperado, as apostas de economistas e agentes do mercado para uma alta dos juros estão sendo antecipadas.
No Boletim Focus, do Banco Central, a alta da Selic é esperada para setembro, mas cada vez mais analistas passam a projetar uma elevação da taxa Selic já em meados do ano.
Para o economista da MB Associados e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, José Roberto Mendonça de Barros, a inflação está terminando o ano bastante pressionada, o que mexe nas previsões sobre os juros.
"Para o ano que vem, a inflação para o consumidor vai continuar subindo em 12 meses, com um pico por volta de maio. E os preços no atacado continuarão bastante pressionados. Muitas empresas vão preferir perder mercado e elevar preços."
Ele ressalta que a inflação seguirá bastante pressionada no avançar do ano que vem. "Por essa razão, o BC vá acabar tendo de se render à realidade e começar a elevar a taxa Selic no mês de junho, mais ou menos. Com isso, a política monetária deve se alterar. É preciso lembrar também que as taxas longas de juros estão muito altas."
Outro exemplo é o JPMorgan. O banco antecipou a estimativa para o início do ciclo de alta de juros do início de 2022 para agosto de 2021.
A economista-chefe do banco, Cassiana Fernandez, explica que a revisão foi motivada pelo cenário mais favorável para a recuperação econômica, principalmente no fim de 2021 e início de 2022, com a perspectiva de vacinação de ampla parcela da população contra a covid-19.
"Os números recentes de inflação começaram a incomodar. Desde o último Copom, a mediana do Focus para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor - Amplo) de 2021 passou de 3% para 3,47%. É um aumento relevante que deve acender a luz amarela."
No início de novembro, o Credit Suisse já havia alterado o cenário para a política monetária, prevendo início do aumento de juros em junho, em vez de no segundo semestre do ano que vem, levando a Selic a terminar dezembro em 4,5%.
Da mesma forma, o Banco BV recentemente antecipou a expectativa de início da alta de juros de outubro para agosto de 2021, devido à retomada mais rápida da economia global, que deve "levar pressão" para 2022. A taxa Selic deve terminar o ano que vem em 3% e, depois de um ciclo longo, chegar a 6%.
Reajuste
No curto prazo, porém, o aumento das projeções de IPCA em 2020 devido à antecipação da retomada das bandeiras tarifárias pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) não deve ser problema para o BC.
"Isso deve dar mais conforto para o Banco Central, pois a inflação tende a ficar menor, gerando uma inércia menor para 2022", diz o economista Carlos Lopes, do Banco BV.
O Banco Safra também já admite antecipar sua aposta para o início do aperto monetário do quarto trimestre "para o terceiro ou possivelmente para finais do segundo trimestre", conforme relatório semanal.
Segundo o banco, as seguidas revisões para cima nas projeções de inflação de 2021 têm levado ao questionamento sobre as condições para a manutenção dos juros no patamar atual.
Para Gino Olivares, economista do Insper e da consultoria Galápagos, em algum momento esses juros têm de subir, mas as discussões sobre quando deve acontecer estão sendo muito influenciadas pela inflação mais recente.
"Honestamente, não é que seja um problema. Quando acontece um terremoto, logo depois tem uma série de pequenos tremores, a terra continua tremendo até que se estabilize novamente. A covid-19 foi o terremoto e esses números de inflação são as acomodações, mas vão começar a diminuir de intensidade. Pesa, sim, sobre os mais pobres, mas é algo passageiro."
Para o Safra, a reunião de março, após a eleição no Congresso, poderia ser "oportuna" para manifestação do BC sobre o instrumento. "Mas poderá ainda ser muito cedo para uma decisão sobre a própria Selic, com um eventual aumento sendo deixado mais para maio."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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