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'Discurso precisa mostrar benefícios das privatizações', diz ex-BNDES

Elena Landau, ex-diretora do BNDES em foto de 2018 - Reinaldo Canato/Folhapress
Elena Landau, ex-diretora do BNDES em foto de 2018 Imagem: Reinaldo Canato/Folhapress

Anne Warth

Brasília

11/02/2021 13h05

O governo vai acabar tendo de pagar para privatizar a Eletrobras, diz a economista Elena Landau. Ex-diretora do BNDES durante o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Landau critica a insistência do governo em propor uma medida provisória para capitalizar a companhia.

Para ela, será uma tentativa de atropelar o Congresso, já usada no passado sem sucesso, e que vai trazer mais insegurança jurídica ao processo, já que a tendência é que o texto caduque antes de ser aprovado.

O que a sra. achou da ideia do governo de enviar, novamente, uma medida provisória para privatizar a Eletrobras?

Não pode ser feito por MP, que só tem força de lei enquanto não caducou e, depois que caduca, perde validade e cria uma enorme insegurança jurídica. Se for para simplesmente repetir o que já está no projeto de lei que enviaram ao Congresso, que respeitem e não atropelem o Congresso. Isso já foi tentado no governo Temer e a MP 814 caducou. Todo mundo viu que ia dar errado e mandaram um projeto de lei. Estão repetindo o erro.

O governo considera que precisa dar uma sinalização positiva ao mercado com a renúncia de Wilson Ferreira Júnior?

Não sei como o mercado comprou, em algum momento, que a privatização da Eletrobras iria andar no governo Bolsonaro. No governo Temer, até tudo bem, porque privatizaram sete distribuidoras e era uma gestão com agenda claramente liberal e reformista. Mas no governo Bolsonaro não tem abertura comercial, não tem reforma administrativa. Como vão acreditar na privatização da Eletrobras? Por isso, a saída de Ferreira Jr. é tão significativa, porque era o único empenhado na privatização.

Onde estão as resistências à privatização da Eletrobras?

Hoje, na área política, estão concentradas no presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), por causa de Furnas, e na bancada do Norte, nos senadores Eduardo Braga (MDB-AM) e Davi Alcolumbre (DEM-AP). Mas há as resistências de sempre, como os fornecedores, que sempre cobram sobrepreço para vender para a União e usam muitas vezes práticas não republicanas, dos empregados e das corporações.

Como vender a ideia da privatização e vencer a resistência da sociedade?

O discurso da privatização precisa mostrar os benefícios desse processo. A privatização da Gerasul, hoje Engie, mostra o potencial de uma empresa que sai da gestão pública, sem amarras de compras, crédito e recursos humanos. Ela era um pedaço da Eletrobras e já chegou a valer mais do que a Eletrobras. Vender estatal com o discurso fiscal é muito ruim.

O governo diz que a mudança no comando da Câmara vai fazer a privatização andar.

O próprio ministro Bento Albuquerque (Minas e Energia) já falou que a privatização ficará para 2022. Fazer privatização no meio de uma campanha presidencial, com o presidente (Jair Bolsonaro) contra, eu nunca vi.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.