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No final da recuperação, crescimento em 'V' foi atenuado, diz presidente do BC

Arquivo - Campos Neto lembrou que a inflação em 12 meses deve alcançar um pico ao longo do ano por um efeito de estatística, com a substituição dos níveis baixos de 2020 - Edu Andrade/Fatopress/Estadão Conteúdo
Arquivo - Campos Neto lembrou que a inflação em 12 meses deve alcançar um pico ao longo do ano por um efeito de estatística, com a substituição dos níveis baixos de 2020 Imagem: Edu Andrade/Fatopress/Estadão Conteúdo

Eduardo Rodrigues e Fabrício de Castro

Em Brasília

15/04/2021 10h47

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, repetiu hoje (15) que a economia brasileira teve formato de recuperação muito parecido com um "V", mas ponderou que a segunda onda da pandemia de covid-19 atenuou o formato desse "V". "Os dados da ponta de energia elétrica, veículos e cartão de crédito mostram uma queda bem menor do que a registrada na primeira onda. Há uma surpresa positiva sobre a resiliência da economia. A gente entende que a partir do segundo semestre o setor de serviços vai melhorar também", afirmou, na abertura do evento virtual "Fintouch - Desafios das Fintechs 21/22", organizado pela ABFintechs.

Campos Neto lembrou que a inflação em 12 meses deve alcançar um pico ao longo do ano por um efeito de estatística, com a substituição dos níveis baixos de 2020. "Grande parte do delta de inflação se deve aos preços das commodities e isso é um fenômeno mundial", completou.

O presidente do BC repetiu que a instituição iniciou um processo de alta de juros porque viu as expectativas de inflação em alta, já ameaçando contaminar o índice de 2022. "Se fizermos mais (alta de juros), evitamos de forma mais eficiente essa contaminação da inflação, que é temporária", reafirmou.

Campos Neto citou ainda as revisões do BC e do mercado nas projeções para as contas externas, com melhora nas estimativas de superávit na balança comercial de 2021.

Segunda onda de covid-19

O presidente do Banco Central repetiu também que a segunda onda da pandemia de covid-19 no Brasil teve um volume de óbitos mais elevado devido à nova variante do vírus. Ele reforçou, no entanto, que o Brasil está avançando na vacinação, o que deve reduzir o número de mortes, a exemplo do que ocorre em outros países.

"O mundo vacinou 10% da população, com destaque para os Estados Unidos, e o Brasil tem avançado. A vacinação é a variável mais importante no curto prazo para determinar a reabertura da economia. E as perspectivas das pessoas e a expectativa para o futuro acabam se incorporando no presente", afirmou Campos Neto. "A vacinação começou realmente a ganhar uma velocidade maior", disse, destacando que no segundo semestre, o País estará em situação de reabertura da economia

Segundo Campos Neto, diversos países têm muito mais vacinas contratadas do que é necessário para suas populações se imunizarem. "Em algum momento do processo de vacinação, haverá uma sobra grande que será redistribuída. Temos expectativa de que isso ocorra com as doses que estão sobrando nos EUA", completou.

EUA e cenário

O presidente do Banco Central avaliou que o pacote de US$ 1,9 trilhão do governo americano faz com que o hiato do produto nos Estados Unidos fique "substancialmente" positivo. "Os EUA têm tido revisões contínuas de crescimento para cima. Os números têm saído fortes e há uma narrativa de que isso pode precificar o início de um processo inflacionário no mundo, ainda que embrionário", afirmou.

Segundo Campos Neto, o Brasil foi o país que teve recuperação de PMI mais rápida no segundo semestre de 2020, mas ponderou que já houve uma queda recente relacionada à segunda onda da pandemia de covid-19. "O que vemos na ponta é que a economia brasileira se mostra bastante resiliente", completou.

Mais uma vez, o presidente do BC afirmou que a inflação de alimentos no mundo tem rodado acima do padrão, com destaque pra Brasil e Turquia. "No mundo emergente, inflação de alimentos é mais importante, tem um peso maior. Então os emergentes terão política de juros diferente do mundo desenvolvido", acrescentou.

Campos Neto lembrou que o Brasil é um dos países mais endividados do mundo. "Os gastos durante a pandemia foram necessários, mas no fim do processo o País está em uma condição mais frágil e precisa mostrar uma dinâmica fiscal melhor", concluiu.