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Sistema de pagamento instantâneo do Banco Central é alternativa a DOC, TED e cartões


Após Pix, casos de sequestro relâmpago disparam em SP; veja como se cuidar

Quadrilhas organizam até sequestros para obrigar a vítima a fazer, ela própria, a transferência via Pix - Tiago Caldas/Fotoarena/Estadão Conteúdo
Quadrilhas organizam até sequestros para obrigar a vítima a fazer, ela própria, a transferência via Pix Imagem: Tiago Caldas/Fotoarena/Estadão Conteúdo

Ítalo Lo Re

São Paulo

27/08/2021 15h59Atualizada em 27/08/2021 19h05

Eram 18 horas de sábado, dia 21, quando o bancário André Chaves, de 40 anos, foi surpreendido ao passar de carro com a noiva pelo trecho da Avenida do Estado que corta a região da Sé. Ao parar em um semáforo, o vidro do lado da passageira foi estraçalhado e rapidamente um homem tomou o celular de Chaves, fugindo entre outros veículos.

Meia hora depois, o bancário havia perdido R$ 5,8 mil em transferências via Pix, crime que tem ganhado força em São Paulo desde que a solução de pagamento instantâneo do Banco Central foi implementada, no fim do ano passado.

Quadrilhas organizam até sequestros para obrigar a vítima a colocar senhas dos aplicativos de banco e fazer, ela própria, a transferência via Pix para contas "laranjas", criadas só para receber o dinheiro. Nas contas da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, foram registrados 206 boletins de ocorrência de sequestro relâmpago no estado, de janeiro a julho deste ano — 39,1% a mais que no mesmo período de 2020. A pasta não diz quantos envolvem o Pix.

"O sequestro relâmpago estava meio que adormecido. Mas desde que o Pix entrou no mercado, em novembro de 2020, a gente notou aumento significativo dos casos", conta o delegado Tarsio Severo, do Departamento de Operações Especiais de Polícia (Dope).

Não que o Pix seja mais inseguro, adverte. Apenas tornou a operação mais veloz. "Os bandidos conseguem sacar o dinheiro antes de a polícia tomar conhecimento. Na hora em que a gente é acionado, muitas vezes o saque já aconteceu faz tempo", conta o delegado. Severo já trabalhou em casos cujas transferências por Pix chegaram a R$ 100 mil.

O celular é uma arma. Tem tudo dentro dele: aplicativo, senha, biometria. Como ficou fácil, os criminosos estão adotando o sequestro relâmpago. Vão roubar uma residência, por exemplo, e aproveitam para fazer um Pix.
Delegado Tarsio Severo, do Dope

'Aterrorizante'

Foi justamente por saber da ocorrência de crimes assim que André Chaves diminuiu, dias antes do roubo de seu celular, o limite de transferência dos aplicativos que utiliza. Ainda assim, perdeu R$ 3,8 mil, transferidos de um banco e outros R$ 2 mil retirados de uma carteira digital de investimentos.

"É uma sensação completamente aterrorizante", contou o bancário ao Estadão.

Após recuperar o número antigo de celular, Chaves entrou em contato com as instituições financeiras das quais é cliente. Segundo ele, o banco informou que não seria possível fazer a devolução do valor, mas ele pretende recorrer. A gestora da carteira digital ainda está analisando o pedido.

Delegado de Polícia da 1ª Seccional de São Paulo, Roberto Monteiro explica que, especialmente na região central da capital, os sequestros não são tão frequentes, mas sim os roubos. "O que temos aqui é mais a fraude a partir de celulares, que são levados para que pessoas que têm conhecimento técnico deles extraiam dados bancários para que sejam aplicados golpes".

Atenta ao problema, a Polícia Civil de São Paulo realizou na terça-feira a Operação Pen-Off e deteve quatro investigados por vender ilegalmente dispositivos de armazenamento que contêm "dados cadastrais de pessoas diversas".

Para Guaracy Mingardi, analista criminal e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, "a polícia não está preparada" para essas ocorrências. "A área de investigação sobre informática é muito pequena. Os crimes vão acontecendo e a polícia vai correndo atrás."

Segundo ele, é de suma importância que o Banco Central e as instituições financeiras adotem medidas para implementar mais etapas de segurança. Em nota, o Banco Central disse que "todas as operações com o Pix são 100% rastreáveis", o que permite a identificação das contas recebedoras dos recursos.

A Secretaria da Segurança paulista disse que "de janeiro até o momento, foram detidos mais de 100 criminosos, identificados outros 74 e apreendidos quatro menores de idade" envolvidos nessa modalidade.

Controle tudo e seja desconfiado

  • Desde abril, o usuário pode controlar seu limite no Pix pelo aplicativo do banco, alerta a Febraban;
  • Não utilize a senha do banco em outros aplicativos;
  • Não anote senhas dentro do celular;
  • Utilize senha, biometria e/ou reconhecimento facial para desbloquear a tela de início do aparelho;
  • Ao receber mensagens ou ligações, é fundamental desconfiar de contatos desconhecidos, principalmente em casos em que a transferência de dinheiro é de forma emergencial.