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Para IBGE, inflação de 2021 foi mais por pressão de custos

Rio

11/01/2022 13h48

A inflação elevada no País em 2021 foi resultado, sobretudo, de uma pressão de custos. A melhora da pandemia, com o maior alcance da vacinação da população contra a covid-19, resultou em recuperação da demanda no segundo semestre, mas os aumentos de preços monitorados pelo governo foram preponderantes no ano, como combustíveis, energia elétrica e gás de botijão. A avaliação é de Pedro Kislanov, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,73% em dezembro. Como consequência, a taxa acumulada pelo IPCA em 2021 foi de 10,06%, a mais elevada desde 2015, ante uma meta de 3,75% perseguida pelo Banco Central.

"Teve alta principalmente no segundo semestre da demanda pela alta da circulação de pessoas, melhora da pandemia, mas alguns setores ainda têm sofrido bastante. Inclusive agora, com a variante ômicron, talvez alguns setores que estão em recuperação podem ter algum prejuízo, como é o caso das passagens aéreas. A inflação do segundo semestre ficou superior à do primeiro semestre do ano, o que evidencia a recuperação da demanda. É muito cedo pra gente falar em retomada econômica de fato. Se a gente pegar os próprios indicadores que o IBGE divulga, a gente vai ver quedas consecutivas, na produção industrial, nas vendas no varejo, no próprio PIB do terceiro trimestre", enumerou Kislavov.

O pesquisador lembra que houve melhora recente no emprego, mas o rendimento real do trabalhador permanece deprimido, "o que diminui o poder aquisitivo das pessoas". "O segundo semestre teve retomada de fato da demanda, mas não dá para falar ainda em retomada econômica de fato", resumiu.

O IPCA acelerou de alta acumulada de 3,77% no 1º semestre de 2021 para 6,07% no 2º semestre. Kislanov lembra que o dólar valorizado ante o real também faz os preços de produtos importados se manterem em patamar elevado.

No ano de 2021, 88% dos produtos investigados tiveram elevação de preços, ante uma fatia de

79% em 2020.

Apesar da disseminação de preços com aumentos, os 10 itens de maior impacto sobre a inflação de 2021 responderam juntos por 58,65% da alta do IPCA: gasolina (alta de 47,49% e impacto de 2,34 p.p.); energia elétrica (21,21% e 0,98 p.p.); automóvel novo (16,16% e 0,48 p.p.); gás de botijão (36,99% e 0,41 p.p.); etanol (62,23% e 0,41 p.p.); refeição fora de casa (7,82% e 0,29 p.p.); automóvel usado (15,05% e 0,28 p.p.); aluguel residencial (6,96% e 0,26 p.p.); carnes (8,45% e 0,25 p.p.); e produtos farmacêuticos (6,18% e 0,20 p.p.).

Entre os grupos, o resultado de 2021 foi puxado, principalmente, pelos Transportes, com alta de 21,03% e impacto de 4,19 pontos porcentuais. Habitação subiu 13,05%, com contribuição de 2,05 pontos porcentuais, enquanto Alimentação e bebidas aumentaram 7,94%, com impacto de 1,68 ponto porcentual. Os três grupos responderam juntos por cerca de 79% do IPCA de 2021. Houve aumentos relevantes ainda nos grupos Artigos de residência (12,07%) e Vestuário (10,31%).

Os combustíveis subiram 49,02% ao longo de 2021. As passagens aéreas aumentaram 17,59%, e os transportes por aplicativo, 33,75%. Em Alimentação e bebidas, a alimentação no domicílio aumentou 8,24%. As maiores altas ocorreram no café moído (50,24%, com impacto de 0,15 ponto porcentual), mandioca (48,08%) e açúcar refinado (47,87%). Por outro lado, ficaram mais baratos a batata-inglesa (-22,82%) e o arroz (-16,88%, ainda insuficiente para devolver a alta de 76,01% registrada em 2020).