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Falta de recenseadores faz IBGE prorrogar novamente coleta do Censo 2022

Recenseador João Gabriel da Costa de Souza, conversa com moradora do quilombo Maria Joaquina, que fica em Cabo Frio, no estado do Rio de Janeiro - Eduardo Anizelli/ Folhapress
Recenseador João Gabriel da Costa de Souza, conversa com moradora do quilombo Maria Joaquina, que fica em Cabo Frio, no estado do Rio de Janeiro Imagem: Eduardo Anizelli/ Folhapress

Daniela Amorim

Rio

06/12/2022 12h43Atualizada em 06/12/2022 12h57

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que prorrogará novamente a coleta em campo do Censo Demográfico 2022. Com novos atrasos em campo, o prazo será estendido de dezembro até, no mínimo, o fim de janeiro. O trabalho de levantamento de informações, que teve início em 1º de agosto, estava previsto inicialmente para se estender apenas até o fim de outubro.

"A gente vai ter parte do Censo em alguns estados e municípios sendo levada pro ano que vem", reconheceu Cimar Azeredo, diretor de Pesquisas do IBGE. "A ideia é que a gente termine isso no final de janeiro."

Apesar dos esforços para flexibilizar regras de contratação e melhorar a remuneração de recenseadores, o instituto permanece com dificuldades de preencher as vagas necessárias em determinados locais.

Até o dia 5 de dezembro, foram recenseadas 168.018.345 pessoas em 59.192.875 domicílios no País, o equivalente a 78,73% da população brasileira. Até o momento, 48,4% eram homens e 51,6%, mulheres.

Como consequência, os dados sobre a população de estados e municípios que serão entregues ao Tribunal de Contas da União (TCU) em 26 de dezembro ainda precisarão ser completados, em parte, com estimativas populacionais feitas com base nos dados do novo censo. As informações sobre contingentes populacionais são usadas no rateio do Fundo de Participação de Estados e Municípios.

"A gente tinha expectativa de entregar preliminares do Censo. Para municípios que fecharem (a coleta), a gente vai conseguir fazer essa entrega. Para os que não fecharem, o IBGE vai fazer algum tipo de modelagem", contou Azeredo, acrescentado que a equipe técnica ainda não definiu que tratamento será usado para completar os dados ausentes de populações para o TCU.

Segundo Luciano Duarte, gerente técnico do Censo, o IBGE está priorizando divulgar a contagem da população de municípios com menos de 170 mil habitantes. Quanto aos municípios que não tiverem dados totalmente coletados, ainda não está decidido como haverá imputação para questionários não realizados.

"Ano que vem a gente divulga o resultado definitivo", contou Duarte.

O pesquisador disse que o órgão ainda não decidiu como será a divulgação do resultado de população de municípios maiores, mesmo que já tenham sido recenseados.

Entre os brasileiros já recenseados até o momento, 29,43% estavam na região Nordeste, 39,54% no Sudeste, 14,76% no Sul, 8,79% no Norte e 7,44%no Centro-Oeste. O estado com maior proporção de pessoas recenseadas é o Piauí (96,2%), seguido por Sergipe (91,2%) e Rio Grande do Norte (89,8%). Os menos adiantados são Mato Grosso (65,9%), Amapá (66,9%) e Espírito Santo (70,67%).

O diretor de Pesquisas do IBGE espera que a coleta do Censo cubra mais 10% da população nas próximas semanas, chegando a 90% dos habitantes até o fim de dezembro. Azeredo frisa que houve dificuldade de contratação de recenseadores em vários estados.

"Isso foi mais acentuado nos estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste", disse Azeredo. "Já está em curso uma operação de transferência interestadual de recenseadores e intraestadual de recenseadores", acrescentou.

Alguns municípios do Maranhão podem transferir recenseadores para o Pará, enquanto outros que atuavam no Sergipe podem passar a trabalhar na Bahia. O instituto também cita movimentações dentro de um mesmo estado, como trabalhadores de grandes zonas urbanas sendo deslocados para municípios menores.

Em todo o País, o IBGE conta com 60.611 recenseadores em ação no momento, cerca de um terço de todas as vagas disponibilizadas.

"Hoje a gente não precisaria de 180 mil recenseadores, porque já estamos praticamente com dois estados com coleta encerrada", ponderou Luciano Duarte, gerente técnico do Censo. "No início de agosto a gente gostaria sim de ter tido esses 180 mil recenseadores."

Em agosto, o IBGE alcançou um pico de 112.692 recenseadores em atividade.

"Talvez uns 80 mil seria ideal ter hoje", calculou Duarte.

Cimar Azeredo não vê, por ora, necessidade de complementação orçamentária para a operação censitária.

"A gente está trabalhando com recursos que a gente tinha. A gente não consumiu todos os recursos do Censo, e parte desses recursos já está transferida para o próximo ano. E a gente vai acompanhar passo a passo a necessidade de ter mais recursos aportados no Censo. A princípio, a gente acredita que não seja necessário", disse Azeredo. "O Censo não vai parar. Nessa virada do ano, a gente vai continuar fazendo o trabalho nos municípios que fecharam e nos municípios que não fecharam", lembrou.

Nos Estados que fecharem a coleta, o IBGE abrirá um serviço chamado Disque-Censo, para moradores que quiseram comunicar não terem sido recenseados. Num primeiro momento, apenas Piauí e Sergipe terão essa forma de prestação de informações.

"O IBGE vai deixar aberto para quem ainda não respondeu e ainda quer responder", explicou Azeredo.

O IBGE alega que a concorrência por mão de obra dificulta a contratação de recenseadores em locais onde o mercado de trabalho mostra taxa de desemprego mais baixa.

"O agronegócio, ele tem uma captação muito grande de mão de obra, o que torna o mercado de trabalho muito competitivo", argumentou Cimar Azeredo.

No entanto, dificuldades enfrentadas por recenseadores na coleta, como a resistência de moradores, o atraso inicial de pagamentos e as remunerações variáveis e baixas, também tornam as vagas pouco atrativas. Cimar Azeredo reconheceu que a remuneração inicial planejada pelo IBGE para a contratação dos temporários "era muito abaixo" do ideal, mas diz que o problema tem sido corrigido com incentivos e auxílios nos locais de maior dificuldade de coleta.

"Eu citaria com certeza a resistência da população em alguns locais, e alguns recortes", opinou Luciano Duarte, sobre elevadas taxas de recusa em locais de renda mais elevada, por exemplo.

"A gente tem autoridades que não respondem ao Censo, manda voltar depois", lembrou Azeredo.

A taxa de recusa de responder ao Censo subiu de 2,33% dos domicílios visitados em 31 de outubro para 2,59% no balanço atual. Em São Paulo, a taxa de recusa é de 4,79%.

"Isso está concentrado principalmente nos grandes centros", disse Duarte. "Ainda é valor aceitável, mas a gente quer diminuir isso."

O IBGE tem trabalhado com notificação de condomínios, porteiros e síndicos sobre a obrigação legal de moradores de responder ao Censo Demográfico.

O instituto conta que conseguiu diminuir as recusas no bairro da Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro, por meio de ofícios enviados aos síndicos e condomínios.

"A pessoa que se recusa, ela tem várias oportunidades. Primeiro ela recebe, no mínimo, quatro visitas do recenseador, que deixa um bilhete com o telefone dele. Por fim, o supervisor vai lá e, caso a pessoa não queira, ele vai deixar a notificação (oficial) na caixa de correio, fala das sanções, e dá uma última oportunidade pra pessoa preencher pela internet o questionário do IBGE", explicou Luciano Duarte.

Dos domicílios já recenseados, 89,4% responderam ao questionário básico e 11,6% ao ampliado. O tempo mediano de preenchimento tem sido de 5 minutos para o básico e de 14 minutos para o ampliado.

A maior parte dos questionários (99,3%) foi respondida de forma presencial, enquanto 204.151 domicílios optaram por responder pela internet e 233.894 pelo telefone.