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Especialistas da Comissão Consultiva do Censo defendem qualidade da pesquisa

Funcionário do IBGE na frente da sede do Instituto - Arquivo - Bruno Rocha/Estadão Conteúdo
Funcionário do IBGE na frente da sede do Instituto Imagem: Arquivo - Bruno Rocha/Estadão Conteúdo

Vinicius Neder

No Rio de Janeiro

25/01/2023 15h32Atualizada em 25/01/2023 16h43

Os 14 especialistas que compõe a Comissão Consultiva do Censo Demográfico 2022 defenderam a qualidade da pesquisa, apesar dos atrasos no cronograma, numa carta pública divulgada hoje.

Com a carta, os integrantes da comissão pretendem "repudiar os ataques infundados" ao Censo 2022, sob a responsabilidade do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Na sexta-feira (20), o Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) mostrou que as sucessivas prorrogações no trabalho de coleta de informações do Censo podem prejudicar a qualidade dos dados, conforme o alerta de especialistas.

Após seis meses em campo - o dobro do tempo previsto para a coleta, que seria, inicialmente, de 1º de agosto ao fim de outubro -, 184 milhões de brasileiros tinham sido recenseados até terça-feira (24), ante uma população estimada pelo IBGE em 207,8 milhões de pessoas.

Se confirmada a prévia da população informada pelo IBGE ao Tribunal de Contas da União (TCU), o instituto ainda precisa recensear cerca de 11,5% da população.

A carta dos especialistas que integram a comissão também vem após o ex-presidente do IBGE Roberto Olinto elevar o tom nas críticas à operação do Censo 2022.

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Olinto disse que a divulgação de dados preliminares no fim do ano foi uma "tragédia" e sugeriu que fosse feita uma auditoria nos dados.

Segundo a carta assinada pelos integrantes da comissão, tem havido transparência na divulgação dos dados e na discussão sobre a metodologia do Censo.

"Propostas sem respaldo técnico, neste momento, como a auditoria dos dados e realização de novo censo, apenas colocam em xeque, de forma indevida, a reputação do corpo técnico do IBGE, instituição construída ao longo de décadas e reconhecida internacionalmente, sem contribuir para uma discussão mais qualificada sobre o tema. Como o censo ainda não foi concluído, a discussão nesses termos apenas tumultua e dificulta a conclusão de um processo ainda em andamento", diz um trecho da carta.

No posicionamento, os especialistas informam que a opção por divulgar os dados preliminares no fim do ano foi respaldada pela comissão.

Todos os anos, em dezembro, por determinação legal, o IBGE informa ao Tribunal de Contas da União (TCU) a população de todos os municípios do País, para fins de cálculo da divisão dos recursos do Fundo de Participação dos Municípios (FPM).

Ano a ano, a população é estimada com base nas projeções populacionais, que calcula o crescimento populacional com base nos dados do último Censo disponível. Em anos de Censo, o normal é que a informação nova da própria pesquisa seja utilizada.

Segundo a carta, diante do atraso na coleta de informações do Censo 2022, o IBGE se viu diante de duas opções: calcular uma prévia ou estimar a população com base na projeção a partir do Censo 2010.

"A escolha não foi simples. Como acontece com outras estimativas demográficas, ambas as alternativas envolviam erros de mensuração e diferentes fontes de incerteza. Após análise e discussão, sugerimos que fossem usadas as estimativas calculadas com base nos dados coletados e imputados do censo 2022, uma vez que os erros das projeções demográficas municipais, metodologia que tem sido adotada nos últimos anos, crescem à medida que o tempo avança e a última coleta censitária fica mais distante no passado. As projeções atuais se baseiam em dados coletados 12 anos atrás, sendo especialmente mais incertas para municípios menores", diz um trecho da carta.

Os especialistas da comissão reconheceram os problemas de restrição orçamentária enfrentados pelo Censo 2022.

"É fato que faltaram recursos orçamentários e que alguns problemas interferiram no andamento da pesquisa, incluindo a dificuldade de contratação de recenseadores, a falta de concursos públicos para a contratação de servidores, a polarização política, a disseminação de notícias falsas e a resistência de uma parte da população em receber os pesquisadores. No entanto, algumas dessas dificuldades não são exclusivas deste censo. Além disso, várias delas também têm acontecido em outros países do mundo", diz a carta.

Mesmo assim, "frente aos novos e antigos desafios, os técnicos e pesquisadores do IBGE demonstraram capacidade de superação e muito espírito público", escrevem os especialistas. "Podemos atestar a competência, a idoneidade e a transparência do corpo técnico e da Direção do IBGE, durante o período em que acompanhamos a coleta dos dados", diz a carta, que termina dando um voto de confiança aos técnicos envolvidos na operação censitária: "A Comissão Consultiva do Censo 2022 apoia o corpo técnico e a atual Diretoria do IBGE. Confiamos na sua capacidade para concluir o recenseamento o quanto antes, realizar uma análise sólida e crítica dos dados e divulgá-los de forma transparente para toda a sociedade brasileira, com a qualidade e serenidade que sempre foram as marcas do IBGE."

Assinam a carta:

  • Alexandre Fernandes Barbosa, cientista da computação;
  • Alicia Bercovich, demógrafa e matemática;
  • Cássio Maldonado Turra, demógrafo e economista;
  • Antonio Gonçalves Egler, geógrafo Claudio;
  • Diana Reiko Tutiya Oya Sawyer, demógrafa;
  • José Ribeiro Soares Guimarães, economista;
  • Marcel de Toledo Vieira, economista;
  • Maria Martha Malard Mayer, economista;
  • Marta Maria do Amaral Azevedo, demógrafa e antropóloga;
  • Ricardo Paes de Barros, estatístico e economista;
  • Sérgio Besserman Vianna, economista e ex-presidente do IBGE;
  • Suzana Marta Cavenaghi, demógrafa;
  • Tania Bacelar de Araújo, economista e socióloga;
  • Zélia Magalhães Bianchini, matemática e estatística.