'Governo quer desfazer reformas já feitas'
Para ele, neste começo de ano, o comportamento do Congresso, "aparentemente responsável", tem sido positivo por evitar que as mudanças nas reformas avancem. "Até que ponto isso tem a ver com um Congresso ideologicamente mais resistente ou com o fato de o governo ainda não ter pago as emendas? Espero que seja a primeira hipótese. Vamos ver."
A seguir, confira trechos da entrevista dada ao Estadão:
Qual avaliação o sr. faz dos primeiros quatro meses de governo?
O início foi muito negativo, principalmente do ponto de vista fiscal. Todas as notícias eram de aumento de gastos, sem que houvesse afirmação de onde viria o dinheiro. Os investidores começaram a ficar preocupados. Aí veio o arcabouço, que, com todos os problemas, deu um sinal importante de que tem alguém minimamente preocupado com a fonte de recursos para financiar o aumento de gastos. É um arcabouço com mil problemas, de aumento de despesas baseado em aumento de receitas, mas é melhor do que a situação inicial. O grande problema é que, depois que você faz as contas, vê que é muito pouco provável que o governo consiga atingir o equilíbrio fiscal no ano que vem. O arcabouço não é suficiente para estabilizar a relação dívida/PIB, que deve chegar a 92% em 2030. Dada essa trajetória, será que os investidores estarão dispostos a financiar a dívida a uma taxa de juro sustentável? Provavelmente, não.
Fora a questão fiscal, como vê o que vem sendo feito?
O governo Lula, ao contrário dos anteriores, está com uma estratégia de desfazer o conjunto de reformas dos últimos seis anos, uma tentativa de mudar o marco regulatório do saneamento, de fazer outra reforma trabalhista, de voltar com algo similar à TJLP (taxa de juros de longo prazo). É uma série de anúncios antirreformas, de volta atrás das reformas dos últimos seis anos que foram importantes para gerar aumento do investimento. Essa interferência na Eletrobras é extremamente negativa. A atração de investimento para o Brasil vai diminuir porque a interferência na privatização aumenta a incerteza jurídica. O limite (de poder de voto do governo no conselho da Eletrobras) é uma coisa normal no mercado financeiro. Várias empresas têm essa estrutura. Se o STF der ganho de causa para o governo, vai ser um desastre para o País conseguir atrair investimento.
As medidas estão fora do que o sr. esperava quando o presidente foi eleito?
Eu achava que seria pouco responsável do ponto de vista fiscal. Não é uma característica do PT a responsabilidade fiscal. Isso existiu no primeiro mandato do Lula, mas estava mais ligado ao ministro (da Fazenda, Antonio) Palocci. O PT sempre defendeu aumento de gastos para gerar crescimento e reduzir pobreza. Mas me surpreendeu o volume. Também me preocupava com o fato de que o governo não teria gosto pelas reformas. É um governo que não acredita nelas. Minha avaliação era de que seriam paralisadas e cresceríamos pouco. Mas é pior: o governo está tentando desfazer reformas feitas nos governos passados.
O sr. já havia criticado algumas medidas, como o arcabouço fiscal sem punição e o imposto sobre exportação de petróleo. Há algo do que foi feito até agora que veja como positivo?
O arcabouço não é suficiente, mas é positivo, porque sinaliza que existe preocupação com o equilíbrio fiscal. Do jeito que está, ele exige que alguma coisa seja feita para gerar equilíbrio fiscal. Outro ponto, que não tem a ver com o governo, é o comportamento aparentemente responsável do Congresso de evitar um passo atrás nas reformas implementadas nos últimos anos. Outra coisa positiva é a reforma tributária. Mas tenho dúvidas de que vai ser aprovada da forma como está sendo anunciada pelo (secretário extraordinário da Reforma Tributária, Bernard) Appy. A proposta é bastante positiva, mas estão começando a aparecer resistências fortes.
Há risco de que projetos como a reforma tributária fiquem travados?
Pode travar. Tem muito lobby contra a reforma, porque alguns setores vão pagar mais imposto, apesar dos ganhos de produtividade. Agora, o governo não conseguiu aprovar duas propostas que considerava importantes: o PL das Fake News e a mudança no marco regulatório de saneamento. Minha pergunta é: até que ponto isso tem a ver com um Congresso ideologicamente mais resistente ou com o fato de o governo ainda não ter pago as emendas? Quando começar a pagar, vão votar a favor dos projetos, como era no passado? Espero que seja a primeira hipótese. É possível que realmente tenha mudado o comportamento do Congresso e ele tenha se tornado mais propositivo. Vamos ver.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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