Aversão a risco externa e incerteza fiscal local levam Ibovespa a 2º dia de queda
A nova rodada de aceleração a máximas dos rendimentos dos Treasuries leva os mercados a retomarem a aversão a risco da véspera. Com isto, o Ibovespa abriu a terça-feira, 3, em queda, depois de fechar em baixa de 1,29%, aos 115.056,86 pontos ontem.
"A tendência ainda é de um dia mais negativo. O S&P 500 cai com força acima de 1,00% na Bolsa de Nova York, refletindo o aumento dos títulos americanos. Até esperava um alívio depois que houve o acordo provisório que evita uma paralisação do governo dos Estados Unidos, mas isso não aconteceu", diz Rafael Germano, sócio e especialista da Blue3 Investimentos.
Segundo Germano, o mercado está receoso em relação aos caminhos que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) tomará em relação à política monetária. "Fora que a confusão institucional por lá não dá segurança", completa.
A expectativa é que o Fed mantenha o juro básico em níveis elevados por mais tempo do que o imaginado, na tentativa de conter a inflação e enquanto alguns indicadores sugerem uma economia aquecida.
No Brasil, também há incertezas quanto aos próximos passos do Banco Central (BC). Depois da redução das apostas de aceleração de queda da Selic, agora há debates acerca de uma eventual diminuição na velocidade da baixa, de 0,50 ponto para 0,25 ponto porcentual. Ontem, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, reforçou que uma retração de meio ponto é um "ritmo apropriado."
Neste cenário, a produção industrial, ainda que tenha vindo menor do que o esperado, eleva as dúvidas. A produção subiu 0,4% em agosto ante julho, ficando abaixo da mediana de 0,50% das estimativas na pesquisa feita pelo Projeções Broadcast.
Já nos Estados Unidos, o relatório de emprego Jolts mostrou que a abertura de postos de trabalho cresceu para 9,61 milhões em agosto, ante previsão de 8,9 milhões de vagas.
"Nesses dias, temos tido uma sequência de dados mostrando que a economia americana e a do Brasil estão fortes", avalia Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research.
Na avaliação de Larissa, apesar de a produção industrial brasileira ter tido uma alta menor do que a prevista, é mais um fator que "coloca a política monetária em xeque. O mercado começou até a especular se o BC vai diminuir o ritmo de queda da Selic", afirma. Ontem, o Caged, de agosto mostrou maior geração de vagas do que a prevista. "O sentimento de aversão a risco continua."
O petróleo e as bolsas caem no exterior o dólar sobe em relação a várias moedas, inclusive ante o real, indo a R$ 5,1130, na máxima intradia. "O Fed voltou a enfatizar que os juros permanecerão altos por mais tempo a fim de trazer a inflação para o nível de 2,00%, que é a meta", diz Rose Duarte, analista da Toro Investimentos.
Neste ambiente, as duas principais ações da B3 - Vale e Petrobras - caem, lembrando que não há negócios com minério de ferro em Dalian, na China, onde é feriado esta semana.
Às 11h36, Vale caía 0,52% e Petrobras cedia 0,24% (ON) e -0,06% (PN). O Ibovespa tinha recuo de 0,37%, aos 114.628,11 pontos, depois de mostrar declínio de 0,58%, aos 114.389,47 pontos (-0,58%), na mínima. "Diminui a queda, mas é só uma tentativa de correção", diz Germano, sócio e especialista da Blue3 Investimentos.
A cautela externa se junta ainda a temores internos, especialmente em relação ao fiscal. Dados do Tesouro Nacional mostram que a arrecadação com receitas administradas, que fechou em R$ 953,5 bilhões de janeiro a agosto, sofreu com uma frustração de R$ 7,2 bilhões (-0,75%) em relação à estimativa que havia sido feita pelo governo federal em julho.
Há instantes, o deputado Pedro Paulo (PSD-RJ), relator do projeto de lei que trata da mudança das regras de tributação de aplicações financeiras mantidas por brasileiros no exterior (PL 4173/2023), disse que está estudando incluir o fim do juros sobre capital próprio (JCP) no projeto de lei. As ações de bancos também cedem.
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