Ibovespa muda de sinal à tarde e cai 0,12%, a 119 mil pontos, com Powell

O Ibovespa reduziu a marcha e, embora tenha chegado a ensaiar perda ainda no meio da tarde com a piora em Nova York, conseguia sustentar o sinal positivo em direção ao fechamento, em dia sem orientação única, até então de leve amplitude, em Wall Street. Mais cedo, o índice da B3 tocou máxima a 120.256,62 pontos, o maior nível intradia desde 4 de agosto (121.442,02 pontos), saindo hoje de abertura aos 119.180,45 pontos que, até o meio da tarde, correspondia à mínima da sessão.

Depois, passou a devolver o ganho, caindo 0,61%, a 118.445,86 pontos no piso desta quinta-feira, acompanhando nova piora em Nova York, quando o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, em discurso, jogava balde gelado sobre a expectativa de abrandamento para a perspectiva da política monetária americana.

Ao fim, o Ibovespa mostrava leve baixa de 0,12%, a 119.034,14 pontos, com giro a R$ 25,1 bilhões, após ter parecido a caminho, em boa parte do dia, do maior nível de encerramento desde o começo de agosto. Na semana, o índice da B3 ainda sobe 0,74% e, no mês, 5,21%, colocando o avanço do ano a 8,47%.

Petrobras ON e PN mostraram ganhos de 2% no fechamento (ON +2,12%, PN +2,08%), andando à frente do petróleo na sessão, que antecedeu a divulgação do balanço trimestral da empresa, nesta noite. Vale ON também subiu, 0,48%. Na ponta negativa do Ibovespa, destaque para Minerva (-13,45%) e Grupo Casas Bahia (-12,28%). Banco do Brasil ON teve queda de 4,18% no dia seguinte ao balanço do terceiro trimestre, em sessão positiva para os pares do setor financeiro, no fechamento. Na ponta ganhadora do índice da B3, Braskem (+15,62%), Soma (+6,54%) e Cogna (+3,82%).

A Braskem reportou, para o terceiro trimestre, prejuízo de R$ 2,418 bilhões, superior ao de R$ 1,103 bilhão no mesmo período de 2022, mas os investidores se animaram com a notícia de que a Adnoc - a empresa de petróleo de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos - realizou nova oferta pela fatia da petroquímica detida pela Novonor, conforme antecipado pelo Broadcast.

A proposta preliminar da diretoria da Petrobras para o Plano Estratégico 2024/2028 supera a casa dos US$ 100 bilhões, um aumento em relação ao último plano, que foi de US$ 78 bilhões. Segundo apurou o Broadcast, a cifra, que ainda depende de aprovação do conselho de administração, incluiria um investimento no exterior e também um valor previsto para eventual elevação da fatia acionária na Braskem, reportam do Rio os jornalistas Mônica Ciarelli, Gabriel Vasconcelos e Denise Luna.

No quadro mais amplo, a piora observada a partir do meio da tarde em Nova York, tanto nos índices de ações como nos rendimentos dos Treasuries, veio a princípio logo após leilão de títulos americanos e, também, de declarações da presidente interina do Federal Reserve de St. Louis, Kathleen Paese, que destacou não ser "sábio" descartar a possibilidade de nova elevação de juros nos Estados Unidos.

Mais cedo, o presidente do Federal Reserve de Richmond, Thomas Barkin, havia dito que a inflação continua muito alta no país, e que a autoridade monetária caminha sobre linha tênue. Em evento, Barkin apontou que o BC americano percorreu um longo caminho, rapidamente, para conter a alta dos preços, mas que "o trabalho não está concluído". "Ainda não estou convencido de que a inflação esteja numa trajetória de queda para 2%", afirmou.

Pela manhã, com poucas novidades disponíveis para orientar os negócios, havia alguma propensão a risco desde o exterior, apesar das variações modestas, observa em nota a Guide Investimentos, "diante da maior expectativa por estabilidade dos juros nas economias centrais", tendo parte dos agentes de mercado chegado a precificar, recentemente, pausa ou mesmo fim do ciclo de aperto monetário nos principais BCs do mundo. Nesse contexto mais favorável ao risco, o principal índice acionário de NY, o S&P 500, parecia a caminho da 9ª sessão de alta consecutiva, em movimento de recuperação após recuo em agosto, setembro e outubro, aponta a Guide.

O otimismo não se sustentou ao longo da tarde, especialmente a partir das 16h, quando novas declarações do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, complementaram a cautela de que o mercado já havia tomado nota nas falas de outras autoridades monetárias americanas, mais cedo. Em discurso, Powell foi direto: "Não estamos confiantes de que atingimos nível restritivo o suficiente para a meta de inflação buscada pelo Fed, de 2% ao ano". Após os comentários, a chance de o Fed voltar, até março de 2024, a elevar a taxa de juros de referência chegou a 20%.

Com a retomada da cautela ao longo do dia, Dow Jones fechou a quinta-feira em baixa de 0,65%, o S&P 500, de 0,81%, e o Nasdaq - o mais sensível dos três à perspectiva de curto prazo para os juros americanos -, em queda de 0,94%.

O presidente do Federal Reserve reconheceu hoje, em conferência promovida pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), que a política monetária americana está em posição "significativamente restritiva", com juros reais acima de 2%, e que o BC dos Estados Unidos não almeja subir exageradamente os juros - embora tenha reforçado que o foco atual está na garantia de estabilidade para os preços.

"A posição quanto à política monetária dos Estados Unidos ainda é de muita cautela, e Powell ressaltou, por algumas vezes, que o cumprimento da meta ainda não ocorreu, apesar dos claros sinais de que a inflação tem caído nos últimos meses", diz o economista José Cláudio Securato, presidente da Saint Paul Escola de Negócios, ressaltando que a autoridade monetária mantém a abordagem "técnica", com análise da evolução dos dados a cada reunião de deliberação sobre os juros.

Dessa forma, apesar do rápido rito de passagem da reforma tributária pelo Senado, votada em dois turnos na Casa na noite de ontem, o cenário externo permanece como principal fator de incerteza e de baixo apetite pela renda variável também no Brasil, com Selic ainda em 12,25% ao ano.

Aqui, "após a queda de outubro, a bolsa local voltou a negociar próxima de 7x o lucro", observa em carta mensal a Franklin Templeton do Brasil. "O patamar não parece coerente com as boas notícias, que aumentaram a expectativa de crescimento econômico em 2023 para 3%, e da menor inflação no ano", acrescenta o texto, assinado pelos vice-presidentes e gestores Frederico Sampaio e Eduardo Bopp.

"Diversas ações, principalmente ligadas ao consumo doméstico, voltaram a patamares historicamente baixos e o ruído externo secou o fluxo de investidores estrangeiros para nossa bolsa. Não há um gatilho visível que nos permita vislumbrar o momento em que acontecerá recuperação dos preços, mas, sem dúvida, o valuation atual é muito atraente para quem visa horizontes de longo prazo", concluem.

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