Taxas de juros sobem com IPCA de outubro e pessimismo sobre pacote fiscal
Os juros futuros subiram nesta sexta-feira, refletindo reação ao IPCA de outubro e a espera pelo pacote de corte de gastos que já dura semanas. Os agentes têm lido a demora como mau presságio sobre o arranjo, o escopo e o ajuste em termos financeiros que o governo será capaz de fazer, tendo de convencer o presidente Lula e o Congresso.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 encerrou em 13,06%, de 13,01% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 subiu de 13,04% para 13,09%. O DI para janeiro de 2029 fechou com taxa de 12,92% (de 12,90%).
O dia hoje já começou com o pacote da China frustrando o mercado, seguido pelo IPCA de outubro, que superou a mediana das estimativas e rompeu com folga a banda superior da meta de inflação de 4,5%, o que, em outras circunstâncias, até poderia ser digerido ao longo do dia. Mas num clima de pessimismo sobre o pacote fiscal formou-se um combo a incutir cautela nos ativos. O efeito China bateu nas commodities e no câmbio, levando o dólar a voltar para perto de R$ 5,75, o que preocupa do ponto de vista da inflação e da política monetária.
O economista da MAG Investimentos Felipe Rodrigo de Oliveira diz que "a abertura ruim do IPCA hoje mostra que o trabalho do BC para trazer a inflação para a meta será bem difícil", contribuindo para a abertura da curva. A inflação de 0,56% não somente veio acima da mediana das estimativas (0,54%), como em 12 meses a taxa de 4,76% superou em larga margem o teto da meta de 4,5%.
Mas ele considera que o ajuste na curva do DI não foi tão pesado quanto nos demais ativos. "Em comparação aos demais mercados, os juros parecem bem comportados. O mercado já aposta num ciclo de alta até 14% aproximadamente, com um cenário de inflação ao redor de 4% no médio prazo", argumenta, lembrando que nesse cenário o juro real ex ante é de 10%. "Parece exagerado até para Brasil, mesmo considerando a grande incerteza fiscal que temos."
"O IPCA de outubro foi ruim", resumiu Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, citando o acumulado em 12 meses e a "aceleração com relação ao mês anterior em todos os dados qualitativos". "Reforça a ideia de que o BC vai ter que elevar os juros mais do que esperávamos anteriormente. Ou seja, juntando a eleição de Donald Trump nos EUA, o comunicado mais duro do Copom e esse IPCA, só estamos esperando para ver se vem algo de bom neste pacote fiscal do governo, para revisar a nossa previsão atual de uma Selic de final de período em 12,50% e de 11,50% ao final de 2025", disse.
O atraso no anúncio do pacote tem trazido angústia e pessimismo sobre o que será entregue de fato. "Um montante de R$ 40 bilhões, R$ 50 bilhões seria o mínimo para frear essa pressão", afirma Eduardo Velho, economista-chefe e sócio da Equador Investimentos.
A reunião entre Lula e os ministros para discutir o corte de gastos foi retomada nesta tarde. O ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, afirmou à CNN Brasil que o presidente quer compreender "a redação de cada medida" do plano e ele não é refratário ao compromisso fiscal, mas não deseja que a conta recaia para a população mais vulnerável.
Também para a CNN Brasil, o ministro dos Transportes, Renan Filho, afirmou que Lula deverá tomar a decisão levando em consideração o que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, diz. Segundo o ministro, Lula se esforça para "garantir o equilíbrio das contas públicas", além de reiterar que o governo é "a favor do equilíbrio fiscal".
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.