Juros: mercado amplia correção técnica e taxas têm queda firme

O mercado de juros embarcou num movimento de correção para baixo no meio da tarde, mais pronunciado nos vencimentos de curto e médio prazos cujas taxas cederam mais de 10 pontos-base. O ajuste não teve um gatilho específico e se deu mesmo com a manutenção do dólar em alta e a falta de sinalização sobre o pacote de corte de gastos que o governo está preparando, fatores que mais cedo serviam de argumento para limitar um alívio maior nos prêmios.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 encerrou o dia em 13,18% de 13,32% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 caiu de 13,49% para 13,34%. O DI para janeiro e 2029 fechou em 13,16% (de 13,28%).

Após oscilarem durante todo o dia entre a estabilidade e viés de baixa, os DIs se firmaram em queda depois das 15h30, com os investidores testando posições mais arriscadas diante dos prêmios polpudos embutidos na curva nas últimas semanas.

As taxas até os vértices intermediários, que ontem haviam encerrado nas máximas desde dezembro de 2022, foram os destaques. Este é o trecho que melhor capta a percepção dos agentes sobre o ciclo da política monetária e vinha sendo castigado pela reprecificação para a Selic nos próximos meses. Ontem a curva chegou a apontar taxa terminal de 14,25%.

Aparentemente, o mercado viu uma janela de oportunidades para buscar prêmios num dia de poucos catalisadores para os negócios. "A curva dos EUA está fechando e internamente estamos à mercê dos alinhamentos das políticas monetária e fiscal", resumiu o economista-chefe da Porto Asset, Felipe Sichel, destacando que, no caso fiscal, há um viés negativo pelo risco de as medidas de cortes de gastos serem divulgadas apenas na próxima semana.

Segundo apurou o Broadcast junto a fontes, o anúncio pode ficar para a semana que vem. Há ainda reuniões que precisam ser feitas com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para acertar detalhes sobre de onde pode sair a redução das despesas. O presidente e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deixam o Rio esta noite rumo a Brasília. Amanhã, receberão o presidente da China, Xi Jinping. Na quinta-feira, Haddad deve ir para São Paulo, devendo voltar ao Distrito Federal apenas na segunda-feira.

No exterior, os yields dos Treasuries recuaram, abrindo caminho para alívio nas taxas locais, ainda que motivados pela aversão ao risco vinda das questões geopolíticas. A Rússia atualizou sua "doutrina nuclear" após os EUA permitirem que a Ucrânia ataque alvos dentro do território russo com mísseis americanos de longo alcance. Assim, agora qualquer ataque aéreo à Rússia pode desencadear uma resposta nuclear.

Em teoria, nesse contexto, investidores tendem a buscar ativos seguros, como os Treasuries, fugindo do riscos dos emergentes. Essa dinâmica hoje até serviu para explicar a pressão no câmbio, mas não afetou a curva de juros já inchada por prêmios excessivos.

De todo modo, segundo Sichel, a alta do dólar ajudou a limitar o recuo das taxas durante boa parte da sessão. "É fator determinante para a inflação e, dada a evolução de outros determinantes da política monetária, ajuda a segurar um alívio maior na curva", afirmou.

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