44% dos negativados já jogaram em bets buscando dinheiro para pagar dívidas

Mais de 40% dos inadimplentes no Brasil já jogaram em bets — casas de apostas virtuais — buscando dinheiro para pagar dívidas, segundo pesquisa do Serasa em parceria com o instituto Opinion Box divulgada nesta terça-feira (19).

O que aconteceu

Quase metade dos consumidores negativados já apostou em bets. Segundo a pesquisa, as casas de apostas virtuais foram utilizadas ao menos uma vez na vida por 46% dos inadimplentes, que já estavam endividados quando começaram a apostar. A prática foi abandonada por 30% dos entrevistados, mas 16% afirmam ainda apostar.

57% dos endividados que já apostaram online só ficaram inadimplentes após ingressarem no mundo das bets. Na tentativa de quitar o endividamento, 44% já recorreram às plataformas de apostas. A relação dos negativados com o mercado de apostas, no entanto, ainda é recente, com 58% acessando as bets há menos de dois anos.

Uso de bets como alternativa dos inadimplentes para tentar ganar dinheiro é vista como preocupante. Fernando Gambaro, especialista em educação financeira do Serasa, classifica a tentativa de abandonar as dívidas no mercado de apostas como algo improvado. Ele avalia que o cenário reflete a falta de educação financeira para compreender o risco da decisão.

Nossa orientação é para as pessoas renegociarem suas dívidas com planejamento. Se você não consegue cumprir com aquele pagamento, aquilo vira uma bola de neve. Ao buscar uma solução rápida, como as apostas, isso tende a piorar.
Fernando Gambaro, especialista em educação financeira do Serasa

Um terço dos apostadores vê as bets como alternativa para renda extra. Para 29% daqueles que ficaram inadimplentes neste ano, as apostas surgiram na tentativa de ganhar dinheiro rápido para pagar ou comprar algo. Outros 32% citam as plataformas como uma forma de aumentar a renda.

As bets se tornaram uma realidade no Brasil, o que não existia há dois anos, por conta da publicidade presente em diversos meios. Infelizmente, as pessoas estão recorrendo às apostas como uma fonte de renda extra.
Fernando Gambaro, especialista em educação financeira do Serasa

Maioria dos inadimplentes relata mais perdas do que ganhos com apostas. De acordo com o estudo, 52% dos entrevistados relatam prejuízo nas plataformas virtuais. No grupo, 20% citam ter sofrido apenas perdas e 32% avaliam que perderam mais do que ganharam. Para 27%, a proporção de ganhos e perdas é semelhante.

Um em cada dez negativados já fez empréstimo para apostas. O número, que reflete outra preocupação dos pesquisadores, é acompanhado da informação de que 13% dos endividados já deixaram de pagar contas para apostar, mesmo percentual dos que admitem ter ficado com a conta no vermelho devido às bets.

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Amigos e reservas também são fontes de buscas de recursos para as bets. O levantamento mostra ainda que 4% dos endividados já recorreram a empréstimos com familiares e amigos ou utilizaram da reserva de emergências para apostar. Ainda assim, a maior origem das transferências é o próprio salário (69%) e o dinheiro ganho com outras apostas (19%).

Muitos ainda entendem a aposta como investimento e imaginam poder buscar aquele dinheiro para acabar multiplicando. Aí pagam o crédito e a dívida, mas não é assim que funciona na prática. É uma falsa ilusão.
Felipe Schepers, diretor de operações da Opinion Box

Levantamento ouviu 4.463 inadimplentes no mês de outubro. As entrevistas quantitativas foram realizadas pelo instituto Opinion Box com homens e mulheres de todas as faixas etárias. Entre os consultados, 51% pertencem às classes D e E, 35% à classe C, e 14% às classes A e B.

Setor do comércio afirma que bets deixaram 1,3 milhão de brasileiros inadimplentes no primeiro semestre. Um levantamento da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) apresentado ao STF (Supremo Tribunal Federal) na tentativa de derrubar a Lei das Bets diz que o volume de apostas aumentou 9,8 vezes em dois anos e o valor pago em taxas de serviço totalizou R$ 28,4 bilhões nos 12 meses finalizados em junho.