Opinião: Economia reagirá rápido ao impeachment; a política não
Apesar das conhecidas dúvidas que economistas e “cientistas” políticos despejam sobre os agentes econômicos, parece-me que a recuperação da atividade econômica no Brasil, após a derrocada do governo Dilma Rousseff será relativamente rápida, algo entre seis e doze meses.
Não me parece, sob nenhuma hipótese, que o governo da Presidente Dilma Rousseff possa sobreviver. Se isso vier a ocorrer, a deterioração será tão imprevisível que é tolo o exercício de se tentar fazer previsões. O
rito do impeachment caminha para um desfecho rápido. O choque entre aqueles que apoiam o governo e os que exercem à oposição a ele será apenas aparente. O PT desmoralizou a esquerda e mostrou ao mundo as vísceras da política nacional. Não terá apoio significativo para intentar a reação. O resto é apenas bravata.
A conjuntura econômica foi deteriorada ao longo de 2015 e neste início do ano pela absoluta ausência de perspectiva de que políticas econômicas saudáveis pudessem surgir a partir do Palácio do Planalto. Dilma Rousseff e seu governo se tornaram, com rapidez e grau, disfuncionais para exercerem a governança.
Aqui, nem faço maiores considerações sobre os motivos. Somente os constato.
O desempenho do PIB de 2015 poderia ser bem melhor que os 3,8% de queda que ocorreu. Algo entre -0,5% e -1,0% seria razoável frente aos erros de política econômica na primeira administração da presidente Dilma Rousseff.
A política tornou absolutamente opaca a economia e os agentes econômicos se acovardaram retendo os dinheiros no caixa bem remunerado por uma política monetária que não encontra respaldo senão na agonia do país. Investimento e consumo despencaram.
O país perdeu o grau de investimento de forma vergonhosa e os Ministros da Fazenda passaram a se esconder nos recantos do prédio do ministério na bela Esplanada dos Ministérios em Brasília.
Não tenhamos ilusões de que a rápida melhoria do ambiente no período pós-Dilma será, de fato, a alavanca para que a racionalidade econômica ingresse entre os políticos.
A evidente dissociação entre o Poder e a Política no Brasil solapa as possibilidades de que reformas estruturais sejam adotadas imediatamente. Será necessário que a sociedade, sobretudo as suas elites, se conscientizem de que o país não pode ser refém das mazelas da corrupção, do nepotismo, do patrimonialismo, da indiferença em relação aos sofrimentos do povo e assim vai.
Somente esta consciência pode engendrar vontade política de mudanças na administração de Michel Temer e os partidos políticos que se aglutinarão sob nova bandeira de propostas e promessas.
Vale lembrar que, assim como no dito popular, “jabuti não sobe em árvore”, há que se reconhecer que ninguém chega ao Congresso Nacional por acaso.
Todos naquelas casas legislativas têm voto. É certo que o povo escolhe mal os seus representantes e o sistema eleitoral é uma plutocracia que combina o poder econômico com o proselitismo descompromissado dos políticos.
Seria cômico se não fosse trágico. Enquanto isso, nas redes sociais, reina a diversão com a tragédia nacional.
Michel Temer terá de conviver com os mesmos acólitos com os quais Dilma Rousseff pensava ter construído uma aliança para governar.
O ministério presidencial permanecerá retalhado entre partidos fisiológicos de duvidosa competência técnica e de raro apreço pela boa e velha Política. O país hoje está à deriva, neste sentido.
Como é possível que a sociedade brasileira aceite passivamente gente como Eduardo Cunha e Renan Calheiros na regência da Câmara dos Deputados e do Senado Federal? Os mecanismos de extirpação de personagens nefastos à ordem pública são lentos, medíocres, incertos e tortuosos no Estado Brasileiro.
O protagonismo do Judiciário deve ser visto com reservas. Ele só ocorre porque outras parcelas do Poder Estatal são mal dirigidas.
Estamos mergulhando na fase final do processo político que levará ao impeachment da Presidente da República. Alento rápido virá pela frente na economia. Vamos acreditar.
O que não se sabe é o quanto durará. Isso não depende de ruas bloqueadas e gritos de todos os lados. Depende daqueles homens que se dizem políticos. Restaria à sociedade se organizar além das ruas para cobrar das administrações não apenas as promessas, mas o interesse de construir um país melhor.
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