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Análise: novo PIB não é manobra política, mas recomendação técnica da ONU

Mariana Bomfim

Do UOL, em São Paulo

11/03/2015 10h03

O IBGE apresentou nesta quarta-feira (11) números revisados do PIB (Produto Interno Bruto), usando nova metodologia de cálculo.  A revisão está sendo comemorada pelo governo, segundo reportagem da "Folha de S.Paulo", porque pode dar um resultado melhor para a economia em 2014: crescimento em vez de recessão.

O PIB é a soma de tudo o que é produzido no país.

Economistas entrevistados pelo UOL, porém, dizem que a mudança na metodologia não é uma manobra política, mas uma alteração técnica, que atende a padrões internacionais recomendados pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 2008 e já foi adotada por outros países, como Estados Unidos, México e França. 

“As mudanças são uma atualização das informações e dos fundamentos teóricos”, disse Claudio Considera, professor de economia da UFF (Universidade Federal Fluminense) e pesquisador associado do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas).

Considera já foi chefe de departamento de contas nacionais do IBGE (1986-1992), que calcula o PIB, e secretário do Ministério da Fazenda durante o segundo mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1999-2002). 

Analista do mercado, o economista da Tendências Consultoria Rafael Bacciotti diz que esse tipo de alteração acontece com frequência.

“É uma recomendação do manual de contas nacionais da ONU. Outros países já fizeram e o Brasil vai na esteira deles”, disse.

A última revisão do cálculo feita pelo IBGE havia sido em 2007.

Mudança no cálculo pode evitar recessão em 2014

A revisão pode ser positiva para o governo porque deve aumentar o PIB, que é a soma de tudo o que é produzido no país, de 2014.

No ano passado, a economia do país encolheu em dois trimestres (0,2% no primeiro e 0,6% no segundo). No terceiro trimestre, cresceu 0,1%.

O resultado do quarto trimestre, fechando o ano, só será divulgado no dia 27 deste mês.

Revisão do passado é normal, dizem economistas

A nova metodologia não vai valer só a partir deste ano. Vai mudar também os resultados do PIB de anos anteriores. 

Segundo os economistas ouvidos, isso também não é uma manobra ilegítima. É comum que os países não só passem a adotar as novas regras para cálculos futuros como também revisem os dados de anos anteriores, para ser possível compará-los. A revisão do IBGE vai cobrir o período a partir de 1995.

“O ideal seria revisar até 1947, quando foi criado o sistema de contas nacionais, mas isso não é possível porque não há informação”, diz Considera.

Variação anual do PIB deve mudar pouco

Apesar de a nova metodologia revisar o PIB para cima, o economista diz que ela não quase não altera as taxas de crescimento ano a ano.

“Em países que já adotaram as novas regras, os números subiram um pouco, mas quase não houve variação na taxa de crescimento”, disse.

Bacciotti afirma que o aumento no nível do PIB é devido à incorporação de itens como pesquisa e inovação à categoria de investimentos. Até então, eles eram contabilizados como despesas.

Veja quais são as mudanças no cálculo do PIB

  • Investimentos: os itens pesquisa e desenvolvimento, equipamentos bélicos (armamentos), exploração e avaliação de recursos minerais e bancos de dados passam a contar como investimentos, em vez de despesas.
  • Construção civil: o índice que calcula a produção na construção passa a considerar o salário dos trabalhadores. Antes considerava só a matéria-prima (tijolos, cimento, tinta etc.).
  • Sedes de empresas: as atividades que acontecem nas unidades administrativas das indústrias eram distribuídas entre as unidades produtivas. Agora, a sede entra na conta separadamente, como prestadora de serviços às unidades produtivas.
  • Saúde: antes, era feito um cálculo simples com o volume de serviços de saúde realizados no país. Com a nova metodologia, a conta considera os tipos de procedimento e as doenças. Uma cirurgia para retirada de apêndice, por exemplo, tem peso menor que uma operação cardíaca.
  • Usinas termelétricas: a conta da produção de energia elétrica no país passa a variar conforme as usinas termelétricas são acionadas ou desligadas.
  • Imposto de Renda da Pessoa Física: os dados do IR, fornecidos pela Receita Federal, agora entram na conta do PIB, participando do cálculo sobre o consumo das famílias. Em geral, o IBGE usa informações de fontes diferentes para compor as variáveis. 
  • Novas pesquisas: alguns estudos passam a ser considerados na conta. O Índice de Preços ao Produtor é usado no acompanhamento da variação dos preços de matérias-primas usados pelos produtores; o Censo Agropecuário de 2006 fornece dados sobre a estrutura da atividade agropecuária no Brasil, o que influencia no peso que cada atividade terá no cálculo do PIB; a Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2008 e de 2009 e Censo Demográfico de 2010 participam com informações que ajudam a calibrar as estimativas de consumo das famílias.

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