Novo ministro da Fazenda agrada mercado e 'entende como Brasília funciona'
Meio técnico, meio político. Na visão do mercado, o novo Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, combina duas condições vistas como essenciais para enfrentar os desafios atuais da economia brasileira: preparo técnico e habilidade política.
Ex-presidente do Banco Central e "fiador" do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Meirelles agora ingressa no primeiro escalão do governo de Michel Temer (PMDB).
Meirelles "entende como Brasília funciona", disse Edwin Gutierrez, chefe da área de dívida de países emergentes da gestora de recursos Aberdeen em Londres, em entrevista à agência de notícias Bloomberg. Segundo o especialista, a falta de habilidade política foi uma das razões do insucesso do ex-ministro Joaquim Levy.
O Brasil agora precisa mais de um político do que de um tecnocrata.
Edwin Gutierrez, executivo da gestora de recursos Aberdeen
No setor corporativo, foi presidente global do FleetBoston Financial e presidente mundial do BankBoston por quase cinco anos, além de ter presidido o banco no Brasil por mais de uma década.
Também é presidente do Conselho da J&F Investimentos, controladora da JBS (dona das marcas Friboi e Seara), Vigor e Havaianas.
Meirelles tem muito trânsito tanto no mercado quanto no meio político. Além disso, é respeitado lá fora, o que seria muito bom em um momento em que o Brasil precisa ganhar credibilidade.
Pablo Spyer, diretor da gestora Mirae Asset Wealth Management
Deputado eleito e 'fiador' de Lula
Na política, Meirelles foi eleito pelo PSDB como o deputado federal mais votado de Goiás em 2002, com 183 mil votos.
No entanto, renunciou ao cargo antes mesmo de tomar posse e desfiliou-se de seu partido para assumir a presidência do Banco Central no governo Lula, também eleito naquele ano.
Apesar de ser do partido derrotado nas eleições presidenciais em 2002, Meirelles tinha bom trânsito pelo PT.
Sua nomeação veio na tentativa de acalmar o mercado, que tinha dúvidas sobre o rumo da economia após a chegada de Lula ao poder.
8 anos no BC: inflação controlada, dólar e juros em queda
Meirelles comandou o BC durante oito anos, de 2003 a 2010. Nesse período, manteve a inflação dentro da meta, reduzindo o índice de preços de 12,53% ao ano, no fim de 2002, para 5,91%, em 2010, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas).
A economia, nesse período, cresceu perto da média dos países emergentes. Em seu último ano à frente do BC, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro subiu 7,5%, após uma queda de 0,1% em 2009, quando o mundo estava sob os efeitos da crise do setor imobiliários dos EUA.
Com Meirelles, o dólar caiu 54%, de R$ 3,54 para R$ 1,66. O menor valor alcançado pela moeda norte-americana no período foi R$ 1,56, com o mercado otimista pelo fato de o então presidente Lula ter mantido a política econômica herdada de FHC, e também graças ao cenário externo, que era mais positivo.
Quando assumiu o BC, a taxa básica de juros (Selic) estava em 25% ao ano; chegou a atingir o pico de 26,5%, depois cair a 8,75%, até terminar o mandato em 10,75%.
Meirelles foi substituído por Alexandre Tombini em janeiro de 2011, quando a equipe de Dilma Rousseff (PT) tomou posse.
3 prioridades do novo ministro
Segundo reportagem da "Folha" do último sábado (7), as primeiras medidas econômicas a serem anunciadas por Meirelles na Fazenda giram em torno de três eixos:
- limitação dos gastos públicos;
- reforma da Previdência;
- e reforma do sistema tributário.
No primeiro eixo, a ideia seria estabelecer um limite para os gastos públicos e não permitir que essas despesas subam mais do que o crescimento do PIB.
A segunda prioridade, a reforma da Previdência, é um pouco mais delicada. Uma proposta pode ser apresentada no curto prazo, mas só seria votada após as eleições municipais, em outubro. Ainda assim, a votação deverá ser por etapas.
Sobre a revisão da carga tributária, um assessor de Temer disse à "Folha" que aumentos de impostos não serão propostos nos primeiros dias e que toda medida nessa área será discutida com o Congresso.
No fim do ano passado, quando era cotado para o ministério no lugar de Joaquim Levy, Meirelles chegou a criticar a volta da CPMF, dizendo que existem outras "formas de tributação mais produtivas para a economia".
(Com agências de notícias)
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