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Tanque cheio custa R$ 150 em Foz (PR) e R$ 100 no Paraguai, diz motorista

Governo brasileiro anunciou aumento no combustível na quinta-feira (20) - Foto: Agência Brasil
Governo brasileiro anunciou aumento no combustível na quinta-feira (20) Imagem: Foto: Agência Brasil

Rafael Moro Martins

Colaboração para o UOL, em Curitiba

27/07/2017 16h58

Uma semana após o governo determinar o aumento de impostos sobre os combustíveis, o estudante Eduardo Lima, 20, nem se preocupa mais em pesquisar os preços nos postos em Foz do Iguaçu (PR). Ele sabe que a melhor saída é cruzar a ponte da Amizade para encher o tanque em Ciudad del Este, no Paraguai, onde a gasolina é mais barata. 

A diferença fica em torno de R$ 1,10 por litro. Em Foz, a gasolina é vendida a cerca de R$ 3,70. No Paraguai, custa R$ 2,60. Em um tanque cheio, por exemplo, eu gastaria uns R$ 150, no Brasil. No Paraguai, fica por R$ 100.

Nas redes sociais, alguns motoristas também apontam essa diferença de valores.

Comprar no "exterior" é rotina

Foz do Iguaçu fica numa fronteira tríplice, na divisa com Paraguai e Argentina. Na cidade, já é um hábito dos moradores pesquisar os preços nos países vizinhos antes de fazer compras --mesmo as mais simples, de supermercado, por exemplo.

"Por aqui, é fácil encontrar pessoas que já abasteciam no Paraguai antes mesmo da subida dos impostos. Agora, aumentou ainda mais", diz Lima.

Essa situação se repete em outras regiões fronteiriças do Brasil, como na divida gaúcha com o Uruguai ou na fronteira com a Venezuela, no norte do país.

Gasolina sem mistura de etanol

Nos países vizinhos, a gasolina não recebe a adição de 27% de etanol, como no Brasil, mas nem mesmo o temor de problemas nos motores dos carros, difundido em redes sociais, desestimula os motoristas a cruzarem a fronteira para encher o tanque. "Dizem que o combustível lá é mais forte, mas nunca tive problema algum."

Curiosamente, a gasolina vendida no Paraguai é, em grande parte, importada, inclusive do Brasil.

A estatal paraguaia de petróleo Petropar tem só uma refinaria, em Villa Elisa, a 15 km da capital, Assunção. Ela é capaz de processar 1.200 metros cúbicos de petróleo por dia (cada metro cúbico equivale a 1.000 litros). Para comparação, a Repar, unidade da Petrobras na região metropolitana de Curitiba, responsável por abastecer a pouco mais de 10% do mercado brasileiro, pode refinar 33 mil metros cúbicos diários.

Empresários brasileiros reclamam --e demitem 

Na outra ponta, os donos de postos na região reclamam. "Nossas vendas caíram 32% no primeiro semestre, em relação a 2016, por causa da política tributária do governo paraguaio, que reduziu impostos sobre combustíveis. E isso foi antes do aumento do PIS/Cofins por aqui", diz o empresário Walter Venson, 66. "Certamente a fuga de consumidores se aprofundou após o aumento dos impostos." 

Ele opera seis postos de bandeira Petrobras em Foz do Iguaçu e conta que demitiu 24 funcionários: passou de 92, no final de 2016, para 68 hoje.

Vou fazer o quê? Não tenho como manter o funcionário parado, para não atender ninguém.

Apenas em Foz do Iguaçu, deixam de ser recolhidos R$ 4 milhões em impostos sobre combustíveis a cada mês, segundo estimativa do Sindicombustíveis, entidade que representa os revendedores no Paraná. A entidade procurou a Receita Federal e a Secretaria da Fazenda do Paraná para pedir regras diferentes de tributação para a região da tríplice fronteira. 

"Até agora, eles não parecem se sensibilizar com o problema. Mas isso é o mesmo que fazer propaganda de CD pirata", diz Venson.

A culpa é dos impostos, diz economista

O que justifica a diferença de preços dos combustíveis em lugares tão próximos, simplesmente porque estão em países diferentes? 

"Fundamentalmente, o motivo para a diferença de preços é o imposto", explica o professor Paulo Mello Garcias, da Universidade Federal do Paraná. Segundo ele, a tributação no Brasil é maior que no restante da América Latina, em termos gerais, e isso inclui os combustíveis.

Além disso, diz ele, o Paraguai é um dos vizinhos que pode comprar petróleo, bruto ou refinado, com impostos de importação reduzidos, graças aos acordos comerciais do Mercosul.

Petrobras pede "cautela na comparação"

Procurada pela reportagem, a Petrobras informou, via assessoria de imprensa, que "a comparação direta [de preços] entre diferentes países deve ser realizada com ressalvas, já que há grande variação na estrutura de formação desses preços (preços dos produtores, margens de distribuição e revenda, tributos e eventuais subsídios governamentais)."

A empresa afirmou, ainda, que "o preço que o consumidor paga pela gasolina na bomba engloba diversos fatores (transporte, margens de distribuição e de revenda, parcela do etanol, tributos, etc.), e não apenas a gasolina pura fornecida pela Petrobras."

Informou também que na semana passada "menos de 30% do preço ao consumidor final correspondiam à parcela da Petrobras. Os demais 70% referiam-se a tributos, etanol anidro e margens de distribuição e revenda, parcelas sobre as quais a Petrobras não tem gerência alguma."

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