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Mercado que vende em quantidade é até 20% mais barato, mas tem fila e calor

Silvia Zamboni/Folhapress
Imagem: Silvia Zamboni/Folhapress

Fábio Munhoz

Colaboração para o UOL, em São Paulo

20/03/2018 04h00

A crise econômica fez o brasileiro apertar o orçamento e, com isso, os chamados atacarejos ganharam espaço na preferência dos consumidores. Esses locais vendem tanto produtos no atacado (em grande quantidade) quanto no varejo (em quantidades normais), e são conhecidos por terem preços mais baixos que os supermercados convencionais. O inconveniente é que não são tão confortáveis.

"Com o aumento do desemprego e a queda na renda, os consumidores têm de adequar o orçamento à nova realidade. Foi aí que começaram a trocar os supermercados pelos atacarejos", diz a planejadora financeira Karoline Cinti.

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Nos atacarejos, é comum haver dois preços diferentes para cada produto: um para quem compra poucas unidades (varejo) e outro, mais baixo, para quem compra uma quantidade maior (atacado).

Os produtos chegam a ser até 20% mais baratos, dependendo da quantidade comprada, segundo Cinti. Segundo estudo da consultoria Kantar Worldpanel, os preço são, em média, 7% mais baixos que nos supermercados convencionais.

A volta da 'compra do mês'

Isso fez algumas famílias retomarem a tradição das grandes "compras do mês", comuns durante o período de hiperinflação no Brasil, nas décadas de 1980 e 1990, segundo o economista Roberto Kanter, professor de marketing de varejo na FGV (Fundação Getulio Vargas).

"O consumidor do atacarejo é um comprador de compras mensais. As pessoas vêm comprando quantidades maiores, principalmente de produtos que podem ser estocados sem problemas de vencimento", diz Kanter.

Veja dicas para aproveitar as grandes compras

Organizar grupos

Para quem não costuma comprar produtos em grande quantidade, uma saída é organizar-se em grupos para poder comprar mais e obter preços mais vantajosos, diz Cinti.

É semelhante ao que fazem alguns pais na hora de comprar o material escolar dos filhos: criam grupos para comprar itens no atacado ou negociar livros diretamente com as editoras, diz a especialista em varejo Ana Paula Tozzi, da AGR Consultores.

Usar ferramentas online

Ferramentas online, como grupos no WhatsApp, podem ajudar a reunir pessoas com o mesmo objetivo –familiares, amigos, vizinhos-- e organizar as compras coletivas no atacarejo, afirma Tozzi.

Cuidado com a data de validade

Segundo Cinti, geralmente compensa comprar em maior quantidade produtos de limpeza e de higiene pessoal, que podem ser estocados por mais tempo. No caso de alimentos, é preciso estar alerta ao prazo de validade.

Evite dias de pagamento

Segundo Tozzi, é melhor evitar as compras em datas próximas ao pagamento, quando o movimento tende a ser maior. A consultora acrescenta que, geralmente, as empresas costumam fazer ofertas às quartas-feiras.

Vantagens se usar cartão da loja

Alguns atacarejos possuem bandeira própria com vantagens de parcelamento, além de desconto extra em alguns itens selecionados, diz Tozzi.

Como dividir as contas

Tozzi diz que a divisão dos gastos deve ser feita de acordo com o que cada pessoa comprou ou consumiu. "Caso a compra tenha sido realizada com cartão de crédito, é possível programar para a melhor data de compra do cartão utilizado", diz.

Para apurar as despesas do motorista, ela sugere incluir no rateio informações como quilometragem rodada e valor do estacionamento, se for cobrado. "Caso seja necessário, pode ser incluído um valor fixo para recompensar a pessoa que realizou as compras."

Lado B: calor, filas e falta de conforto

Afinal, como os atacarejos conseguem cobrar menos que os supermercados?

"[O atacarejo] não oferece serviço praticamente, não entrega experiência de consumo e não tem marcas. Por isso tudo, consegue praticar preços inferiores", diz Kanter. Em outras palavras, diz ele, os atacarejos não oferecem ao consumidor o mesmo conforto dos supermercados tradicionais.

Não é um lugar muito agradável. Você vai encontrar filas, vai enfrentar calor, vai ter um certo desconforto. Além disso, você não vai encontrar algumas das marcas que está habituado a comprar.

Roberto Kanter, economista e professor da FGV

Para Ana Paula Tozzi, as redes de atacarejo já estão adaptando suas lojas para serem menos "hostis", já que passaram a receber clientes que não estavam acostumados a esse tipo de ambiente.

Esses pontos de venda passaram a receber muito consumidor final e, por esse motivo, estão se preparando melhor. Isso vai desde o carrinho e do banheiro ao cafezinho que é vendido no interior da loja. As grandes redes acabaram trazendo um pouco da cara do varejo para o atacarejo.

Ana Paula Tozzi, especialista em varejo

Atacarejos surfam na crise. E depois?

As principais redes varejistas do país estão apostando nesse tipo de negócio para ganhar mais participação no mercado e elevar os faturamentos. No ano passado, o Grupo Pão de Açúcar converteu 15 lojas da bandeira Extra para Assaí e abriu mais cinco lojas do atacarejo pelo país. O grupo Carrefour abriu 12 lojas do Atacadão em 2017.

Em 2017, o Atacadão registrou R$ 34,088 bilhões em vendas brutas, o que representa 68,6% do total do Grupo Carrefour no período (R$ 49,653 bilhões). A receita bruta da bandeira Assaí ficou em R$ 20,070 bilhões, 41,43% da receita total do Grupo Pão de Açúcar no ano passado.

Para Kanter, o risco é o atacarejo ser deixado de lado depois que a economia brasileira se recuperar.

O consumidor é cômodo, e só não fica acomodado quando não tem dinheiro. Quando sobrar dinheiro, a pessoa tenderá a fazer as compras em um mercado perto de casa, mesmo que pague um pouco mais.

Roberto Kanter, economista e professor da FGV