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Pneu vai saber se choveu e tornar carros mais seguros, diz chefe da Pirelli

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Mariana Bomfim

Do UOL, em Feira de Santana (BA)*

24/04/2018 04h00

Em alguns anos, os carros vão circular equipados com pneus capazes de perceber se a estrada está molhada, quente, fria ou coberta de neve. Conectados à direção e aos sistemas de suspensão e elétrico, os pneus vão “ler” as ruas e ajudar o carro a se adaptar às condições externas. É o que diz o presidente da fabricante italiana de pneus Pirelli para a América Latina, Paul Hembery.

Essas inovações, que já estão em estudo e devem chegar ao mercado em um futuro próximo, de acordo com o executivo, vão fazer os carros serem muito mais seguros do que são hoje.

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Hembery participou do relançamento de uma das duas fábricas da Pirelli no Brasil, em Feira de Santana (BA) --a outra fica em Campinas (SP). A reformulação da fábrica de Feira de Santana faz parte do plano da Pirelli de investir mais de 250 milhões de euros (R$ 1,05 bilhão) na América Latina até 2020. Hembery  não divulga que parcela desse valor será investida no Brasil.

Veja, abaixo, os destaques da entrevista com o executivo.

UOL - Como o senhor imagina o pneu do futuro?

Paul Hembery - O pneu do futuro vai se adaptar ao carro. Será um produto integrado aos sistemas de suspensão, elétrico e de controle do veículo. Será um pneu que “fala” porque vai “ler” a estrada, o que permitirá que, no futuro, o carro reaja à mudança nas condições externas, como frio, calor, chuva e neve.

Isso vai melhorar a segurança, levá-la a um outro nível e será a grande mudança que veremos em breve. Já há projetos nesse sentido e, em um futuro muito próximo, vamos ver algumas aplicações práticas desse tipo de tecnologia.

Quais são os planos da Pirelli para o Brasil em 2018?

A indústria de carros é muito exigente com os produtos e, para atender essas exigências, precisamos investir em tecnologia na fábrica. Alguns investimentos nós já fizemos aqui, na fábrica de Feira de Santana. Foi uma modernização dos processos tecnológicos, que vai nos permitir atender as necessidades da cadeia de produção. Não é algo só para hoje.

Estamos trabalhando em produtos que estarão em veículos que só serão desenvolvidos pelo mercado nos próximos três ou quatro anos. Em termos práticos, em breve teremos, por exemplo, algumas tecnologias sendo testadas no Brasil.

Que desafios a empresa enfrenta aqui?

É um país muito grande. Se você quer entregar um produto, precisa movê-lo de uma parte do país para outra, e isso leva tempo. Então a logística e a infraestrutura serão sempre um desafio para qualquer empresa no Brasil, e qualquer melhora na infraestrutura vai ajudar as empresas.

Mas todo país tem seus desafios. A empresa precisa se adaptar o melhor que puder ao que está acontecendo no país naquele momento. Em 90 anos, já vimos muitas mudanças e tivemos que nos adaptar.

Pode dar um exemplo?

Nos últimos anos, nos adaptamos à dramática recessão. Os hábitos de consumo mudaram e as pessoas pararam de comprar, inclusive carros. O que nós fizemos foi perceber que negócios funcionam em ciclos, e precisamos investir no futuro porque, quando o crescimento voltar, é preciso estar preparado.

O tipo de mudanças que nós promovemos, com investimento nas fábricas e nas pessoas, não se faz do dia para a noite --demora anos. Então, se você deixar para reagir só quando o ciclo estiver voltando, vai ser tarde demais.

Como o senhor avalia as reformas realizadas pelo governo Temer e a situação para os negócios hoje?

Até agora vimos uma recuperação leve, claramente não é uma retomada forte. Mas, às vezes, acontece de a retomada levar um tempo para começar e depois acelerar. Há sinais de que a economia se move na direção certa.

A queda na taxa básica de juros indica que logo vamos ver as pessoas voltarem a conseguir crédito para comprar carro. O mercado de carros depende muito do crédito, é assim no mundo todo. E as reformas econômicas vão estimular a indústria, o que é positivo.

Nós temos uma eleição em outubro. O senhor vê algum risco para a economia?

Não, eleições acontecem no mundo todo, é normal. As empresas precisam lidar com os problemas das pessoas em cada país, e não podemos interferir na política. Nós agimos de acordo com a lei, temos de segui-la da maneira mais tranquila e eficaz possível.

A questão de quem está no poder tem relevância apenas momentânea. Precisamos entender como a eleição vai afetar nosso negócio, mas, o que acontecer aconteceu.

O consumidor brasileiro é diferente dos outros?

Consumidores são sempre exigentes, não importa em que parte do mundo você esteja. No Brasil não é diferente. Nos últimos anos, as vendas de pneus para o mercado de luxo têm crescido num ritmo três vezes mais rápido que as vendas de produtos tradicionais.

Nós investimos em produtos para o mercado de luxo local, para carros da Audi e da Land Rover. Acredito que, conforme o mercado se recupera, teremos um forte aumento nas vendas desses produtos.

O que o brasileiro mais valoriza quando compra um pneu?

Por pesquisas que fazemos com consumidores, sabemos que segurança é o que os consumidores mais procuram quando compram nossos produtos, não só no Brasil. Eles também querem ter uma experiência de compra que seja diferente, eficiente e até prazerosa.

As interações com os consumidores vão se tornar cada vez mais importantes. No Brasil, o uso de internet no celular é muito alto, e isso é algo que vai influenciar a maneira como os consumidores compram nos próximos anos.

*A jornalista viajou a convite da Pirelli

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