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Como destruir o bitcoin: artigo do MIT sugere combate à criptomoeda

Getty Images/nicescene
Imagem: Getty Images/nicescene

Lucas Borges Teixeira

Colaboração para o UOL

26/04/2018 13h11

A revista científica "Technology Review", do MIT, publicou na última terça-feira (24) um artigo chamado "Vamos Destruir o Bitcoin" (em tradução livre), no qual especula três maneiras por meio das quais a moeda digital poderá ser derrubada, substituída ou feita irrelevante nos próximos anos. O texto discute falta de regulamentação e sugere alternativas comerciais e estatais, e até uma nova criptomoeda, regulamentada pelo governo. Será que esse pode ser o futuro da moeda?

O UOL ouviu um especialista e confrontou as propostas do artigo para saber quanto essa tendência do mercado financeiro ainda pode se desenvolver.

Maneira 1: destruição pelo Estado

A primeira opção apontada pelo artigo para a derrocada do Bitcoin seria a criação de uma moeda digital gerenciada pelos governos. Chamada hipoteticamente de Fedcoin, a moeda nacional teria como base o Sistema do Banco Central (FRS, na sigla em inglês) e usaria instituições certificadas, como grandes bancos, para gerenciar o blockchain, tecnologia por trás do Bitcoin que registra publicamente as transações financeiras.

Esta tecnologia hipotética foi abordada pelo pesquisador David Andolfatto, da própria FRS, e referendada por Sahil Gupta, da Universidade Yale, que escreveu um código que simulava como o Fedcoin funcionaria.

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"Cada banco seria responsável por uma parte dos dados no blockchain. Quando novas transações acontecessem, o banco as validaria em um novo block e as enviaria para o Banco Central. Este, por sua vez, funcionaria como a última referência, ele checaria a entrada dessas transações e as unificaria em uma grande versão do blockchain, que ficaria pública", explica o artigo.

Para usar os Fedcoins, as pessoas teriam apenas de comprovar suas identidades e abrir uma conta no Banco Central. O câmbio seguiria a cotação da moeda de um Fedcoin para um dólar, por exemplo.

"As pessoas iriam perceber que é mais prático do que dinheiro; os empreendimentos, constatariam que é mais barato do que cartão de crédito; e os bancos, se assegurariam de que é mais seguro", afirma Gupta à revista. O pesquisador acredita que, com um Banco Central por trás, as transações podem ficar muito mais rápidas do que a rede peer-to-peer usada pelo Bitcoin.

Esta teoria saiu do papel em um experimento feito pelo Banco do Canadá, em 2016, e ganhou força no mesmo ano, quando o banco britânico Bank of England afirmou que a adoção parcial de uma moeda digital gerenciada pelo Banco Central poderia resultar em um aumento de 3% no PIB, dada a redução de impostos e taxas de transação.

Contraponto

Para Rodrigo Cohen, analista e trader de criptomoedas brasileiro, é improvável que, caso um dia os Bancos Centrais comecem a investir na sua própria moeda digital, isso desestabilize o Bitcoin, pois essa movimentação fugiria do seu principal conceito. “Um dos principais pontos do Bitcoin é a descentralização, ninguém manda", argumenta Cohen em entrevista ao UOL. "Não há o interesse de alguém por trás, é de todo mundo. Enquanto um Banco Central responderia aos interesses de um determinado país."

Maneira 2: tomada de controle pelo Facebook

A empresa de Mark Zuckerberg é, hoje, uma das mais influentes do planeta, com mais de dois bilhões de usuários ativos desde junho de 2017. O artigo argumenta que, por isso, se ela quisesse, poderia derrubar ou dominar a moeda virtual. Para emular como o Facebook poderia usar sua popularidade para derrubar o Bitcoin, a revista usa o exemplo do Telegram, rede de mensagens concorrente do WhatsApp, com 200 milhões de usuários ativos.

Em janeiro deste ano, a empresa anunciou o Gram, sua própria criptomoeda. Em um mês, na primeira rodada de investimentos, a companhia levantou US$ 850 milhões. Em março, conseguiu mais US$ 850 milhões. "Logo, o Facebook, como o Telegram, poderia lançar sua própria criptomoeda”, afirma o artigo. "O que redesenharia o Bitcoin como uma versão corporativa do Fedcoin."

A publicação sugere ainda que a rede social poderia dominar a moeda digital de uma forma mais “traiçoeira”: bastaria criar uma carteira própria de Bitcoin que abrangesse seus 2,2 bilhões de usuários. Dessa forma, os usuários do Facebook poderiam trocar Bitcoins entre si, ou a empresa poderia recompensar com a moeda digital quem assistisse a anúncios publicitários, por exemplo. "Essa carteira eliminaria todos as peculiaridades que torna as contas de Bitcoin tão confusas."

Contraponto

Para Cohen, é improvável a chance de que uma grande empresa, como o Facebook, mude de segmento em busca do público de criptomoedas. "Para se envolver, ela teria de mudar todo o seu core business e enfrentar um risco muito grande de não dar certo", afirma. Além disso, o especialista diz não acreditar que seja "tão simples assim" convencer o crescente número de adeptos à criptomoeda no mundo. "Há pouco mais de 700 mil CPFs cadastrados na história da Bolsa desde que ela abriu no Brasil [1890]. Já pessoas com carteiras de Bitcoin, algo muito mais novo, já são entre 1 e 1,5 milhão. Quando você pensa no mundo, é um número absurdo", argumenta o especialista. "É incontrolável, mesmo para o Facebook ou qualquer grande empresa", diz.

Maneira três: tornar-se irrelevante pela concorrência

Em vez de derrubá-la ou tomar posse do seu sistema, o artigo do MIT argumenta que pode-se simplesmente tornar a moeda digital irrelevante ao multiplicar a oferta de criptomoedas. "Em um futuro próximo, bens e serviços serão cada vez mais representados por tokens, que podem ser trocados com qualquer um. Se você está na fila do mercado, no seu telefone você poderá ter acesso não só a Fedcoin ou Facebookcoin, como também a Applecash, ToyotaCash ou a moeda desta loja específica", exemplifica o artigo.

A publicação aponta que isso já está acontecendo por aí. Em janeiro, por exemplo, a Kodak lançou sua própria criptomoeda, a KodakCoin, voltada ao direito de imagens.

Contraponto

"O principal ponto do Bitcoin é a tecnologia. Isso quer dizer que, se ele estagnar, qualquer moeda digital que investir nisso pode ultrapassá-lo tranquilamente”, afirma Cohen. "Da mesma forma que o Bitcoin não existia e foi criado, podem criar uma nova criptomoeda ou um novo tipo de transação que o supere. De fato, é uma tendência que empresas invistam cada vez mais nisso. Mas não há, até o momento, nenhuma com sua velocidade, eficiência", conclui o especialista.