População pagou a conta da crise de 2008, e banqueiros escaparam da Justiça
Com a decisão do governo dos Estados Unidos de usar US$ 700 bilhões em dinheiro público para salvar o sistema financeiro, a fatura da crise mundial aterrissou no colo dos contribuintes.
O pacote de resgate foi o desfecho de um embate entre quem achava que era necessário salvar os bancos e quem achava que, se o governo os ajudasse, criaria um incentivo para que os banqueiros continuassem tomando decisões arriscadas.
Revoltada, a população foi às ruas e protestou em diversas cidades dos EUA.
"Podemos criticar o resgate, mas se não tivesse acontecido essa intervenção, a economia mundial teria uma trajetória muito parecida com a da Grande Depressão (1929)", disse o economista Carlos Braga, professor associado da Fundação Dom Cabral e ex-diretor do Banco Mundial. "A crise foi dramática, mas o pacote acelerou a recuperação."
Tamim Bayoumi, diretor do FMI (Fundo Monetário Internacional) e autor de um livro recém-lançado sobre a crise ("Unfinished Business", Negócios Inacabados), concorda. "O resgate do sistema financeiro evitou uma crise muito maior."
Banqueiros não foram punidos
A indignação dos norte-americanos cresceu diante do resultado das investigações sobre executivos de alto escalão dos bancos que estiveram no centro da crise.
Enquanto os bancos receberam multas pesadas, ninguém foi preso nem julgado, civil ou criminalmente, de acordo com Phil Angelides, que presidiu a comissão instalada por lei federal para investigar a crise de 2008.
Foi como se os bancos "tivessem feito infrações em massa, mas sem que aparentemente nenhum banqueiro estivesse envolvido", disse Angelides à agência de notícias AFP.
Para Braga, a revolta com a reação da classe política à crise está na raiz de movimentos sociais que surgiram anos depois, como o Occupy Wall Street. Com lemas que fazem referência à desigualdade social, como "Nós somos os 99%", o grupo pedia mudanças no sistema financeiro.
"A crise também levou ao ressurgimento da esquerda nos EUA, com a candidatura do Bernie Sanders (pré-candidato democrata à Presidência em 2016)", disse Braga. "Mas eu diria que a principal consequência foi o aumento do apoio a candidatos populistas, o que levou à eleição de Donald Trump."
Crise custa US$ 70 mil para cada norte-americano
Dez anos depois da crise, a economia dos Estados Unidos vem se fortalecendo, com crescimento anual de 1,5% a 2,9% a partir de 2010. O desemprego, que chegou a 10% em 2009, hoje está em 3,9%.
Mas a renda média familiar ficou quase estagnada de 2007 para cá, e a pobreza, que atingia 12,5% da população antes da crise, caiu muito pouco, para 12,3% em 2017.
Um estudo feito pelo Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) de San Francisco mostra que a crise vai custar a cada norte-americano, em média, US$ 70 mil ao longo da vida.
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