Preço da gasolina na refinaria caiu 26% desde setembro, mas e na bomba?
Com alívio no preço internacional do barril de petróleo e na cotação do dólar, o preço da gasolina produzida pela Petrobras caiu 26% nas refinarias de setembro para cá, depois de bater recordes históricos nos meses anteriores.
Essa redução, porém, não está chegando às bombas. Ela está sendo represada nos postos de gasolina e, principalmente, nas distribuidoras. Para o consumidor, por ora, a queda no litro do combustível é próxima a zero. Cerca de 80% da gasolina consumida no Brasil vem da Petrobras.
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O litro da gasolina produzida e vendida pela Petrobras nas refinarias bateu o recorde de R$ 2,251 em setembro. Desde o dia 22 daquele mês, porém, a estatal vem reduzindo paulatinamente o valor praticado, que está em R$ 1,662 desde esta terça-feira (12), data do último reajuste. A queda total no período foi de 26,2%.
Os preços para a gasolina praticados pela Petrobras nas refinarias podem ser alterados até diariamente e são divulgados em sua página na internet.
Nas distribuidoras, porém, a redução no mesmo intervalo foi de 3,26% (caiu de R$ 4,270 para R$ 4,131 por litro). Nos postos de gasolina, a redução foi de apenas 0,81% (caiu de R$ 4,696 para R$ 4,658 por litro).
Os preços são uma média semanal verificada pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), que acompanha as distribuidoras e cerca de 5.000 postos no país, e consideraram a variação entre a semana iniciada em 23 de setembro e a semana de 4 a 10 de novembro.
Câmbio e cotação do barril ajudaram
Desde 2016, a Petrobras adota uma política de preços para os combustíveis segunda a qual os reajustes acompanham a tendência dos preços internacionais do petróleo, uma conta que inclui a cotação do barril e o valor do dólar em relação ao real.
Como os dois dispararam na primeira metade deste ano, o mesmo aconteceu com o preço da gasolina aqui. Entre janeiro e setembro, o aumento acumulado no preço do combustível da Petrobras chegou a 33%, e depois começou a cair.
Dali para cá, tanto o barril de petróleo quanto o dólar mudaram de rumo, e isso ajudou a puxar o preço da Petrobras para baixo também. O barril do petróleo, que chegou a operar acima dos US$ 80 neste ano, está atualmente na faixa dos US$ 70. O dólar, que ficou acima dos R$ 4 em boa parte de agosto e setembro, oscila na faixa dos R$ 3,80 agora.
Reajustes levam tempo para chegar à bomba
O economista Walter de Vitto, analista da Tendências Consultoria especializado em energia, afirmou que é normal os reajustes que acontecem nas refinarias demorarem um pouco para serem repassados integralmente.
"As distribuidoras e os postos têm que queimar os estoques antigos antes de receberem o produto com os preços novos", disse ele. "Mesmo assim, é possível verificar um aumento na margem das distribuidoras entre setembro e outubro."
A margem é a diferença de preço do produto quando ele é comprado e, depois, vendido. Um aumento de margem pode significar aumento na margem de lucro da empresa, "mas pode também refletir um aumento de custos, como de mão de obra, fretes ou manutenção", disse o economista. Esse desmembramento dos dados, porém, não é divulgado pelas empresas.
Mistura com etanol fez preço subir
Vitto também afirmou que uma outra maneira de fazer a comparação é olhando a variação absoluta dos preços, isto é, os aumentos em centavos, já que as variações percentuais acabam sendo distorcidas por usarem bases diferentes.
Isso acontece porque, até chegar aos postos, a gasolina tem uma série de impostos e serviços embutidos, o litro vai encarecendo, e o combustível em si, como saiu da refinaria, vai ficando com um peso cada vez menor no preço final.
Desde o início do ciclo de reduções da Petrobras, em 22 de setembro, a gasolina pura na Petrobras já ficou R$ 0,59 mais barata. Nas distribuidoras, ao longo do período considerado, o desconto em centavos foi de R$ 0,14 e, nos postos, de R$ 0,04.
"Houve um impacto também do etanol, que está na entressafra e teve alta de preço", disse Vitto. Diferentemente da gasolina que sai da refinaria, que é pura, a que chega ao consumidor deve ter uma mistura de 27% de sua composição em etanol, e isso também faz diferença na hora dos reajustes.
O valor médio do litro do álcool em São Paulo, maior estado produtor, foi de R$ 1,834 para R$ 1,939 entre 22 de setembro e a semana de 2 de novembro, segundo média semanal de preços verificada pela Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar). É um aumento de 5,78%.
Outros custos influenciam repasses
Procurada, a Fecombustíveis, entidade que representa os postos do país, informou que a gasolina em si é só um pedaço de todos os custos envolvidos no preço final para o consumidor. Isso, segundo a entidade, amortece as variações de preços que acontecem na refinaria.
"Os valores praticados pela Petrobras são aproximadamente um terço do preço pago pelo consumidor nos postos, que incorpora também os custos dos biocombustíveis, impostos, fretes e margens", disse a Fecombustíveis, em nota.
A entidade também disse que os postos não compram gasolina diretamente da refinaria. "Os postos só podem comprar das distribuidoras e só conseguem diminuir os preços quando as distribuidoras eventualmente os reduzem", declarou a entidade.
A Plural, associação que reúne as distribuidoras do país, afirmou que, da refinaria para fora, os combustíveis ainda têm uma carga pesada de tributos com que arcar, algo que não está embutido nos preços de base divulgados pela Petrobras.
"O custo do produto e tributos são responsáveis por mais de 80% do preço final; a margem média dos distribuidores representa menos de 5%", afirmou a entidade. Cide, PIS, Cofins e ICMS são os principais tributos que incidem sobre a gasolina e, nos cálculos do setor, representam cerca de 45% do preço do produto final, na bomba.
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