3 a cada 10 brasileiros ganhavam menos de 1 salário mínimo em 2017, diz ONG
De cada dez brasileiros, três viviam com renda mensal menor que um salário mínimo em 2017. Isso quer dizer que os 30% mais pobres da população brasileira ganhavam, no ano passado, menos de R$ 937 por mês, o valor do salário mínimo em 2017.
É o que aponta relatório da Oxfam Brasil, ONG voltada ao combate à pobreza e à desigualdade, com base nos dados de renda do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O levantamento considera a renda das pessoas maiores de 20 anos. As informações fazem parte do relatório "País estagnado: um retrato das desigualdades brasileiras", divulgado na manhã desta segunda-feira (26) pela entidade.
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Segundo o levantamento, no ano passado o Brasil tinha 15 milhões de pessoas pobres, que sobrevivem com uma renda de US$ 1,90 por dia (pouco mais de R$ 7, segundo critério do Banco Mundial). Isso representa 7,2% dos brasileiros. O número de pobres aumentou 11% em relação a 2016, na terceira alta seguida.
O de cima sobe, e o de baixo desce
O estudo mostrou que, em 2017, os pobres ficaram mais pobres e os ricos, mais ricos, o que fez aumentar a diferença de renda entre as duas pontas.
Os 10% mais pobres, que viviam com R$ 217,63 por mês, em média, em 2016, viram esse valor cair para R$ 198,03 em 2017. Isso representa uma redução de 9%.
Na outra ponta, os ganhos dos 10% mais ricos subiram 2,09% de 2016 para 2017, chegando a R$ 9.519,10 ao mês, em média.
As contas consideram o efeito da inflação no período.
"Os 10% mais ricos, contudo, são bastante desiguais entre si", diz o relatório. "Dos mais de 12 milhões de brasileiros que têm renda nessa categoria, 75% ganham até 20 salários mínimos [R$ 17,8 mil em 2017] de renda tributável. Por outro lado, o grupo de cerca de 1,2 milhão de pessoas que compõem o 1% mais rico do país tem rendimentos médios superiores a R$ 55 mil ao mês".
Ainda segundo a Oxfam, a renda mensal média do 1% mais rico era 36,3 vezes maior que a dos 50% mais pobres.
Desigualdade parou de cair
O nível de desigualdade, que vinha caindo havia mais de uma década, ficou estagnado, segundo a Oxfam. Para medir isso, o levantamento considera o índice de Gini de renda per capita, uma medida da concentração de renda que vai de zero a um. Quanto maior o índice, mais concentrada é a renda e mais desigual é o país.
O índice de Gini ficou estável entre 2016 e 2017, estagnado em 0,549. O indicador vinha de uma sequência de quedas anuais ininterruptas que durou de 2002 a 2015.
"O país estagnou em relação à redução das desigualdades, e quem está pagando essa conta são os mesmos de sempre: as pessoas em situação de pobreza, a população negra e as mulheres", disse, em nota, a diretora-executiva da Oxfam Brasil, Katia Maia.
Negros ganham menos
O relatório da Oxfam também aponta a desigualdade de gênero e raça no país, de forma geral e nas diferentes faixas de renda. Em 2017, a renda média dos negros foi de R$ 1.545,30, enquanto a dos brancos alcançou R$ 2.924,31 --quase o dobro.
Considerando apenas os 50% mais pobres, em 2017, a média geral da renda dos brancos era R$ 965,19, enquanto negros dessa faixa recebiam R$ 658,14. Nesse período, negros pobres ficaram ainda mais pobres, com redução de 2,5% de renda, enquanto brancos, pelo contrário, tiveram um aumento de quase 3% de renda.
Entre os 10% mais ricos, brancos ganhavam R$ 13.753,63, enquanto negros desse mesmo grupo, R$ 6.186,01 por mês em média. Nesse grupo, tanto brancos quanto negros viram seus ganhos aumentarem, mas num ritmo maior para os brancos: +17,35% (brancos) contra +8,10% (negros).
Mulheres ganham menos
A Oxfam também apontou aumento da desigualdade de renda entre homens e mulheres nos últimos dois anos.
Segundo dados do IBGE, mulheres ganhavam 72% do que ganhavam homens em 2016, proporção que caiu para 70% em 2017, no primeiro recuo em 23 anos. Em 2017, a renda média de mulheres era de R$ 1.798,72, enquanto a de homens era de R$ 2.578,15.
No grupo dos 50% mais pobres, enquanto houve perda de 2% nos rendimentos dos homens, entre as mulheres desse grupo a perda foi maior, de -3,7%.
Entre os 10% mais ricos, homens tiveram quase 19% de aumento em seus rendimentos entre 2016 e 2017, enquanto mulheres viram seus rendimentos médios aumentarem apenas 3,4%.
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