Logo Pagbenk Seu dinheiro rende mais
Topo

País deve abrir a economia, mas não pode matar indústria, diz analista

Antonio Temóteo

Do UOL, em Brasília

22/01/2019 07h22

O Brasil é uma das economias mais fechadas do mundo ao comércio internacional, avaliou o antigo Ministério da Fazenda em relatório publicado em dezembro de 2018. O diagnóstico é compartilhado pelo governo Bolsonaro, que ganhou as eleições com a promessa de abertura comercial e participa nesta semana do Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça). 

Especialistas dizem que é importante abrir mais a economia, mas com cuidado, por causa dos custos do Brasil e da dificuldade de competir com o exterior. "A redução de tarifas de importação pode matar a indústria nacional, se não for feita com cuidado", disse o economista José Luis Oreiro, professor da UnB (Universidade de Brasília).

Brasil perdeu posições no comércio exterior

Em 1948, a participação do Brasil das exportações globais (2%) era maior do que a soma das vendas para países estrangeiros de China (0,9%) e México (0,9%), segundo dados da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Entretanto, em 2017, os chineses alcançaram uma fatia de 13,2% das exportações globais, os mexicanos de 2,4% e a do Brasil encolheu para 1,3%. Com isso, a China é o maior vendedor de produtos e serviços do mundo, e o Brasil apenas o 26º.

"O Brasil é uma das economias mais fechadas do mundo. E isso é verdade. E o critério que se utiliza para chegar a essa conclusão é o percentual que as correntes de comércio ocupam em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro", disse um técnico da equipe econômica.

O mesmo técnico declarou que uma das missões da equipe econômica é criar um ambiente favorável para que a soma das importações e exportações passe dos atuais 22% do PIB para 30% até o fim de 2022.

Tarifas de importação também são um problema

Das dez maiores economias do mundo, somente duas não estão entre as que mais fazem negócios com outros países. E o Brasil é uma delas.

"Queremos atacar o enclausuramento da economia brasileira seja pela ótica do aumento da corrente de comércio, seja pela ótica da diminuição da tarifa média de importação dos mais diferentes setores", disse.

Atualmente, os compromissos assumidos pelo Brasil com a OMC garantem que a Tarifa Externa Comum (TEC) sobre produtos agrícolas pode chegar a 55%, e, para industrializados, a 35%.

Em média, essas tarifas chegam a 14%, mas o valor ainda é superior aos praticados em outras economias, conforme o mesmo técnico do governo.

Produzir no Brasil é caro e reduz competitividade

O presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior o Brasil), José Augusto de Castro, afirmou que a economia brasileira é fechada em relação aos demais países porque não resolveu problemas estruturais internos. "Produzir no Brasil é caro. Isso reduz a competitividade", disse.

Castro declarou que, enquanto as maiores economias do mundo têm um fluxo comercial (a soma de exportações e importações) que equivale entre 40% e 50% do PIB, no Brasil a compra e venda de produtos para o exterior equivale a 22%.

"Não aumentamos o nível de exportação porque estamos em um país caro. Em 2000, 25% de tudo de que se exportava ia para os Estados Unidos. Hoje são 12%. Dos dez produtos mais exportados naquele ano, dez eram manufaturados. Atualmente, são apenas cinco, e o restante são commodities", declarou.

Reformas são solução para reduzir custos, diz AEB

Para o presidente da AEB, o Brasil precisa fazer o dever de casa para se tornar uma economia mais aberta. Ele afirmou que reformas estruturantes, como a da Previdência e a tributária, são essenciais para atrair capital e reduzir a burocracia.

Investimentos em infraestrutura também são fundamentais para melhorar o escoamento de produtos.

Além disso, o Brasil possui tarifas de exportação elevadas em comparação com os demais países do mundo, segundo Castro. Ele afirmou ainda que a redução dessas barreiras deve ser acompanhada da redução de custos para os industriais.

Redução de tarifas pode quebrar indústria

O economista José Luis Oreiro, da UnB, afirmou que o grau de abertura das economias é calculado pela soma das exportações e importações dividida pelo PIB. Ele declarou que o Brasil deve ser comparado com economias semelhantes, como a dos Estados Unidos.

"A Bélgica, por exemplo, tem exportações que chegam a 120% do PIB. Mas é um país pequeno, e boa parte da produção é exportada. Temos um mercado interno forte, mas quando comparamos com os Estados Unidos, temos um grau de abertura menor", disse.

Oreiro afirmou que o aumento da participação do setor de serviços na economia nos últimos anos explica o baixo nível de abertura comercial do Brasil. Segundo ele, o setor não é intensivo em exportação.

"Se quisermos aumentar o grau de abertura comercial temos que estimular o desenvolvimento industrial, principalmente com a exportação de manufaturas. Nesse contexto, a redução de tarifas de importação tem que ser feita com cuidado", disse.

O economista declarou que os custos de produção no Brasil são mais elevados, diante da baixa oferta de mão de obra qualificada, carga tributária e problemas logísticos. "A redução de tarifas de importação pode matar a indústria nacional. Isso precisa ser feito com cuidado", afirmou.

Fórum Econômico Mundial reúne políticos e empresários

UOL Notícias