Indicação política e recuperação financeira: quem é o presidente da Vale?
Fazia pouco mais de um ano e meio do rompimento de uma barragem da mineradora Samarco, à beira da cidade de Mariana (MG), quando Fabio Schvartsman assumiu o comando da Vale, dona da Samarco ao lado da anglo-australiana BHP Billiton.
Agora, Schvartsman enfrenta a sua própria crise ambiental à frente da empresa depois do rompimento de outra barragem da Vale, em Brumadinho (MG), na última sexta-feira (25) --com o agravante de ser uma reincidência e ter um saldo de mortes muito maior.
Em dezembro, seu mandato foi renovado por mais dois anos. O governo estaria tentando mudar a direção da Vale após a tragédia.
O cuidado com o meio ambiente e a restauração de Mariana vinham fazendo parte importante das declarações públicas de Schvartsman. Foi ele quem assumiu as negociações com a sócia BHP sobre o futuro da Samarco, que segue com as operações paralisadas desde o acidente de novembro de 2015.
"Mariana nunca mais", segundo funcionários e analistas que acompanham a empresa, era um dos lemas que ele colocou para a companhia logo quando assumiu, em maio de 2017.
Em sua gestão, houve melhora nos resultados financeiros da Vale, que vinha de anos de endividamento alto. Tentou também aliviar a ex-estatal da fama de sofrer controle do governo. Conseguiu a simpatia de analistas e investidores.
Indicação teve influência política, segundo relatos
A escolha de Schvartsman como presidente da Vale não esteve livre de influências políticas. O nome passou antes pela chancela do então presidente Michel Temer e teria sido uma indicação do senador mineiro Aécio Neves --em uma das gravações feitas pelos irmãos donos da JBS, Joesley e Wesley Batista, Aécio negocia pagamentos e afirma que fez a indicação do novo presidente da Vale.
A conversa, gravada em março de 2017, aconteceu três dias antes do anúncio do nome de Schvartsman. Segundo a Vale, que se posicionou à época, a escolha de seu novo presidente foi independente e profissional, comandada por uma empresa especializada em recrutamento (a Spencer Stuart) e definida pelo conselho de administração da empresa.
Currículo forte, bons resultados e lua de mel com o mercado
Com passagem por empresas importantes como Klabin e Ultra, Schvartsman é tido pelo mercado como um executivo altamente experiente, comprometido com resultados e, desde o início, foi um nome bem recebido para comandar uma das maiores mineradoras do mundo.
"Além de reduzir a dívida da empresa, a geração de caixa também aumentou, e as métricas financeiras da companhia ficaram muito melhores", disse o analista-chefe da corretora Necton, Glauco Legat. Os níveis de investimentos, incluindo em manutenção, também melhoraram, segundo Legat. "Se pegar uma foto financeira da Vale há três anos, em Mariana, e hoje, a situação é muito mais positiva agora."
Boa parte da melhora foi sorte: enquanto produtos básicos como o minério de ferro vendido pela Vale viviam seus piores anos da década em 2015 e 2016, os anos que vieram depois foram de recuperação de preço e das vendas no mercado internacional.
Mas o currículo forte e o perfil técnico de Schvartsman também contaram a favor: presidia desde 2011 a fabricante de papel e celulose Klabin, onde também ajudou a jogar os resultados para cima.
Engenheiro de produção formado pela Universidade de São Paulo e com pós-graduação em administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas, Schvartsman acumulou ainda no currículo uma passagem de dez anos pela Duratex e outros 22 no grupo Ultra, dono da Ipiranga e Ultragaz, de onde saiu em 2007 como sócio-diretor.
Privatização com peso estatal
A grande expectativa quando o nome de Schvartsman foi anunciado para a Vale, porém, no início de 2017, foi a de um nome forte do setor privado capaz de suavizar a influência do governo que, para muitos, a Vale nunca deixou de ter mesmo depois de sua privatização, em 1997.
Fundos de pensão de estatais e a BNDESPar, braço de investimentos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), estão entre os maiores acionistas da companhia, além de o governo federal possuir golden share na mineradora, o que lhe dá direito a veto nas decisões.
Murilo Ferreira, que antecedeu Schvartsman no comando da Vale, era apontado como indicação da ex-presidente Dilma Rousseff. Seu antecessor, Roger Agnelli, morto em 2016, havia feito carreira como executivo do Bradesco antes de chefiar a Vale por quase dez anos.
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