Feijão carioca sobe 81% só neste ano e volta a ser vilão do supermercado
O feijão carioca voltou a ser um vilão para o bolso dos brasileiros. O preço do produto subiu 81,5% só nos dois primeiros meses deste ano, de acordo com dados da inflação oficial divulgados hoje pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Somente em fevereiro, a alta foi de 51%.
Em meados de 2016, o feijão já havia sido um dos vilões da inflação e chegou até a inspirar memes nas redes sociais.
Em 2019, o aumento foi generalizado, mas pior em algumas regiões do país. Por exemplo, o preço do feijão carioca mais que dobrou para moradores de Campo Grande (123%), Aracaju (115%) e Belém (104%). Na capital baiana, local onde o IBGE registrou o menor avanço, o aumento foi de 56% nos dois primeiros meses do ano.
Veja a variação do preço do feijão carioca nas regiões pesquisadas pelo IBGE neste ano:
- Campo Grande: +123,78%
- Aracaju: +115,62%
- Belém: +104,96%
- Rio Branco: +97,24%
- Recife: +91,12%
- Fortaleza: +88,20%
- Belo Horizonte: +88,05%
- Brasília: +87,95%
- Goiânia: +83,23%
- São Luís: +79,26%
- São Paulo: +75,21%
- Vitória: +70,92%
- Curitiba: +67,91%
- Salvador: +56,35%
Só em fevereiro, o preço do produto aumentou 51,58% no país. Campo Grande (82%) e Aracaju (78%) foram as capitais que registraram as maiores altas no último mês.
Quando preço deve cair?
De acordo com Marcelo Eduardo Lüders, presidente do Ibrafe (Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses), os preços devem continuar em alta até meados de abril, quando começarão a cair. "É quando muda a safra e começa a ser vendida a nova, com preços menores."
Para driblar essa alta, o consumidor deve pesquisar preços em diferentes lugares. Em São Paulo, o UOL identificou variação de quase 100% de um supermercado para outro, com preços de R$ 6,29 a R$ 10,50 o quilo.
Aumento maior que o esperado
Tradicionalmente, por causa da sazonalidade da safra, é esperado que o preço do feijão carioca aumente nos primeiros meses do ano. Em 2019, no entanto, a alta foi maior do que o esperado. Para Lüders, isso se deve a uma combinação de três fatores:
- diminuição histórica da área de plantio
- estiagem no Sul e no Sudeste em dezembro e janeiro
- desequilíbrio entre produção e consumo
Lüders apontou ainda que, a cada ano, mais produtores têm preferido plantar soja em vez de feijão, tanto por causa da procura quanto por razões sanitárias, relacionadas às doenças nas plantações. Com isso, há menos feijão sendo produzido no país, o que também contribui para a alta do preço.
Só brasileiro quer feijão carioca
Entre 60% e 70% da produção nacional de feijão é da variedade carioca, preferida na mesa dos brasileiros. Por outro lado, somos os únicos consumidores dessa variedade, que não encontra mercado em outros países.
"Estamos em um beco sem saída com o feijão carioca. Produzimos 23 milhões de toneladas por ano e o brasileiro consome muito, mas é só ele. Então, não existe escape: quando sobra, é o produtor quem quebra, porque não há para onde exportar. Nenhum outro país no mundo consome feijão carioca", disse Lüders.
Segundo ele, nos últimos dois anos, o produtor vendeu o feijão carioca abaixo do custo para não ficar com produto encalhado. "É um grande desestímulo para a produção."
Uma solução, disse Lüders, seria apostar em outras variedades de feijão. "Levantamos a bandeira de diversificar a produção com variedades que possam ser exportadas, como rajado, vermelho e branco. Dessa forma, caso sobre no mercado interno, temos para quem vender. Caso falte, também é possível importar."
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