Governo não sobe salário, mas cria penduricalhos para militar ganhar mais
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) entregou ontem ao Congresso Nacional a proposta de reestruturação da carreira dos integrantes da Forças Armadas, e membros do governo repetiram várias vezes que o texto não prevê aumento de soldo, como é chamado o salário dos militares.
Por outro lado, o projeto de lei prevê o reajuste de alguns adicionais já existentes, cria adicionais novos e estende aos inativos o pagamento de gratificação de quem está na ativa. Veja abaixo alguns desses "penduricalhos" que podem aumentar a remuneração dos militares.
Adicional de habilitação
Esse adicional já existe e é pago aos militares que fazem os cursos específicos criados para as carreiras. A proposta é aumentar o percentual, variando de 12% até 71%. Isso deve ser feito gradualmente nos próximos quatro anos, segundo o governo.
No caso de um general, por exemplo, corresponde a 30% do salário atualmente e equivale a um doutorado. Com a proposta de reestruturação, chegaria a 73%.
O que o governo diz
"Isso contribui para o incentivo à capacitação e serve como fator de valorização da meritocracia, de forma a estimular o aperfeiçoamento, concorrendo para a atração e retenção de profissionais cada vez mais capacitados", diz o governo.
Adicional de disponibilidade
O projeto de reestruturação das carreiras dos militares prevê o pagamento de um "adicional de disponibilidade militar" mensal a partir de 1º de janeiro de 2020. O porcentual iria de 5% até 41% sobre o salário, sendo maior quanto mais alta a patente do militar.
Esse adicional é novo e não poderá ser acumulado com o de tempo de serviço, extinto em 2001.
O que diz o governo
O governo argumenta que a disponibilidade permanente é a "peculiaridade" da profissão militar, que deixa o militar de prontidão "a qualquer tempo" para ser deslocado e atuar na defesa do país. Segundo o documento, o adicional "é inerente à disponibilidade permanente e à dedicação exclusiva".
Ajuda de custo ao ser transferido para a reserva
A ajuda de custo é uma indenização paga ao militar quando ele passa para a inatividade remunerada, para a transferência da família e dos bens. Atualmente chega a quatro salários, pagos em uma parcela. O texto propõe dobrar essa indenização, para até oito salários, pagos em única parcela.
O que diz o governo
Segundo o Ministério da Defesa, a ajuda pretende compensar os gastos dos militares ao se mudarem e fixarem residência com a família.
Gratificação de representação
Essa gratificação, que corresponde a 10% do salário, já é paga para oficiais generais que são chefes de unidades. Se o projeto for aprovado, oficiais que hoje estão na reserva também passarão a receber o adicional.
Integralidade e paridade
Os militares, os policiais militares e os bombeiros que entrarem na carreira poderão ir para a reserva com o último salário da ativa. Eles também continuarão com a paridade, recebendo os mesmos reajustes concedidos aos trabalhadores da ativa. Esses benefícios foram extintos para os servidores públicos civis em 2003, mas continuam em vigor para os militares.
O que diz o governo
Segundo o assessor especial do Ministério da Defesa, general Eduardo Castanheira Garrido Alves, as peculiaridades da carreira militar justificam a manutenção da integralidade e da paridade. "O que acontece é que [em 2001] nos foi imposto um achatamento salarial. O conceito de inatividade [ir para a reserva] não é de Previdência. Então, continua recebendo a mesma remuneração", disse Alves.
(Com agências de notícias)
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