'Fizemos ajuste fiscal em cima de quem não pagava imposto', diz Haddad

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta quarta-feira (4) que a estratégia de ajuste fiscal teve como foco os contribuintes que não pagavam impostos no Brasil, o que contribuiu com o desenvolvimento da economia. "Por dez anos, uma série de grupos econômicos se apropriaram do ajuste fiscal", declarou em entrevista ao Em Ponto, da GloboNews.

O que aconteceu

Haddad destacou o ajuste fiscal focado nos "campeões nacionais". O ministro conta que o tema foi alvo de divergências no governo. "Nós não adotamos nenhuma visão nem a outra. A nossa visão foi de que o ajuste fiscal era importante, mas tinha que ser, pela primeira vez na história do Brasil, feito em cima de quem deixou de pagar impostos", explicou.

Foram quase 2% do PIB a menos de arrecadação em virtude desses campeões nacionais que se apropriaram do orçamento. Ninguém sabia que eles eram beneficiados. O que nós fizemos? Abrimos a caixa preta, todo mundo ficou sabendo quais grupos econômicos se apropriaram do Orçamento e nós passamos a combater os chamados jabutis.
Fernando Haddad, ministro da Fazenda

Medida evitou prejuízo ao crescimento econômico, diz Haddad. Para o ministro, a decisão de centralizar o ajuste nos grupos que recebiam benefícios fiscais evita uma retração do PIB (Produto Interno Bruto). "Quando você faz o ajuste sobre os mais pobres, você derruba o consumo e o investimento", avaliou ele.

Ministro comemorou desempenho da atividade econômica. Ele entende que o atual momento positivo como reflexo das políticas de ajuste das contas públicas. "O Brasil está crescendo com baixa inflação, nós somos o segundo país do mundo que mais cresceu no segundo trimestre de 2024", destacou. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o PIB brasileiro avançou 1,4% no segundo trimestre, ante os três meses anteriores. Na comparação anual, a alta foi de 3,3%.

PIB nacional aumentará ao menos 2,5% em 2024, garante o ministro. Ao destacar a projeção de crescimento do FMI (Fundo Monetário Internacional), Haddad afirmou que não pode ter uma projeção menos otimista. "É daí para mais. O Brasil não tem razões para crescer menos do que a média mundial, que tem sido em torno de 3%", reforça ele, que também projeta avanço de 2,6% do PIB em 2025.

Brasil caminha para recuperar o grau de investimento, avalia Haddad. Ele destacou que as principais agências de classificação de risco elevaram a nota de crédito do Brasil após a posse do presidente Lula e a aprovação do arcabouço fiscal. "Elas continuarão aumentando a nossa nota de crédito e o Brasil tem todas as condições de voltar a ter grau de investimento", destacou.

Reforma da Previdência

Haddad recacha a possibilidade de uma mudança geral no sistema de aposentadorias. A discussão, que ganha força com o envelhecimento populacional, é descartada pelo ministro da Fazenda. "O que tem no Congresso Nacional, já aprovada pelo Senado, é uma reforma que estende a reforma dos regimes especiais para estados e municípios", diz. Para ele, trata-se de uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que põe ordem nas contas municipais.

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O ministro afirma que ações do governo Bolsonaro esconderam rombo da Previdência. Segundo Haddad, a estratégia adotada entre 2018 e 2022 para cumprir o teto de gastos resultou no atraso da concessão de benefícios, o que resultou em uma "pilha de precatórios" e "economia fictícia". "Houve uma série de distorções que precisam ser corrigidas", afirma.

O governo anterior aprovou uma PEC do Calote para pagar só em 2027. Isso não é ajuste fiscal. É maquiagem, é fantasia. Não é nem contabilidade criativa, é crime conta a população, em primeiro lugar de baixa renda, e contra a governança fiscal do país.
Fernando Haddad, ministro da Fazenda

Juros

Evitou comentar o eventual aumento da taxa básica de juros. Haddad afirmou que o governo já nomeou quatro dos nove diretores do Copom (Comitê de Política Monetária) e disse "não ser elegante" avaliar os próximos passos da polícia monetária. "Eu confio muito na capacidade técnica das pessoas que estão à frente do Banco Central".

Temos que cada vez mais harmonizar a política fiscal e monetária para continuar crescendo com baixa inflação.
Fernando Haddad, ministro da Fazenda

Haddad afirma que nomeação de Galipolo para o BC foi "um acerto". Ele comenta que o atual diretor de política monetária está "muito gabaritado" para assumir a presidência do Banco Central no lugar de Roberto Campos Neto após passar um ano na autarquia. "Ele transitou pela política, pela técnica dentro do Banco Central, pelo ministério da Fazenda, veio do mercado financeiro e conhece os players", avaliou Haddad.

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