Bolsonaro não telefona a Trump; medida de taxação não preocupa, diz Araújo
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não telefonou para o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para tratar da retomada da taxação de importações de aço e alumínio brasileiros, informou hoje o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.
A medida, que também afeta a Argentina, foi anunciada hoje pelo presidente dos Estados Unidos via Twitter, e pegou o governo brasileiro de surpresa.
Segundo o ministro, a iniciativa anunciada não preocupa o governo brasileiro e o momento é de entendê-la. Ele afirmou que ainda não procurou ninguém nos Estados Unidos e quem que está a cargo das tratativas são os diplomatas em Washington D.C., capital norte-americana.
"Por enquanto, não [Bolsonaro não ligou]. Por enquanto, estamos num nível técnico no sentido de entender as medidas. [...] Sim [sem retaliar]. Vamos conversar, entender a medida. Como eu digo com toda a tranquilidade, não estamos, de forma nenhuma, apurados com isso. [O momento é de] avaliar o impacto, avaliar exatamente o tipo de medida que os Estados Unidos estão pensando", disse.
Araújo disse que a situação poderá ser vista com mais clareza ao longo dos próximos dias e o governo brasileiro sabia que o setor "desde o ano passado preocupava os americanos".
Segundo apurou o UOL, porém, a possibilidade da retomada de taxação não foi tratada com o ministro da Economia, Paulo Guedes, quando este esteve em Washington D.C. na semana passada, e foge do clima da visita.
O governo brasileiro está em contato com a Casa Branca, o departamento de comércio e o departamento de Estado, equivalente ao Ministério das Relações Exteriores, além de entidades ligadas à indústria impactada. Parlamentares norte-americanos também estão sendo contatados.
Questionado se o anúncio abala a relação entre os dois países, Araújo classificou a relação como 'dinâmica" e disse haver "diversas coisas que conseguimos" na atual gestão. Como exemplo, citou o acordo de salvaguarda de tecnologia na Base de Alcântara, no Maranhão.
O acordo permite aos Estados Unidos lançarem satélites com fins pacíficos no local e estabelece que apenas pessoas designadas pelas autoridades dos Estados Unidos terão acesso aos artefatos com tecnologia norte-americana. O país detém 80% do mercado espacial e teme espionagem. Em contrapartida, o Brasil receberá pagamento pelo uso do espaço.
Araújo acrescentou que o anúncio da taxação adicional "não nos tira do trilho" para uma relação mais profunda com os norte-americanos.
Um ponto fundamental no diálogo do governo brasileiro com os norte-americanos é negar a existência de uma manipulação cambial para que o real sofra desvalorização perante o dólar, argumentação utilizada por Trump.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos, tem defendido que o real não tem apresentado um comportamento atípico em relação a moedas de outros países emergentes e flutua de acordo com o mercado internacional e fatores geopolíticos, especialmente em referência ao freio causado pela guerra comercial entre Estados Unidos e China.
O governo brasileiro também argumenta que a exportação de aço e alumínio brasileiros já é limitada apesar do alívio da sobretaxa imposta a outros países e o mercado norte-americano é dependente dos produtos do Brasil.
O Brasil ressalta que o país é o maior exportador de semiacabado aos Estados Unidos, sendo 89% das vendas nessa modalidade do produto. Ao mesmo tempo, lembra ser o maior importador de carvão metalúrgico dos Estados Unidos - transação de mais de R$ 1 bilhão, segundo fonte do governo brasileiro à reportagem - e ajuda a sustentar a economia de estados pobres norte-americanos, como West Virginia.
Em nota, o Instituto Aço Brasil afirmou ter recebido a medida anunciada por Trump com "perplexidade" e classificou-a como "retaliação ao Brasil, que não condiz com as relações de parceria entre os dois países". O instituto reforçou que o câmbio no país é livre, sem interferências governamentais.
"Por último, tal decisão acaba por prejudicar a própria indústria produtora de aço americana, que necessita dos semiacabados exportados pelo Brasil para poder operar as suas usinas", encerrou.
As declarações do ministro Ernesto Araújo foram dadas após evento no Palácio do Planalto para lançar campanha publicitária em comemoração ao Dia Internacional do Voluntariado. A ideia é incentivar os brasileiros a serem "solidários e voluntários".
Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, não quiseram falar com a imprensa.
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