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Trump quer retomar tarifas sobre aço e alumínio de Brasil e Argentina

Donald Trump discursa em Nova York - Tom Brenner/Reuters
Donald Trump discursa em Nova York Imagem: Tom Brenner/Reuters

02/12/2019 08h21

Resumo da notícia

  • Donald Trump disse que retomará imediatamente tarifas sobre importações de aço e alumínio do Brasil e da Argentina
  • "Brasil e Argentina têm promovido forte desvalorização de suas moedas, o que não é bom para nossos fazendeiros", tuitou
  • Jair Bolsonaro afirmou, também hoje, que pode conversar com o presidente dos Estados Unidos
  • "Vou falar com o Guedes. Alumínio? Se for o caso, ligo pro Trump, eu tenho um canal aberto com ele", disse Bolsonaro

WASHINGTON/SÃO PAULO (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta segunda-feira que irá retomar imediatamente tarifas norte-americanas sobre importações de aço e alumínio do Brasil e da Argentina.

"O Brasil e a Argentina têm promovido uma forte desvalorização de suas moedas, o que não é bom para nossos agricultores. Então irei, imediatamente, retomar as tarifas sobre todo aço e alumínio embarcado para os EUA a partir desses países", escreveu Trump no Twitter.

Ele também pediu que o Federal Reserve impeça que países tomem vantagem econômica com a desvalorização de suas moedas.

O presidente Jair Bolsonaro afirmou que não vê como retaliação o anúncio de Trump e reiterou que, se for necessário, vai ligar para o presidente norte-americano.

"Vou conversar com ele para ver se não nos penaliza com a sobretaxa no preço do alumínio. A alegação dele, no Twitter dele, é a questão das commodities, a nossa economia basicamente vem das commodities, é o que nós temos. Espero que tenha o entendimento dele, que não nos penalize no tocante a isso, e tenho quase certeza de que ele vai nos atender", acrescentou Bolsonaro.

Apesar disso, duas fontes do governo brasileiro questionaram o argumento usado por Trump. "Ele fez uma matemática complicada e uma equação que não fecha...No Brasil, não manipulamos o câmbio", disse a primeira fonte. "No Brasil, o câmbio é flutuante e não há manipulação como Trump diz. Mas ele é muito imprevisível e acho que eleições lá estão ditando decisões", avaliou a segunda fonte.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reforçou nesta segunda-feira mensagem de que a autoridade monetária não atua no mercado visando patamares específicos para o dólar, frisando que o câmbio é flutuante e que intervenções só ocorrem em caso de disfunções do mercado. Desde as mínimas de outubro, a moeda dos EUA acumula valorização de 5,68%.

Ao serem questionadas sobre possíveis retaliações do Brasil aos EUA, as duas fontes disseram que a hora é de esperar e analisar os fatos antes de se tomar qualquer medida.

Já o Ministério de Relações Exteriores da Argentina informou que iniciará negociações com o governo dos EUA após a decisão de Trump.

Procurado, o Instituto Aço Brasil (IABr), que representa os produtores da liga no país --entre eles Gerdau, Usiminas e CSN-- afirmou que recebeu com "perplexidade a decisão de Trump". "O câmbio no país é livre e a decisão de taxar aço brasileiro como forma de compensar o agricultor americano é uma retaliação ao Brasil, que não condiz com as relações de parceria entre os dois países", afirmou a entidade, acrescentando que a decisão de Trump "prejudica a própria indústria de aço americana, que necessita dos semiacabados exportados pelo Brasil".

Segundo o IABr, que cita dados do sistema de monitoramento de importações de aço dos EUA, o volume de aço semiacabado brasileiro enviado ao país atingiu 2,99 milhões de toneladas de janeiro a setembro deste ano. Já os embarques de produtos acabados somaram cerca de 391 mil toneladas.

Em comparação, em todo o ano de 2018, o volume de importações de semiacabados de aço do Brasil pelos EUA somou 3,55 milhões de toneladas e o de acabados foi de 433,5 mil toneladas, afirmou o IABr, citando também os dados do sistema de monitoramento norte-americano. As exportações totais de produtos de aço do Brasil para o mundo somaram 13,94 milhões de toneladas no ano passado, o equivalente a 8,9 bilhões de dólares, segundo dados da entidade.

Analistas do JP Morgan afirmaram que não consideram "material para Gerdau, Usiminas e CSN" a taxação norte-americana. "O volume destinado pelas três principais companhias do setor (destinado aos EUA) já estava muito baixo e, em nossa visão, não é material."

Apesar disso, os analistas citaram que a Ternium, que tem uma grande usina siderúrgica instalada no Rio de Janeiro, "pode ser mais afetada por conta de suas exportações de placas para os EUA".

As ações da Gerdau fecharam em alta de 2,65%, em meio a avaliações de que a imposição de novas tarifas poderá elevar preços do aço no mercado norte-americano, onde a empresa brasileira tem uma importante operação. Usiminas teve alta de 2% e CSN disparou 5,7% em meio a anúncios de reajustes de preços de aço no Brasil. O Ibovespa encerrou em alta de 0,6%. Os papéis da Ternium, em Nova York, recuaram 2%.

Também procurada, a associação de produtores de alumínio do Brasil, Abal, afirmou que desde 1º de junho do ano passado as exportações brasileiras de produtos de alumínio para os EUA são sobretaxadas. "Esse acerto foi ratificado no ano passado com governo Trump, quando este abriu a possibilidade de substituir a sobretaxa por cotas limitadas de exportação. Na época, optamos pela sobretaxa e seguimos assim desde então", afirmou a Abal.

Segundo a Abal, o Brasil exportou de janeiro a outubro deste ano 119,5 mil toneladas de produtos de alumínio, das quais 52 mil para os EUA. Desse volume, 47 mil toneladas pagaram a sobretaxa de 10%.

(Com reportagem adicional de Pedro Fonseca e Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro, Alberto Alerigi Jr, Paula Arend Laier e Aluísio Alves, em São Paulo)