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Henrique Meirelles diz que Brasil não pode viver apenas de Bolsa Família

Do UOL, em São Paulo

02/12/2019 23h50

Ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles defendeu ações complementares —como a criação de empregos e o lançamento de programas sociais— para a diminuição da desigualdade no Brasil, mas afirmou que o país não pode viver apenas de Bolsa Família.

A declaração ocorreu ao ser questionado por um repórter se faltaram ações para combater a desigualdade social em sua gestão.

"No período em que eu estive no Banco Central, criamos mais de dez milhões de empregos e mais de 50 milhões de pessoas cruzaram a linha de pobreza para cima", defendeu-se, durante participação no "Roda Viva", da TV Cultura, hoje à noite.

"Agora, naquele tempo, foi criada também uma série de programas de proteção social, como o Bolsa Família. É uma questão importante e complementar. Tem que se fazer uma política que leve ao crescimento, mas apenas um mecanismo de proteção social não resolve. Até porque você não pode ter um país vivendo de Bolsa Família, inclusive porque não há recurso para isso", completou.

No livro "História Contada do Banco Central do Brasil", Meirelles afirma que a Constituição de 1988 é "extremamente generosa na concessão de benefícios".

Confrontado, Meirelles explicou que a frase se referia à concessão de benefícios previdenciários ou para o servidor público. "Então, as duas coisas mostram que esses benefícios sociais privilegiam apenas uma elite. A melhor política social que existe é a criação de empregos", apontou.

Sem reforma, "poderíamos estar pior do que hoje"

Meirelles foi um dos principais defensores da reforma trabalhista, aprovada em julho de 2017, ainda na gestão do governo Michel Temer.

Ao sancioná-la, Temer repetiu o que disse durante toda a tramitação da proposta: que a reforma era indispensável para a criação de empregos. O então ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, chegou a dar um número: 2 milhões de vagas em 2018 e 2019. Não é o que está acontecendo.

Questionado, Meirelles defendeu a aprovação da reforma e afirmou que, se não tivesse acontecido, poderíamos estar até pior do que estamos hoje. (Veja o vídeo acima)

"Evidentemente, estamos falando das condições macroeconômicas do país: falamos da reforma da Previdência, investimento, nível de confiança, falamos de uma série de coisas que influenciam no crescimento econômico. A reforma trabalhista é parte desse processo. Possivelmente com mercado de trabalho complicado, se não tivesse havido a reforma trabalhista, poderíamos estar até um pouco pior do que estamos hoje", justificou o ex-ministro.

"Não penso em candidatura"

Atualmente secretário da Fazenda em São Paulo, Meirelles se esquivou de pergunta sobre possível candidatura à prefeitura, na capital paulista, no ano que vem.

"Eu não trabalho com hipóteses. Nós trabalhamos com resultados concretos, não trabalhamos olhando em dados abstratos. [O que] procuro fazer é trabalhar olhando a minha função atual, desempenhar bem meu trabalho. Esta é a melhor solução, inclusive para qualquer coisa no futuro. Não estou pensando em candidatura. Hoje estou concentrado no meu trabalho, é muito cedo para ficar especulando o que fazer", disse. (Assista ao vídeo acima)

Henrique Meirelles presidiu o Banco Central no governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em 2018, foi candidato a presidente pelo MDB e investiu R$ 57 milhões na própria campanha, de acordo com dados divulgados pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Acabou em sétimo lugar.

"O que houve nas eleições de 2018 na verdade foi uma polarização. Ou as pessoas queriam votar no PT ou não, queriam votar contra. E aí o Bolsonaro já estava bem colocado, com o episódio da facada ele subiu bastante. Essa polarização levou a esse resultado. Dentro dessa situação, eu considerei esse resultado esperado", avaliou.

Neste ano, a convite do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), Meirelles assumiu a Secretaria da Fazenda e Planejamento do estado. Em sua opinião, o tucano está no caminho certo para pavimentar uma candidatura a presidente em 2022.