Comércio em shopping não cresceu e pode não gerar emprego, diz associação
Resumo da notícia
- Ritmo de vendas no varejo está mais lento que esperado e há incertezas para 2020, diz presidente da Ablos
- Entidade representa lojas independentes e é dissidência da Alshop, de grandes redes de varejo
- Comércio deve encerrar 2019 com o terceiro ano de crescimento consecutivo, mas ainda em ritmo insuficiente, diz IBGE
As vendas do varejo durante a Black Friday em 2019 criaram uma expectativa falsa de recuperação do setor para o fim do ano, mas acabaram "roubando" negócios dos lojistas no Natal e Ano Novo. É o que diz o presidente da Associação Brasileira dos Lojistas Satélites, Tito Alcântara Bessa Junior. Para ele, a prova de que a atividade econômica está caminhando mais lentamente do que o imaginado está nos dados de varejo divulgados pelo IBGE relativos a novembro.
O executivo afirmou que o comércio em shopping ainda não cresceu de uma forma que justifique cravar que haverá aumento de emprego no setor em 2020.
Mesmo com a Black Friday, o crescimento das vendas ficou abaixo do esperado. O avanço de 0,6% na comparação mensal foi menor que as projeções dos analistas ouvidos pela agência de notícias Reuters, que esperavam 1,1% de ganho. Na comparação anual, o varejo brasileiro cresceu 2,9%, também menos que o projetado pelos economistas (+ 3,8%).
Dissidência entre lojistas
A Ablos representa 95 marcas e foi criada em abril do ano passado, como uma dissidência da Alshop (Associação Brasileira de Lojistas de Shopping), de 1994. Segundo Bessa, a separação ocorreu exatamente porque a Alshop não representava os interesses dos lojistas satélites, mas apenas das grandes redes de varejo.
O empresário entrou em atrito com a Alshop algumas vezes desde o ano passado, questionando dados de pesquisa segundo a qual as vendas de Natal em 2019 teriam crescido 9,5% sobre a mesma data no Natal. "Não são dados confiáveis e não correspondem à nossa realidade", diz Bessa. Mas a Ablos não tem levantamento próprio para contestar os números.
A Ablos voltou a contestar números de pesquisa, dessa vez questionando a Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers), que reúne as donas dos shopping centers.
Veja abaixo os principais trechos da entrevista:
UOL - Porque a briga com outra entidade de varejo?
Tito Bessa Jr - Em razão de acreditar que não existe uma associação que nos represente (as lojas satélites) e tendo em vista o tamanho que nosso segmento representa em shoppings centers. Criamos uma associação que tivesse como propósito e missão olhar para o nosso segmento e tentar ajustar algumas diferenças que julgamos serem necessárias para nossa sobrevivência.
Como tem sido a adesão?
Atualmente temos 95 marcas associadas que juntas passam de 5.000 pontos de vendas. Acredito que, por ser uma associação nova, com apenas 10 meses de existência, podemos dizer que tem sido um sucesso.
A Ablos é gerida e dirigida por lojistas que sentem na pele as dores do dia a dia, e isso é uma das nossas forças quanto à nossa credibilidade. Não temos qualquer outro interesse que não seja melhorar nosso dia a dia, não visamos lucros individuais, e sim coletivos.
Por que questionam os dados da Alshop?
Porque não são dados confiáveis e não correspondem à nossa realidade. Divulgaram algo baseado em previsões como sendo real. A Alshop não pode se dizer representante de lojistas de shoppings e sair divulgando algo que não ocorreu.
Não existia outra entidade, mas agora existe a Ablos, e toda vez que alguém publicar algo que não corresponda à realidade dos lojistas vamos contestar. Só assim podemos ajudar a mudar algo, com a verdade e não apenas com expectativas.
Seria maravilhoso se realmente tivéssemos crescido assim, mas infelizmente não ocorreu e acreditamos que tudo esteja caminhando para uma retomada que talvez ainda demore um pouco mais que gostaríamos.
A Alshop informou por nota que "tem credibilidade fruto dos resultados de um trabalho focado em geração de negócios, atuando em prol do varejo com importantes conquistas ao longo do tempo"
Então como foram as vendas de 2019?
Não temos algo concreto para divulgar, não fazemos pesquisas mensais e este também não é nosso foco. Temos alguns dados que são informados informalmente pelos nossos associados, mas acredito que quem possa dizer algo com precisão são os institutos especializados neste tipo de avaliação e até mesmo as adquirentes de cartão, afinal por elas passam 90% das transações do varejo.
E qual o cenário para 2020?
As expectativas são de uma melhora com relação a 2019, mas ainda é cedo para dizer que vamos ter um 2020 de recuperação. O final de 2019 assustou um pouco, foi abaixo das expectativas e acredito que a Black Friday, por ter ocorrido no último fim de semana de novembro, tenha roubado a venda de dezembro. E criou uma expectativa falsa de recuperação das vendas.
Aliás, temos que repensar essa data para o varejo, pois o ideal seria que ocorresse um pouco mais afastada de dezembro, talvez setembro, outubro, algo a ser pensado.
Teremos expansão da rede de lojas em 2020?
É algo muito particular de cada operação. Para quem está capitalizado, este momento é o melhor para uma expansão. Mas para aqueles que não se equilibraram ainda, acredito que a expansão não deva estar no radar.
Então não dá para adiantar que teremos abertura de empregos no setor?
Para gerar emprego precisamos de crescimento e para crescimento precisamos de melhores condições ou igualdade de condições. Enfim, só haverá retomada de emprego se houver crescimento, algo óbvio.
Acredito que por parte do governo me parece que as coisas estão sendo encaminhadas neste sentido. Agora precisamos que os outros integrantes da cadeia também façam sua parte.
Um exemplo: nossos aluguéis hoje estão acima do que conseguimos suportar em muitas operações. Precisamos que haja um equilíbrio nesta conta e menos privilégios a determinados setores.
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