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Bilionário diz que crise faz "grandiosa" distribuição de renda e muda mundo

Raymond Dalio, da Bridgewater Associates - Lucy Nicholson/Reuters
Raymond Dalio, da Bridgewater Associates Imagem: Lucy Nicholson/Reuters

Fernanda Ezabella

Colaboração para o UOL, em Los Angeles (EUA)

20/04/2020 04h00

"Não há nada de novo aqui", acredita Ray Dalio, 70, criador da Bridgewater Associates, maior administradora de hedge funds do mundo. O megainvestidor americano vê similaridades da situação econômica atual com o período da Grande Depressão e diz que tudo vai passar, ainda que o resultado seja "um mundo muito diferente, uma nova ordem mundial".

Numa série de conversas online organizadas pelo TED, na semana passada, Dalio falou sobre o impacto e as formas de recuperação da crise global causada pelo novo coronavírus, em perdas que estima ao redor de US$ 20 trilhões.

Ainda que esteja levemente mais pessimista que otimista, ele acredita que existe uma chance de tirar algo positivo do momento econômico, como uma reestruturação saudável do sistema, além de uma "imperfeita, porém grandiosa" distribuição de riquezas.

Dalio fundou a Bridgewater Associates em 1975, em Nova York, e hoje o fundo de alto risco administra cerca de US$ 160 bilhões.

Estamos num daqueles momentos decisivos que já vimos se repetir muitas vezes ao longo da história. É um grande teste de estresse que acontece a cada 75 anos. O mundo será reestruturado. Não vai voltar ao que era antes, e tudo bem.
Ray Dalio, megainvestidor

Quando a pandemia diminuir, ele prevê o começo da negociação de como será paga a conta dos pacotes de estímulo multitrilionários. "Veremos, então, se vamos conseguir resolver isso com consideração e sacrifício mútuos, ou se iremos brigar", disse. "Se fizermos de maneira inteligente e com consideração, será ótimo. Caso contrário, será terrível."

Grande transferência de riqueza

Ele comparou a crise atual com a Grande Depressão (1929-1945), iniciada nos EUA com a queda drástica das Bolsas de Valores e encerrada após a Segunda Guerra Mundial.

Ambos períodos compartilham altas taxas de desemprego e retração econômica de 10%, com os governos imprimindo dinheiro, zerando taxa de juros e programas de resgate parecidos. "É a mesma estrutura. Não é uma recessão, é um colapso", disse.

"O Federal Reserve [banco central dos EUA] está comprando os títulos do Tesouro, e o Tesouro está levando esse dinheiro para a maioria dos americanos, de uma maneira imperfeita, mas grandiosa [...]. Há uma tremenda transferência de riqueza acontecendo, independentemente de as pessoas perceberem ou não, com toda essa produção de dinheiro emprestado. Isso será uma grande força."

Com a retração da globalização, países emergentes devem ficar de fora, assim como comunidades fora do círculo de apoio formado pelos governos. "Muitas pessoas não vão ser ajudadas. Em períodos assim, as vulnerabilidades de um país são as oportunidades de outros."

Quatro pilares da reconstrução econômica

Segundo os quatro pilares de recuperação econômica de Dalio, que neste ano lançou o livro "Princípios para o Sucesso" (ed. Intrínseca), será preciso austeridade com corte de gastos, reestruturação ou perdão de dívidas, redistribuição da riqueza e impressão de dinheiro.

"Essas são as ferramentas básicas que vimos ao longo da história. E devemos ver uns dois ou três anos desse processo", falou.

E, então, você precisará reconstruir, e para isso será necessário criatividade. A maior força da humanidade é seu poder de adaptação e inventividade.
Ray Dalio, megainvestidor

Por isso, ele prevê que os grandes vencedores da crise serão aqueles que souberem se adaptar melhor e inovar, além das indústrias essenciais, como produtores de comida.

Como bom capitalista, ele diz que acredita no sistema e que é possível aumentar o bolo para dividi-lo bem. Porém, também acha que reformas são necessárias e a atual reestruturação pode ajudar no combate à desigualdade social, principalmente através de investimentos na educação.

"Essas reformas precisam criar produtividade e não significam apenas dar dinheiro. Significa: como fazer as pessoas mais produtivas?", disse. "A ideia de que o sistema de lucro pode resolver tudo não é certa. Porque a alocação de recursos é direcionada àqueles que têm o recurso. O sistema funciona para quem controla o sistema."

Mais difícil que medalha olímpica

Com a pandemia, a Bridgewater Associates também foi atingida com perdas. No começo do ano, a casa recomendou aos investidores se beneficiar da alta dos mercados, mas foi pega pelo tsunami econômico do coronavírus em fevereiro. O carro-chefe da firma, o fundo Pure Alpha II, perdeu cerca de 20% no primeiro trimestre.

Ter sucesso nos mercados é mais difícil que conseguir uma medalha de ouro nas Olimpíadas. Você não pensa em competir nas Olimpíadas, mas todo mundo pensa que pode competir nos mercados. Nós colocamos centenas de milhões de dólares no jogo todos os anos. É duro.
Ray Dalio, megainvestidor

Dalio diz que todo investidor individual precisa entender que não será capaz de jogar o jogo bem, ou seja, não vai conseguir acertar a melhor hora de entrar ou sair do mercado. "O que ele precisa saber é diversificar bem", disse, citando diferentes classes de ativos, países e moedas.

"Pense um pouco de maneira não convencional", disse. "Tem um pouco de ouro? Caso o sistema monetário quebre, e o dinheiro seja redefinido."