Gasolina fica 10% mais barata, e carne cai 6% na pandemia de coronavírus
Nem todos os preços têm subido em meio à epidemia da covid-19 no Brasil. Diferentemente da cesta básica, alguns produtos têm passado por uma queda nos preços desde meados de março, quando a maioria dos estados começou a adotar regime de quarentena.
Impulsionado pela epidemia, os motivos são os mais variados: o fechamento de restaurantes impacta no valor das carnes nobres; o mercado internacional, no preço da gasolina; a queda na demanda, nos laticínios; e a preocupação com o desemprego, nos bens duráveis. Veja os produtos que caíram de preço no último mês e por quê.
Gasolina
O preço da gasolina na refinaria já caiu mais de 50% desde o início do ano. Impactada pelo mercado internacional —que, por sua vez, foi impactado pela pandemia— a Petrobras já fez dez cortes no valor só em 2020.
A queda é reflexo do mercado internacional, que, em meio à diminuição de demanda no mundo inteiro e uma guerra comercial entre Arábia Saudita e Rússia no primeiro trimestre, viu o preço do barril despencar.
Na bomba, no entanto, a queda foi bem menor. Segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo), neste mesmo período, o preço médio de revenda no Brasil caiu pouco mais de 10%.
De acordo com Murilo Barco, diretor comercial da Valêncio Consultoria Combustíveis, para chegar ao valor da bomba, devem-se somar impostos, custos de distribuição e logística, variação do etanol anidro (27% do combustível final) e a diminuição do consumo no posto.
"Os postos hoje estão com o produto antigo, por isso a demora de refletir na bomba", diz o consultor.
Frutas, legumes e verduras
O segmento de frutas, legumes e verduras foram "os grandes campeões de deflação" em março, com as cinco maiores quedas de preço em relação ao mês anterior, de acordo com a Apas (Associação Paulista dos Supermercados).
Gustavo Melo, presidente da Abracen (Associação Brasileira das Centrais de Abastecimento), afirma que a queda no segmento não é reflexo do aumento do preço dos produtos no começo da epidemia.
"Alguns produtores puxaram os preços de algumas frutas e verduras para cima. Agora, os valores estão abaixo do que estava sendo praticado no começo, mas, em termos de valor histórico, continua o mesmo", explicou o presidente da Abracen por meio de porta-voz.
Esta estabilização aconteceu também com outros produtos. "[No começo da epidemia,] o consumidor antecipou as compras e abasteceu o estoque. Frutas, proteína animal e outros produtos tiveram pico [no meio de março] e, desde então, vêm reduzindo. O leite, por exemplo, deu um pico de 30%, já recuou 15% e a tendência é reduzir ainda mais. O mercado é muito elástico, funciona pela oferta e demanda", explica Ronaldo dos Santos, presidente da Apas.
Carnes
Peças de carne bovina, suína e frango também tiveram queda desde o início da epidemia. Uma das causas foi o fechamento de churrascarias e restaurantes. Outro ponto é a redução de consumo por queda no poder aquisitivo ou por receio de isso acontecer.
Para Fernando Henrique Iglesias, consultor especialista em proteína animal da consultoria Safras & Mercado, apesar de a carne bovina já vir de uma queda desde o início do ano, após o pico atingido pela exportação para a China, a queda é reflexo direto da quarentena e da instabilidade econômica.
"Churrascarias e restaurante representam uma parcela significativa desse mercado, e não estão funcionando de maneira plena. Isso mexe com a demanda, em especial por cortes nobres. Além disso, querendo ou não, há encolhimento de renda, a incerteza do consumidor é maior. Neste cenário, ele opta ou por não comprar proteína animal ou por uma opção mais barata", afirma Iglesias.
Laticínios
O leite e seus derivados também apresentaram queda no mês de abril ao sair da indústria.
Segundo o zootecnista Rafael Ribeiro, analista da Scot Consultoria, a redução é reflexo de queda na demanda, gerada pela quarentena, em um momento de entressafra, quando o preço deveria subir.
"Mais de 99% do mercado de leite é doméstico, não tem via de escoamento externo como a soja. Depois daquela corrida aos supermercados [no meio de março], que deu uma puxada nos preços, ele vem caindo. Isso faz com que, mesmo na entressafra, o preço baixe", afirmou o analista.
Além disso, nos derivados, como manteiga, o fechamento de restaurantes também impacta. "O food service tem um peso muito grande para estes produtos."
Bens duráveis
Sem poder sair de casa e preocupado com a situação econômica do país, o brasileiro coloca bens duráveis, como máquina de lavar, geladeira, fogão e carro novo, em segundo plano, o que fez os preços caírem um pouco: 0,77% em março em relação ao mesmo mês do ano passado.
Segundo André Braz, coordenador do IPC (Índice de Preços do Consumidor) da FGV/Ibre, esses produtos já vinham em queda desde janeiro, dado o "desemprego elevado", mas caíram mais ainda em meio à incerteza econômica gerada pela epidemia.
"Mesmo com a desvalorização cambial, repassar aumento para essas coisas está muito difícil porque há uma grande incerteza no ar. Quem está empregado tem medo de perder o emprego amanhã, então não está se endividando em longo prazo, e quem já perdeu o emprego não tem capacidade para se endividar", avalia o economista.
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