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'Vamos subir em cadáveres para arrancar recursos?', questiona Guedes

Do UOL, em São Paulo

15/05/2020 17h57Atualizada em 16/05/2020 08h51

Paulo Guedes, ministro da Economia de Jair Bolsonaro (sem partido), criticou hoje os parlamentares e oposicionistas que, segundo ele, têm tentado "subir em cadáveres para arrancar recursos do governo" em meio à pandemia do novo coronavírus e as mortes causadas pela covid-19.

"A reconstrução de um país leva anos. Passamos um ano e meio tentando reconstruir. Quando estamos começando a decolar, somos atingidos por uma pandemia. Vamos aproveitar de um momento desse, da maior gravidade de uma crise de saúde, e vamos subir em cadáveres para fazer palanque? Vamos subir em cadáveres para arrancar recursos do governo?", questionou.

"Isso é inaceitável, a população não vai aceitar. A população vai punir quem usar cadáveres como palanque", completou o ministro.

O Brasil registrou hoje mais 15.305 casos confirmados da covid-19 e chegou a 218.223 no total. O número de mortes atualizado, por sua vez, é de 14.817, com 824 óbitos confirmados nas últimas 24 horas. A taxa de letalidade é de 6,8%. Outras 2.300 mortes ainda estão em investigação.

Além de Guedes, o pronunciamento de hoje também contou com os ministros Damares Alves (Mulher, Família e dos Direitos Humanos), Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo da Presidência).

Segundo Damares, a ideia inicial da coletiva dos ministros era "celebrar" os 500 dias do governo Bolsonaro, mas a urgência do assunto coronavírus mudou a pauta. Porém, eles insistiram na preocupação com a paralisação de serviços e de parte da economia.

Dentro deste argumento, Paulo Guedes disse que não é hora de pedir aumento de salário a policiais ou médicos que "vão às ruas para exercer sua função" e afirmou que o governo não deve "dar medalhas antes da batalha".

"Queremos saber o que podemos fazer de sacríficio pelo Brasil nessa hora, e não o que o Brasil pode fazer por nós. E as medalhas são dadas após a guerra, não antes da guerra. Nossos heróis não são mercenários. Que história é essa de pedir aumento de salário porque um policial vai à rua exercer sua função ou porque um médico vai à rua exercer sua função?", disse.

"Se ele trabalhar mais por causa do coronavírus, ótimo, ele recebe hora extra. Mas dar medalha antes da batalha? As medalhas vêm depois da guerra, depois da luta. O Brasil forte, erguido", acrescentou o ministro.

"Na hora em que estamos fazendo esse sacrifício, que o gigante caiu, o Brasil está no chão, é inaceitavel que tentem saquear o gigante que está no chão, que usem a desculpa da crise da saúde para saquear o Brasil na hora que ele caiu", reclamou Guedes.

Ele justificou as decisões de tratar algumas atividades como "serviços essenciais" em meio à pandemia, citando, especificamente, o caso do setor da construção civil.

"Na construção civil tem 55 mil pessoas trabalhando, recebendo protocolos de como trabalhar, máscara, distanciamento durante o periodo de trabalho, informação... E o resultado são menos de 100 mortes. São 100 em estado grave e 10 mortes, com 55 mil pessoas trabalhando", relatou, sem se aprofundar na natureza destes números.

"O que significa que se houver um protocolo eficiente, vivendo cinco, seis ou sete pessoas em um pequeno espaço confinado, a probabilidade da infecção ali é maior do que se ele estiver no trabalho, bem cuidado, bem informado e sendo testado. Porque é teste e tratamento. Testou, está bom? Segue trabalhando. Está ruim? Tratamento", completou.

Ministro compara Brasil aos EUA duas vezes

Ao longo do pronunciamento, Paulo Guedes comparou o Brasil aos Estados Unidos em duas passagens diferentes. Na primeira vez, o ministro da Economia disse que seu governo fez melhor trabalho para conter o desemprego do que o país norte-americano.

"Os americanos nas últimas cinco semanas demitiram 26 milhões de pessoas, e o Brasil perdeu menos de um milhão de empregos e preservou, registrados, 7,5 milhões de empregos com esse programa nosso", celebrou.

Posteriormente, Guedes citou o auxílio-emergencial de R$ 600 pago a parte da população no momento em que muitos serviços foram paralisados em função do isolamento social e da luta contra o coronavírus.

Ele comparou a ajuda dada pelo governo brasileiro ao que tem sido feito nos Estados Unidos —segundo o ministro, que não apresentou provas, o "cheque (de auxílio aos mais vulneráveis) ainda não chegou" para a maior parte da população americana.

"Foram 40 milhões de brasileiros digitalizados em duas ou três semanas, o dinheiro chegando. Enquanto isso, nos Estados Unidos, o cheque não chegou ainda para a maior parte da população, no país mais avançado e mais rico do mundo. E nós aqui sendo apedrejados enquanto lutamos em defesa do país", defendeu-se.

Guedes diz que pandemia 'era maldição e virou bênção'

De acordo com o ministro, o "meteoro" da pandemia do novo coronavírus deveria ser uma "maldição", mas acabou se tornando uma "bênção": Paulo Guedes afirmou que houve aumento das exportações de produtos agrícolas e minérios.

"O Brasil é a única economia do mundo que está aumentando as exportações. O que era uma maldição virou um bênção. Foi uma maldição ficar 20, 25 anos fora das cadeias produtivas globais. Nós estávamos dormindo enquanto o mundo estava se integrando e avançando. Foi uma maldição. mas, curiosamente, no momento em que o meteoro atinge o Brasil com essa pandemia, o que era maldição vira bênção. As cadeias produtivas estão rompendo e o Brasil está vendendo produtos agrícolas e minérios", disse.