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iFood chega a dobrar a taxa de entrega; restaurantes temem perder vendas

Carla Araújo e Claudia Varella

Do UOL, em Brasília, e colaboração para o UOL, em São Paulo

19/05/2020 04h00Atualizada em 19/05/2020 14h01

O iFood, aplicativo que liga bares e restaurantes a clientes e tem registrado alta nas vendas durante a pandemia de coronavírus, anunciou um reajuste nas taxas de entrega no último dia 15. A taxa de entrega no raio de 2 quilômetros do restaurante subiu de R$ 3,99 para R$ 7,99 (o dobro do preço). Para distâncias acima de 7 quilômetros subiu de R$ 11,99 para R$ 13,99 (alta de 17%), segundo mensagem enviada a alguns restaurantes.

Segundo o iFood, os valores de entrega são "variáveis" e houve aumento para alguns, mas redução para outros. "Desde esta sexta-feira (15/05), alguns parceiros tiveram diminuição e outros, aumento. Os valores acompanharão o dinamismo do mercado, levando em consideração fatores, como, por exemplo, cidade e raio de entrega. Desta forma, é possível manter o nível de serviço e de pedidos para todos os restaurantes", afirmou a plataforma.

ifood - Reprodução - Reprodução
Mensagem enviada pelo iFood
Imagem: Reprodução

Questionada se o reajuste seria repassado aos entregadores, a empresa afirmou que "os valores das rotas são calculados usando fatores como, por exemplo, a distância percorrida, a cidade e o dia da semana". De acordo com o iFood, em abril, 61% dos entregadores receberam R$ 19 ou mais por hora trabalhada, "valor quatro vezes maior do que o pago por hora tendo como base o salário mínimo".

"Estes foram responsáveis por 75% dos pedidos. De acordo com levantamento da empresa, os ganhos médios mensais dos entregadores que têm a atividade de entregas como fonte principal de renda aumentaram 36% em abril quando comparado a fevereiro", afirmou a empresa.

50% do preço da refeição

A dona de um restaurante self-service na Asa Norte, em Brasília, disse que o reajuste irá impactar os custos para os clientes e, por tabela, seu negócio.

O cliente que pede um prato não quer pagar esse valor de frete, que, muitas vezes, equivale a 50% do preço da refeição. Isso vai impactar no bolso do consumidor e, indiretamente, no meu. Já tenho muita reclamação do valor da taxa atual. Imagina com esse aumento. Muitas pessoas vão desistir do pedido.
Dona de restaurante em Brasília

Ela preferiu não se identificar porque, mesmo indignada com o iFood, depende do aplicativo para continuar sobrevivendo em meio à pandemia. Ela tem o restaurante há 15 anos e só agora optou pelo delivery. "Por causa da pandemia, optei pelo delivery nessa plataforma para girar o negócio, pois houve redução de 85% no faturamento", afirmou.

Além de entregadores do iFood (que são pagos com as taxas cobradas dos clientes do aplicativo), ela mantém dois motoboys próprios, que fazem entrega ao custo de R$ 5 a R$ 7, dependendo da distância. "Justamente por ter entregadores próprios, eu sei exatamente que essas taxas do iFood são muito caras", declarou.

Quase dobra valor, e isso afasta clientes

Na pandemia, o restaurante Metta, no Itaim Bibi, zona oeste de São Paulo, teve um aumento de 40% nas vendas via iFood, segundo a proprietária, Marcella Vallone. No entanto, ela teme que o aumento do valor das taxas de entrega possa impactar o seu negócio.

"Nossos clientes, que ficam num raio de até três quilômetros do restaurante, podem achar cara essa taxa e desistir do pedido", afirmou Marcella, que recebeu o comunicado do iFood sobre o reajuste das taxas.

A maioria dos nossos clientes vinha a pé ao restaurante para almoçar. Com a pandemia, eles passaram a pedir pelo aplicativo. Mas, agora, a taxa de entrega, que era de R$ 3,99, vai passar a quase R$ 7. É praticamente o dobro, e isso é um valor alto.
Marcella Vallone, dona de restaurante no Itaim Bibi, em São Paulo

Reajuste seria justo se empresa estivesse em dificuldade

"Até entenderia o aumento nos custos se fosse de um fornecedor em dificuldades. Mas do iFood, não. Com a crise, o iFood está conquistando mais parceiros e clientes na sua plataforma. Ou seja, está ganhando nas duas pontas", afirmou Mirany Soares, dona da Formaggio Mineiro, que fabrica pão de queijo e tem cinco lojas físicas em São Paulo.

Mesmo operando com entregadores próprios, Mirany disse que decidiu entrar no iFood no início de abril para poder ampliar a base de clientes durante a pandemia. "Mas as vendas no aplicativo não são significativas", disse.

Para ela, o aumento do valor da entrega pelo iFood não deve impactar seus negócios, já que pouco vende pelo aplicativo. Pelo iFood, os preços dos produtos da Formaggio Mineiro são 10% mais altos para cobrir os custos do app, diz a dona.

O forte da Formaggio Mineiro continua sendo o delivery próprio. São 13 entregas por dia, em média, em cada uma das cinco lojas. O delivery é gratuito para entrega num raio de até quatro quilômetros. Acima disso, o valor cobrado é de R$ 2,70 por quilômetro. Os produtos têm os mesmos preços que nas lojas.

Pequenos podem acabar fechando as portas

A dona de uma doceria na zona oeste de São Paulo, que prefere não ter seu nome divulgado, viu as vendas crescerem 30% após aderir à plataforma do iFood, em maio. Em quatro dias, foram 30 pedidos só pelo aplicativo. Ela disse estar preocupada, pois o aumento da taxa de entrega do app pode levar seus clientes a desistirem da encomenda.

Na atual situação [de pandemia], acho que todos deviam se ajudar. Se o iFood não pensar nos pequenos, eles vão quebrar, fechar as portas.
Dona de doceria em São Paulo

Aberta em 2012, a doceria não tem loja física e trabalhava apenas com encomendas de bolos e doces para grandes festas. Com a pandemia, que fez com que muitos eventos fossem cancelados ou adiados, as encomendas caíram praticamente a zero.

"Por exemplo, cliente meu que tinha uma festa para cem pessoas programada teve que cancelar o evento e, para comemorar a data, acabou encomendando apenas um bolinho e poucos doces para celebrar em família", disse ela. Ou seja, uma encomenda de R$ 1.500 virou outra de R$ 130.

iFood diz ter medidas de proteção

Desde o início da pandemia, o iFood afirma que destinou mais de R$ 14 milhões em medidas de proteção aos entregadores. Em março, a plataforma criou um fundo de R$ 2 milhões para ajudar entregadores com sintomas ou infectados por covid-19 e para aqueles que fazem parte do grupo de risco.

Outras ações destacadas pela empresa incluem distribuição de kits de higiene com álcool em gel, máscaras e materiais informativos, plano de serviço em saúde, descontos no iFood Delivery de Vantagens, gorjeta em dobro, seguro de vida, além do desenvolvimento do recurso de entrega sem contato. As vantagens incluem descontos em serviços como por exemplo, óleo para moto e manutenção, seguro para moto, artigos eletrônicos e plano de vantagens em saúde.

Sobre o volume de pedidos, desde o início de suas operações, a empresa vem crescendo constantemente e, embora "a demanda tenha aumentado durante o período de pandemia, a empresa tem colocado grande parte da receita em iniciativas de proteção do ecossistema de food delivery (entregador, restaurante e cliente), que é a sua prioridade neste momento".

Após o UOL publicar esta reportagem, o iFood pediu a inclusão de uma nota com mais informações sobre a empresa. Clique aqui para ler a nota da companhia, na íntegra.