Fabricante de rum oferece apoio psicológico a barmen durante pandemia
Preocupada com a paralisia das atividades e o isolamento social, a fabricante de rum Bacardi decidiu colocar psicólogos à disposição de barmen e funcionários de casas noturnas que promovem a marca no Brasil.
"Foi um feeling nosso: os bartenders estavam desamparados, sem perspectiva, bebendo em excesso —entre outras coisas. Com as medidas de isolamento, acabaram ficando isolados mesmo", disse o embaixador da Bacardi no país, Marcello Gaya, que procurou 120 profissionais para a iniciativa. "Muitos deles não precisavam de ajuda financeira, mas estavam deprimidos e ansiosos. Então, resolvemos dar esse auxílio para eles manterem a sanidade."
Desde o dia 18 de abril, dois psicólogos, de São Paulo e Balneário Camboriú (SC), estão realizando sessões semanais e individuais, por Skype, com 40 bartenders que aceitaram a ajuda. O atendimento estava, previsto para durar dois meses, mas foi prorrogado até julho. "Procuramos psicólogos que já faziam parte da comunidade de bartenders", afirmou Gaya.
Ansiedade, tremedeira e taquicardia
O psicoterapeuta catarinense Douglas Felcar, 32, é um deles. Ele já havia atendido gente que trabalha em casas noturnas na cidade famosa pelo agito das baladas no verão.
"O bartender geralmente vive de madrugada, tem o fuso horário trocado e dorme durante a manhã", relatou. Segundo ele, o maior problema enfrentado pelos cinco pacientes que está atendendo em função da Bacardi é a ansiedade tóxica. "O problema piora por causa do isolamento. Não é uma doença, mas provoca tremedeira e taquicardia, impedindo as ações do dia a dia", afirma.
Uma pesquisa feita pelo Convention & Visitors Bureau de Balneário Camboriú apontou que, em abril, 21% do pessoal de hotelaria, bares e restaurantes foi demitido, com projeção de chegar a 50%, em decorrência da covid-19.
Alcoolismo é um risco
Com experiência de dez anos em restaurantes, a catarinense Carol Gencer, 33, passou a sofrer crises de ansiedade após se ver isolada e sem trabalho. "Como já tratei a ansiedade antes, sabia como funcionava", disse a profissional, que frequentou uma década de terapia para aliviar pressões do trabalho: "A gente lida diretamente com o público e vive situações que causam um cansaço físico e mental muito grande".
O barman Cabral (nome fictício), 40, diz que a doença mais perigosa para os bartenders é o alcoolismo. "É uma doença feia. Nos encontros do setor, é um dos assuntos mais discutidos. A Bacardi percebeu que boa parte do pessoal está se acabando", disse o paraibano que mora em São Paulo e trabalha há 20 anos no ramo de bares.
Dependente de álcool há dez anos, ele já perdeu dois empregos, quando começou a beber no trabalho, e passou a frequentar reuniões dos Alcoólicos Anônimos (A.A.), que foram suspensas por causa da covid-19.
Curso online de vídeos
Além de oferecer apoio clínico, a Bacardi também disponibilizou um curso online sobre a produção de vídeos caseiros para 200 profissionais. Outros quatro cursos sobre coquetelaria estão em fase de desenvolvimento. A companhia disse que pretende conceder ajuda financeira aos bartenders, mas não deu detalhes.
Mundialmente, a empresa está produzindo cerca de 1,1 milhão de litros de álcool em gel, nas suas destilarias, para dar suporte logístico à luta contra o novo coronavírus —iniciativa que, no Brasil, utiliza a fábrica da cachaça Leblon, em Patos de Minas (MG).
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